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Título: Para além da imaginação histórica: memória, morte, phantasia
Autor: Bernardes, Joana Duarte 
Orientador: Catroga, Fernando
Palavras-chave: Teoria da História; Operação Historiográfica; Phantasia; Morte; Memória; Imaginação
Data: 22-Dez-2014
Citação: BERNARDES, Joana Duarte - Para além da imaginação histórica : memória, morte, phantasia . Coimbra : [s.n.], 2014. Tese de doutoramento. Disponível na WWW: http://hdl.handle.net/10316/26544
Resumo: “Historia vero testis temporum, lux veritatis, vita memoriae, magistra vitae, nuntia vetustatis, qua voce alia, nisi oratories, immortalitati commendatur?” (Que voz, a não ser a do orador, pode confiar a História, que é verdadeiramente a testemunha dos tempos, a luz da verdade, a vida da memória, a mestra da vida, a anunciadora dos tempos passados, à eternidade?). Esta é, possivelmente, a mais conhecida definição de História. Dá-no-la Cícero, no seu De Oratore, ligando, assim, a emergência dos estudos sobre o passado à dimensão da prova e, por conseguinte, à também emergência da retórica e da medicina gregas. A consolidação da escrita vem não apenas reafirmar a necessidade de registar (também) tudo o que não pode ser esquecido, como misturar-se na própria concepção platónica da anamnese como traço, bem como na teoria aristotélica da recordação como pathos. Daqui resultará um registo sobre os acontecimentos que estará sob o signo da visão e do cuidado, assumindo, assim, um carácter que, se não é ainda o da busca da verdade, é já o da preservação da memória contra o esquecimento. É neste limiar que encontramos Heródoto e Tucídides, firmes na sua intencionalidade de impedir que o acontecido se perca – mesmo porque, segundo a concepção cíclica do tempo, o acontecido tornar-se-ia acontecimento indefinidamente. E é noutro limiar que podemos dizer que, mediante uma emergência que ganha força com o judaico-cristianismo, a escrita testifica a verdade mediatamente: porque Deus ditara o Verbo e porque o Verbo se faz carne. O limiar da revelação. A ars memoriae, espacializada nos palácios (os lugares) da memória, oferece o espectáculo do homem renascentista como centro projector do seu mundo, em que a luz e o encoberto começam (ou retomam) um lento processo de abertura: o mundo em que a luz serve a metáfora para Mnemósine, pois que dela partia uma possibilidade de conhecimento, ao contrário do que Sócrates previra (por medo de que a verdade mais escondida ficasse). Porém, outra chama existe, ainda que velada e encoberta: a da phantasia, protelada pelo pensamento ocidental em favor da imaginação, facto que, reflexo ainda dos ditames de Niceia, potencia uma excessiva pré-figuração do mundo, abafando o que não se vê porque não fora ainda descoberto. Traçar a ventura e a desventura da noção de phantasia significa, pois, levantar a ilusão a que o tempo a condenou para, enfim, poder dar-lhe lugar na escrita da História – e, portanto, fazer dela lume cognitivo. Pode, pois, nestas condições, ser a história a mestra da vida se o presente intentar figurar o passado sem lhe reconhecer uma ontologia própria e persistir na imposição de imagens que resultam sempre de uma mimese enviesada – que não pode copiar senão o presente? Pode a história ser mestra da vida quando é urgente fazer do ser-para-a-morte um ser que fora da vida? Mais responsável será pensar a escrita da história como “ressurreição”, o que implica a releitura da chamada operação historiográfica, por forma a que a escrita da história possa ser vista como rito tanatológico. Logo, como uma tanatografia de que depende a memória da vida.
Descrição: Tese de doutoramento em Letras, na área científica de História, na especialidade de Teoria da História, apresentada ao Departamento de História, Estudos Europeus, Arqueologia e Artes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
URI: https://hdl.handle.net/10316/26544
Direitos: embargoedAccess
Aparece nas coleções:FLUC Secção de História - Teses de Doutoramento

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