Relatório de Estágio e Monografia intitulada “Contaminação Alimentar por Metilmercúrio: Mecanismos de Patogenicidade"

Abstract

Methylmercury is an environmental pollutant that stands out for its high toxicity and its accumulation in the aquatic food chain. This chemical compound is produced in the aquatic environment through a methylation process mediated by aquatic microorganisms. Thus, the main source of human exposure to this compound is through the consumption of fish that are contaminated, making it a concern for populations with high consumption of fish, as in the case of Portugal, given its extensive coastal area. Exposure to this organic form of mercury seems to influence the correct functioning of the human body, affecting several organs. At the level of the central nervous system, this compound is associated with an impairment in psychomotor development, a fact that can be explained by the depletion of glutathione levels, the binding to sulfhydryl groups, and the decrease in glutamate reuptake and consequent alteration in the homeostasis of the calcium. Regarding the reproductive system, it proves to be a powerful hormonal disruptor, jeopardizing both female and male fertility. Finally, at the cardiovascular level, the ability of methylmercury to inhibit the correct functioning of high-density lipoproteins, associated with the ability to promote the oxidation of low-density lipoproteins, explain its potential to induce atherosclerosis, one of the main causes of death in developed countries. For these reasons, despite fish having a high nutritional value, it is crucial to encourage the population to adopt a balanced diet, trying to avoid fish that may contain a higher content of this environmental pollutant, especially more vulnerable people such as pregnant women and children. The objective is not to discourage the consumption of fish, but that its consumption is done rationally. In this document, a review of the scientific literature on the mechanisms by which methylmercury induces toxicity in the central nervous, reproductive and cardiovascular systems was carried out. Ultimately, preventive therapeutic hypotheses for severe damage induced by this chemical compound are highlighted.

O metilmercúrio é um poluente ambiental que se destaca pela sua elevada toxicidade e pela sua acumulação na cadeia alimentar aquática. Este composto químico é produzido em meio aquático através de um processo de metilação mediado por microrganismos aquáticos. Assim, a principal fonte de exposição humana a este composto é através do consumo de peixes que se encontrem contaminados, tornando-se preocupante em populações com um elevado consumo de peixes, como o caso de Portugal, dada a sua extensa área costeira. A exposição a esta forma orgânica de mercúrio parece influenciar o correto funcionamento do organismo humano, afetando diversos órgãos. A nível do sistema nervoso central, este composto está associado a um comprometimento no desenvolvimento psico-motor, facto que pode ser explicado pela depleção dos níveis de glutationa, pela ligação aos grupos sulfidrilos e pela diminuição da recaptação do glutamato e consequente alteração da homeostase do cálcio. Relativamente ao sistema reprodutivo, demonstra ser um potente desregulador hormonal, colocando em causa tanto a fertilidade feminina como a fertilidade masculina. Por último, a nível cardiovascular, a capacidade do metilmercúrio em inibir o correto funcionamento das lipoproteínas de alta densidade, associada à capacidade de promover a oxidação das lipoproteínas de baixa densidade, explicam o seu potencial em induzir a aterosclerose, uma das principais causas de morte nos países desenvolvidos. Por estes motivos, apesar do peixe ter um elevado valor nutricional, torna-se crucial incentivar a população a adotar uma dieta equilibrada, tentando evitar os peixes que possam conter maior teor neste poluente ambiental, especialmente pessoas mais vulneráveis como as grávidas e as crianças. O objetivo não passa por desincentivar o consumo de peixe, mas que o seu consumo seja feito de forma racional. No presente documento, realizou-se uma revisão da literatura científica relativa aos mecanismos pelos quais o metilmercúrio induz toxicidade no sistema nervoso central, reprodutor e cardiovascular. Em última análise, são evidenciadas hipóteses terapêuticas preventivas para danos graves induzidos por este composto químico.