Ira e agressividade em crianças com excesso de peso e obesidade

Abstract

A obesidade é uma doença crónica cuja prevalência tem aumentado nos países desenvolvidos (Devlin, Yanowski & Wilson, 2000; WHO, 2000). Para além da complexa etiologia e das implicações na saúde que pressupõe, compromete o funcionamento psicossocial e a qualidade de vida dos pacientes. Na população infantil, o aumento do número de casos de obesidade começam a preocupar as instituições de saúde, tornando-se crucial apurar os factores para tal incremento. O comportamento alimentar tem bases biológicas e sociais e, associado à obesidade, torna-se um processo complexo pelos aspectos psicológicos envolvidos (Bernardi, Cichelero & Vitolo, 2005). É cada vez mais evidente que a comida afecta o estado de humor e as emoções, produzindo um bem-estar e emoções positivas (Barthomeuf, Droit-Volet & Rousset, 2009), aquietando tensões emocionais e frustrações. Segundo o Modelo Psicossomático da Obesidade, os indivíduos consomem mais alimentos em situações de stress emocional, recorrendo à comida como mecanismo compensatório de emoções negativas como ira, ansiedade, depressão e tristeza (Faith, Allison & Geliebter, 1997). Como a ira é uma emoção básica, que se pode manifestar através da agressividade, pretendemos, com este estudo, explorar, classificando e comparando, o tipo de ira e de comportamentos agressivos, manifestados entre três grupos de crianças, com diferentes classificações de peso: peso normal, excesso de peso e obesidade. A amostra total, constituída por 108 crianças, dos 8 aos 12 anos, foi recolhida em várias escolas do país, nas consultas de Nutrição do Hospital Pediátrico de Coimbra e através do projecto nacional Plataforma Contra a Obesidade. As dimensões da ira e dos comportamentos agressivos foram avaliadas através do Inventario de Expresión de Ira Estado-Rasgo en Niños y Adolescentes (STAXI-NA) e da Children Agression Scale (CAS), respectivamente, previamente traduzidos. Com os resultados apurámos a presença de diferenças estatisticamente significativas, nomeadamente ao nível dos sentimentos de ira [F (2,104) =3.429, p=.036], sendo os valores mais elevados pertencentes ao grupo das crianças obesas. No entanto, no que se refere aos comportamentos agressivos, não se verificaram diferenças entre os grupos. Acresce ainda a influência e a correlação significativas que factores como o número de irmãos e o índice de massa corporal dos pais têm sobre o peso da criança.

Obesity is a chronic disease with a high prevalence in developed countries (Devlin, Yanowski & Wilson, 2000; WHO, 2000). Besides the complex etiology and its implications in health, it compromises the psychosocial functioning and quality of life of the patients. The increase of cases in childhood population is alarming health institutions and the investigation of its factors is crucial. Eating behavior has biological as well as social bases and, associated to obesity, it becomes an even more complex process since it is accompanied by psychological aspects (Bernardi, Cichelero & Vitolo, 2000). Is increasingly evident that food affects mood and emotions, producing wellbeing and positive emotions (Barthomeuf, Droit-Volet & Rousset, 2009), calming emotional tensions and frustrations. According to the Psychosomatic Model of Obesity, people consume more food in emotional stressful situations such as anger, anxiety, depression and sadness (Faith, Allison & Geliebter, 1997). Once anger is an inner emotion, which can be expressed through aggressiveness, it is our purpose, in this review, to explore, by classifying and comparing, the type of anger and aggressive behaviors manifested between three groups of children, with different weight classifications: normal weight, overweight and obesity. The total sample, consisting of 108 children from 8 to 12 years of age, was collected in several schools of the country, in nutrition consultations at the Hospital Pediátrico of Coimbra and through a national project called Plataforma Contra a Obesidade. The dimensions of anger and aggressive behaviors were assessed with Inventario de Expresión de Ira Estado-Rasgo en Niños y Adolescentes (STAXI-NA) and Children Aggression Scale (CAS), respectively. Those scales were previously translated. Our results assessed the presence of statistically significant differences, particularly in terms of feelings of anger [F (2,104) =3.429, p=.036], values being higher in the group of obese children. However, with regard to aggressive behavior, there were no differences between groups. There was also a significant correlation and the influence that factors such as number of siblings and BMI of the parents have on the child's weight.