Paracetamol e asma em idade pediátrica

Abstract

Desde a segunda metade do século XX que se tem registado um aumento da prevalência de asma, o qual pode ser provocado pela interacção de um conjunto de factores modificados pela susceptibilidade genética. O aumento da prevalência de asma na idade pediátrica, particularmente a partir de 1980, coincidiu com o declínio da utilização de aspirina, devido à sua associação à Síndrome de Reye, e com a ascensão da utilização do paracetamol. Foi já na década de 2000, com o surgimento de várias evidências epidemiológicas, que foi levantada a questão da associação do uso de paracetamol com o aumento da frequência e da gravidade da asma. Esta revisão da literatura teve como objectivo analisar as evidências que sustentam e que se opõem à associação entre paracetamol e asma em idade pediátrica. A metodologia consistiu na revisão de artigos científicos publicados na MedLine/ PubMed, preferencialmente em língua inglesa, desde o ano 2000 e outros relevantes. Nesta revisão são apresentados estudos realizados em vários países em idade pediátrica, grávidas e outros adultos. A sua maioria encontrou uma associação entre o uso de paracetamol e o risco de asma e / ou o aumento da sua gravidade. Factores de confusão e introdução de viés são também tidos em conta nesta análise. Relativamente aos mecanismos fisiopatológicos subjacentes, a teoria mais consistente relaciona o paracetamol com uma deplecção de glutationa nos pulmões, levando a stress oxidativo e inflamação. Para o esclarecimento da associação e elaboração de recomendações é necessária a realização de estudos controlados e randomizados. O ibuprofeno é uma alternativa ao paracetamol e, como tal, mais estudos poderão ser necessários para avaliar a sua segurança.

Since the second half of the twentieth century there has been an increase in the prevalence of asthma that may be caused by the interaction of a group of factors modified by genetic susceptibility. The increase in the prevalence of asthma in pediatric age, particularly after 1980, coincided with the decline in the use of aspirin due to its association with Reye's syndrome and with the rise of acetaminophen. It was not until the 2000s, with the emergence of several epidemiological evidence, that the association between the use of acetaminophen and the increase in frequency and severity of asthma was raised. This literature review aimed to analyze the evidence supporting and opposing the association between acetaminophen and asthma in the pediatric population. The adopted methodology consisted of a review of scientific articles published in MedLine / PubMed, mostly in English, since 2000 and other relevant articles. The literature review presents studies conducted in several countries in children, pregnant women and other adults. Most literature found an association between the use of acetaminophen and the risk of asthma development and/or increased asthma severity. Confounding factors and bias are also taken into account in this review. With regard to the pathophysiological mechanisms underlying, the most consistent theory relates the acetaminophen with a depletion of glutathione in the lungs leading to oxidative stress and inflammation. To clarify the association and make more appropriate recommendations is necessary to perform randomized controlled trials. Ibuprofen is an alternative to acetaminophen and more studies may be required to assess the safety of this drug.