Influência da utilização de redes sociais no desenvolvimento de Perturbação Dismórfica Corporal em adolescentes portugueses

Abstract

Body Dysmorphic Disorder is a psychiatric illness defined by an enduring preoccupation with perceived defects on the appearance of an individual. These flaws are often dismissible or insignificant for those who surround them. As an obsessive-compulsive disorder, body dysmorphic disorder is characterized by repetitive rituals, including repeated examinations of one's own body, attempts to camouflage aspects considered imperfect and avoidance of stimuli that generate negative feelings. This illness leads to constant distress and the disruption of all aspects of the individual’s life. It is associated with high rates of suicidal ideation, attempt and completed suicide, which motivates delving deeper into its triggering factors. The disorder leads to an excessive self-analysis and comparison with unrealistic standards. In fact, social media keeps unrealistic standards on display, by providing tools to mask natural features or make them more aesthetically pleasing. Social media use eases the development of Body Dysmorphic Disorder and feeds into it. Multiple investigations attest that social media usage increases the concern about one’s appearance and dissatisfaction towards the body. The impact of social media is undoubtedly amplified when the user is at a more vulnerable age like the adolescence. This stage is characterized by constant comparison with pairs and a volatile self-perception. Since the introduction of social media is increasingly early, it is important to reflect about and analyse the role it plays in the development of several disorders, such as anxiety, depressive and eating disorders or the object of study, body dysmorphic disorder. Lastly, it is important to note that an individual’s beauty ideal and their definition of a flawed self-image depends on numerous factors, such as age, gender, or sexual orientation. On this basis, it is worthy to assess whether there are individuals who, due to their characteristics, are more vulnerable to the negative effects of social media and more likely to develop body dysmorphic disorder.

A perturbação dismórfica corporal é caracterizada como uma preocupação persistente com aquilo que o indivíduo considera ser um defeito na sua aparência física. Esta falha na imagem é, na maior parte dos casos, impercetível ou desprezável para aqueles que o rodeiam. Trata-se de uma perturbação do tipo obsessivo-compulsivo que cursa com comportamentos repetitivos e excessivos, nomeadamente exames múltiplos ao próprio corpo, tentativas de camuflagem das características consideradas imperfeitas e evicção de estímulos geradores de sentimentos negativos. A perturbação dismórfica corporal conduz a uma angústia constante e à disrupção de inúmeras esferas da vida do indivíduo. Está associada a elevadas taxas de ideação suicida, tentativa de suicídio e suicídio consumado, o que motiva, por si só, aprofundar os fatores desencadeantes. A perturbação dismórfica corporal cursa frequentemente da comparação do indivíduo com ideias de referências irrealistas. As plataformas digitais disponibilizam ferramentas que mascaram elementos do corpo ou os transformam em algo esteticamente mais aprazível, tornando estes ideais utópicos possíveis e facilmente acessíveis. Assim, a utilização de redes sociais favorece o aparecimento desta patologia e alimenta-a. Múltiplos artigos científicos comprovam que a utilização de plataformas digitais conduz a uma preocupação significativa com a aparência e a uma insatisfação com o corpo. Este impacto é, sem dúvida, ampliado quando o utilizador de redes sociais se encontra numa idade mais vulnerável, como a adolescência, em que a comparação com pares é mais propícia e a auto-imagem mais volátil. Tendo em conta que a utilização das plataformas digitais é cada vez mais precoce na vida dos seres humanos, é importante refletir acerca do papel que desempenham no desenvolvimento de diversas doenças, como perturbações depressivas, de ansiedade, do comportamento alimentar ou, neste caso, de perturbação dismórfica corporal. É importante salientar que os ideais de beleza de um determinado indivíduo e a definição de falha na auto-imagem estão dependentes de diversos fatores, como a idade, o género ou a orientação sexual. Neste sentido, carece de avaliação a existência de indivíduos na nossa população que, pelas suas características, são mais vulneráveis aos efeitos negativos das redes sociais e mais propensos à perturbação dismórfica corporal.