Fragilidade e Demência - Mecanismos Causais

Abstract

A fragilidade é um estado intermédio crítico do processo de envelhecimento, com maior risco para eventos adversos relacionados com a saúde, como quedas, incapacidade, hospitalizações e mortalidade. A fragilidade e a cognição podem interagir, acelerando o envelhecimento. A fragilidade pode aumentar o risco de futuro declínio cognitivo e o compromisso cognitivo pode aumentar o risco de desenvolver fragilidade.Propõe-se o conceito de fragilidade cognitiva. A inclusão da cognição em modelos de fragilidade aumenta a capacidade de prever resultados adversos. Esta é uma importante área a investigar, mas ainda não se conhecem bem os mecanismos subjacentes a esta relação ou como estes interagem entre si. Este estudo tem como objetivos, analisar a relação entre fragilidade e declínio cognitivo, bem como os mecanismos fisiopatológicos subjacentes, dos quais destacamos a inflamação, fatores nutricionais, fatores hormonais, fatores cardiovasculares, sarcopenia, fatores metabólicos, fatores psicossociais, neuropatologia, dual tasking e presbiacusia e, possivelmente, determinar qual o mediador mais relevante nesta interação.Elaborou-se uma revisão da literatura com pesquisa nas bases de dados eletrónicas MedLine/Pubmed, Biblioteca do Conhecimento Online (b-on), entre outras, analisando a evolução do estado de arte sobre a temática em estudo.Vários estudos apoiam a fragilidade cognitiva enquanto entidade clínica distinta do conceito de síndrome de fragilidade, embora se constate grande sobreposição entre as duas. Constatou-se que, de entre indivíduos mais velhos residentes na comunidade, diagnosticados com fragilidade, aqueles que manifestaram sinais de compromisso cognitivo ligeiro apresentaram piores resultados, apoiando a fragilidade cognitiva enquanto entidade distinta. Incorporaram-se, nos métodos clínicos para avaliação da fragilidade, medidas da função cognitiva. A fragilidade cognitiva pode ser reversível, pelo que a compreensão da sua fisiopatologia é objeto de investigação prioritário. Tal pode vir a esclarecer mecanismos importantes no desenvolvimento de demência e permitir a criação de estratégias destinadas à sua prevenção secundária. Os mecanismos subjacentes ao aparecimento de fragilidade cognitiva parecem ser vários e diversos, mas não serão mutuamente exclusivos, interagindo de maneira complexa, sendo difícil de apontar um só mediador na relação entre fragilidade e cognição. Foi possível constatar o envolvimento da inflamação em muitos dos mecanismos propostos para explicar o link entre fragilidade e cognição, nomeadamente nos fatores hormonais, cardiovasculares, metabólicos, nutricionais e psicossociais. Importa investigar exatamente como é que os diferentes mecanismos interagem e promovem o aparecimento da fragilidade cognitiva nos indivíduos idosos, para desenvolver ferramentas de diagnóstico mais precisas e estratégias de prevenção e terapêutica mais direcionadas.

Frailty is a critical intermediate state of the aging process, with a higher risk for health-related adverse events such as falls, disability, hospitalizations and mortality. Frailty and cognition may interact, accelerating aging. Frailty may increase the risk of future cognitive decline and cognitive impairment may increase the risk of developing frailty.The concept of cognitive frailty is, therefore, proposed. The inclusion of cognition in frailty models increases its predictive ability of adverse outcomes, so this is an important area to investigate. However, the mechanisms underlying this relationship or how they interact with each other are not well known.This study aims to analyze the relationship between frailty and cognitive decline, as well as the underlying pathophysiological mechanisms, including inflammation, nutritional factors, hormonal factors, cardiovascular factors, sarcopenia, metabolic factors, psychosocial factors, neuropathology, dual tasking and presbycusis, and possibly determine which one of them is the most relevant for this interaction.A literature review was carried out by researching in the electronic databases MedLine / Pubmed, b-on, and others, and an analysis of the state of the art on the referred subject was possible.Several studies support cognitive frailty as a clinical entity distinct from the concept of frailty syndrome, although there is a large overlap between the two. Among older community-dwelling individuals diagnosed with frailty, those who showed signs of mild cognitive impairment had worse outcomes, supporting cognitive frailty as a distinct entity. Measures of cognitive function were incorporated into clinical tools for assessing frailty. Cognitive frailty may be reversible, so the understanding of its pathophysiology is a research priority that may enlighten our knowledge of important mechanisms in the development of dementia and allow the creation of strategies for its secondary prevention.The mechanisms underlying the emergence of cognitive frailty appear to be various and diverse, but they are not mutually exclusive, interacting in a complex way, making it difficult to pinpoint a single relevant mediator in the relationship between frailty and cognition. Inflammation involvement has been found in many of the proposed mechanisms to explain the link between fragility and cognition, namely hormonal, cardiovascular, metabolic, nutritional and psychosocial factors. It is important to investigate exactly how different mechanisms interact to promote the emergence of cognitive frailty in older individuals, in order to develop more accurate diagnostic tools and more targeted prevention and therapy strategies.