ENFARTE AGUDO DO MIOCÁRDIO EM TEMPOS DE PANDEMIA POR SARS-CoV-2

Abstract

Introdução: A Doença Cardiovascular (DCV) representa um conjunto de distúrbios cardíacose dos vasos sanguíneos com prevalência e mortalidade importantes à escala global. Umadessas patologias é o Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM), que se caracteriza por lesão domiocárdio com necrose em contexto clínico compatível com mecanismo de isquémia. Estepode ser categorizado com base na presença ou ausência de elevação do segmento-ST aoeletrocardiograma (ECG). A infeção por SARS-CoV-2 está associada a um aumento do riscocardiovascular e, simultaneamente, a existência de DCV prévia em doentes que contraemCOVID-19 pode agravar o quadro infecioso. O início do surto pandémico por COVID-19 fezcom que os serviços de saúde fossem forçados a adaptar estratégias com vista a combater atransmissão da doença. Pretende-se realizar uma revisão do impacto da infeção por SARSCoV-2 na epidemiologia e evolução do Enfarte Agudo do Miocárdio, bem como das alteraçõesna gestão do doente com EAM e COVID-19.Metodologia: Foi realizado um levantamento bibliográfico entre dezembro de 2020 e marçode 2021, com recurso às bases de dados PubMed e Cochrane Library e introduzindo asseguintes keywords (em formato MeSH): “COVID-19”, “SARS-CoV-2” e “myocardialinfarction”. Foram selecionadas publicações de revistas com fator de impacto relevante, tendosido considerados como pertinentes 27 artigos.Discussão e Conclusão: Contrariamente ao que seria de esperar, o número de admissõeshospitalares por EAM sofreu uma diminuição significativa após o início do surto pandémicopor COVID-19. Vários estudos sugerem como principal explicação a relutância dos pacientesque experienciam sintomas típicos em se dirigirem ao hospital. Não obstante, a relação causaefeitoentre infeção por SARS-CoV-2 e aumento do risco de EAM é uma realidade e assentana resposta inflamatória sistémica induzida pela infeção viral, que predispõe à ocorrência detrombose microvascular. Um dos mecanismos propostos para explicar esta série de eventosé o fenómeno de exocitose endotelial, como resultado de lesão do endotélio.Para avaliar a presença de lesão miocárdica, o doseamento de troponina cardíaca pode serum instrumento valioso, tal como a ecografia cardíaca, o ECG e a angiografia coronária. Noque diz respeito à gestão do doente com EAM, devem ser tidos em conta vários desafios emcontexto de pandemia, como apresentações tardias de doentes no Serviço de Urgência (SU),erros de diagnóstico, sobrecarga dos sistemas de saúde e a implementação de medidas deproteção contra a transmissão da infeção viral. A Intervenção Coronária Percutânea (ICP)deve manter-se como estratégia de reperfusão de 1ª linha em pacientes com Enfarte doMiocárdio com elevação do segmento-ST (STEMI), com a fibrinólise a ficar reservada paracasos selecionados.Apesar da adaptação dos serviços de saúde à situação imposta pela infeção por SARS-CoV-2, o prognóstico do EAM aparenta ser menos favorável desde o início da “era COVID-19”. Ainvestigação de métodos precisos de diagnóstico e tratamento tendo como alvo a trombosemicrovascular e a definição de estratégias de anti-coagulação profilática ou de anti-agregaçãoplaquetar mais “agressiva” em situações específicas poderá ser útil para otimizar a gestão doEAM em contexto de pandemia.

Introduction: Cardiovascular Disease (CVD) is a group of highly prevalent diseases thatrepresent one of the main causes of mortality worldwide. It is comprised of a variety ofconditions that affect the heart and blood vessels, such as Acute Myocardial Infarction (AMI),which is defined by myocardial damage with necrosis in a clinical setting suggestive ofischemia. AMI can be characterized based on the presence or absence of ST-segmentelevation in the electrocardiogram (ECG). SARS-CoV-2 infection is associated with anincreased risk of cardiovascular comorbidities. Likewise, patients with pre-existing CVD aremore likely to experience more severe manifestations of respiratory infection. The surge of theCOVID-19 pandemic led to changes in health services’ strategies, in order to prevent thetransmission of the disease. The aim of this work is to conduct a review on the impact of SARSCoV-2 infection in the epidemiology and clinical course of AMI, as well as on the managementof patients with AMI and COVID-19.Methods: Bibliographic search in PubMed and Cochrane Library databases, betweenDecember 2020 and March 2021. The following MeSH terms were chosen: “COVID-19”,“SARS-CoV-2” and “myocardial infarction”. The search was narrowed to a group of journalswith a good impact factor. A total of 27 articles were considered to be relevant for the purposeof this work.Discussion and Conclusions: Despite what was expected, the number of admissions forAMI decreased significantly after the surge of the COVID-19 pandemic. Several studiessuggest that the main reason for this finding was patients’ reluctance of going to the hospitaleven when experiencing typical symptoms. Nevertheless, the cause-effect relationshipbetween SARS-CoV-2 infection and an increased AMI risk is real and consists of a viralinfection-induced systemic inflammatory response, which leads to microvascular thrombosis.One of the proposed mechanisms for this series of events is endothelial exocytosis, as a resultof endothelial injury.In order to assess the presence of myocardial injury, several methods might be of great value,such as cardiac troponin values, ECG, echocardiography and coronary angiography findings.As far as patient management is concerned, challenges imposed by the pandemic areimportant to take into consideration, such as patient and system-related delays, misdiagnosis,health services overload and the implementation of measures to prevent the transmission ofthe viral infection. Percutaneous Coronary Intervention (PCI) should remain the preferredreperfusion strategy in patients with ST-Segment Elevation Myocardial Infarction, whilefibrinolysis should be considered only in selected cases.Even though health systems managed to make adjustments as the inception of the pandemicbecame a reality, AMI prognosis has worsened ever since. Future studies targeting thediagnosis and treatment of microvascular thrombosis and the possibility of anti-coagulationprophylaxis or more aggressive anti-thrombotic strategies might prove useful.