Perfis e necessidades dos doentes idosos internados num serviço de Medicina Interna

Abstract

O envelhecimento da população é um dos marcos do século XXI, com implicações para toda a sociedade. Também na saúde esta mudança demográfica traz enormes desafios tornando-se fundamental conhecer o doente atual e adaptar os serviços para melhor servir esta população. O presente estudo teve um desenho observacional, retrospetivo, longitudinal, e analisou os doentes com idade igual ou superior a 65 anos, internados num serviço de Medicina Interna no ano de 2019.Foram incluídos 2133 doentes com uma média de idades de 81 anos. Estes doentes foram agrupados em 4 perfis clínicos: perfil A – “doente frágil, dependente nas AVD’s, cronicamente acamado”, perfil B – “doente crónico, internado por exacerbação da doença de base”, perfil C – “doente com diagnóstico de novo com implicações major no futuro” e perfil D - “doente com intercorrência isolada”. Verificou-se que cada perfil tinha características próprias: doentes do perfil A eram mais idosos, muitos eram institucionalizados e tinham elevada percentagem de óbito no internamento e no ano seguinte ao internamento; doentes do perfil B tinham mais comorbilidades, maior consumo de recursos hospitalares e maior percentagem de re-internamento; doentes do perfil C eram mais novos e com menos comorbilidade mas tinham mais protelamento de alta por motivos sociais; doentes do perfil D foram internados principalmente por infeções respiratórias e do trato urinário, com elevado risco de recorrência. Para além da caracterização dos perfis, foram propostos cuidados específicos adequados a cada um: o doente do perfil A necessita de uma revisão clínica com foco no controlo sintomático, tendo em conta o prognóstico; o doente pertencente ao perfil B requer um acompanhamento regular após a alta e ensinos sobre a doença; o doente do perfil C requer uma avaliação sintomática, funcional e social precoce; no doente do perfil D a prevenção da recorrência através da revisão de fatores de risco deve ser o foco.

Aging is a global phenomenon, with implications and challenges for all sectors of society. Health systems must adapt to better serve this population. We present an observational, retrospective, longitudinal study that analysed all patients with 65 or more years admitted to the internal medicine service of a central hospital in 2019.A total of 2133 patients were included with an average age of 81 years. Patients were grouped in 4 clinical profiles: profile A – “frail, dependent, bedridden patients”; profile B – “acute exacerbation of chronic disease”; profile C – “new diagnosis with major implications in functionality or prognostic”; profile D – “acute disease”.Each profile had defining characteristics: profile A patients were older, many of them institutionalized, and died more in hospital or in the year after hospital admission; profile B patients had more comorbidities, medical appointments, emergency department visits and hospital admissions; profile C patients were younger, with less comorbidities and discharge was often delayed because of social motives; profile D patients were mainly admitted for infection, particularly respiratory and urinary tract infections, with a high risk of recurrence and readmission. All profiles were not only characterized but also specifical care was proposed for each one of them: profile A patients need a clinical review focused on symptomatic control given the prognostic; profile B patients need post-discharge regular follow-up; profile C patients require an early symptomatic, functional and social evaluation; and profile D patients need a systematic evaluation of risk factors in order to prevent infection recurrence.