Impacto do microbioma oral na endocardite infeciosa

Abstract

A Endocardite Infeciosa (EI) é uma patologia de difícil diagnóstico e tratamento, comrepercussões severas em termos de morbilidade e mortalidade. A cavidade oral tem sidoapontada como uma importante via de acesso dos microrganismos à circulação sistémicaconstituindo a sua microbiota uma fonte de putativos agentes responsáveis de EI.A microbiota oral corresponde ao somatório dos microrganismos comensais dacavidade oral com os seres humanos e dos genes por eles transportados. A alteração donormal funcionamento e da interação destes microrganismos conduz à disbiose do ambienteoral. Esta disbiose pode resultar no desequilíbrio da habitual quantidade de bactériascomensais e patogénicas, propiciando o estabelecimento de um ambiente hostil.Perante procedimentos dentários invasivos, ou simplesmente com a escovagem dosdentes, ocorrem pequenas escoriações gengivais, que propiciam a que uma quantidade nãohabitual dos referidos microrganismos entre na corrente sanguínea provocando umabacteriemia. Em doentes saudáveis, esta bacteriemia é insignificante e eficazmenteeliminada pelo sistema imunitário de forma a não causar problemas. Contudo, em indivíduoscom suscetibilidade valvular ou patologia cardíaca já instalada que envolva as válvulas, ouainda em doentes cardíacos com dispositivos internos ao coração, os microrganismostransportados até ao coração fixam-se no tecido endocárdico envolvente das válvulassuscetíveis e provocam colonização e consequente inflamação da válvula.A situação torna-se grave porque esta colonização leva, com o tempo, à formação debiofilmes, cuja estrutura e composição conferem grande resistência aos microrganismos,dificultando o tratamento da patologia.A terapêutica com antibióticos e, eventualmente, a cirurgia em casos específicos, éconsensual, contudo não o é a profilaxia em doentes de risco, sendo assim necessários maisestudos e investigações que clarifiquem a comunidade científica no que toca a este ponto.Este trabalho tem como objetivo realizar um artigo de revisão narrativa focada narelação entre o microbioma oral e o desenvolvimento da EI, explorando os mecanismosadotados pelos microrganismos para a invasão dos tecidos, as interações que estesdesenvolvem e a formação de biofilmes.

Infective endocarditis (IE) is a pathology that is difficult to diagnose and treat, withsevere repercussions in terms of morbidity and mortality. The oral cavity has been identifiedas an important access route for microorganisms into the systemic circulation and itsmicrobiota is a source of putative agents responsible for IE.The oral microbiome is the sum of the commensal microorganisms in the oral cavitywith humans and the genes they carry. Altering the normal functioning and interaction of thesemicroorganisms leads to dysbiosis of the oral environment. This dysbiosis can result in animbalance in the usual amount of commensal and pathogenic bacteria, favouring theestablishment of a hostile environment.During invasive dental procedures, or simply tooth brushing, small abrasions occuron the gums, which allow an unusual amount of these microorganisms to enter thebloodstream, causing bacteraemia. In healthy patients, this bacteraemia is insignificant and isefficiently fought off by the immune system so as not to cause problems.However, in individuals with valvular susceptibility or already established cardiacpathology involving the valves, or even in cardiac patients with devices inside the heart, themicroorganisms transported to the heart attach themselves to the endocardial tissuesurrounding the susceptible valves and cause inflammation and consequent colonization,mostly bacterial, of the valve.The situation becomes serious because this colonization leads, over time, to theformation of biofilms, whose structure and composition give the microorganisms greatresistance, making it difficult to treat the condition.There is a consensus on antibiotic therapy and possibly surgery in specific cases, butprophylaxis in at-risk patients is not. More studies and research are therefore needed to clarifythis point for the scientific community.The aim of this paper is to write a narrative review focusing on the relationshipbetween the oral microbiota and the development of IE, exploring the mechanisms adopted bymicroorganisms to invade tissues, the interactions they develop and the formation of biofilm.