A Difícil Questão do Mal

Abstract

This dissertation aims to study the problem of Evil from the perspective of the thought and work of two contemporary philosophers: Emmanuel Levinas and Hannah Arendt. Analysed from a philosophical point of view, the question of Evil is meditated on from what both authors considered to be one of the evilest events in human history – the Holocaust (Shoah/השואה): an event from which both philosophers suffered direct consequences.The dissertation is therefore divided into two parts, each dedicated to one of the philosophers – thus: in the first part, the problem of Evil is analysed in the work of Emmanuel Levinas, highlighting the originality of his meta-onto-phenomeno-logical language in the context of the history of philosophy. It begins by pointing out that, as a philosopher of absolute alterity, Levinas is singularised as the thinker of ethics – of a meta-ethical nature – thought of not in philosophical-systematic terms, but as the «human as human»: a human rethought in terms of ethical-metaphysical responsibility. It will then be shown that, as a philosopher of ab-solute alterity, Levinas is a fighter against Ontology and its reign in Western philosophy, which he sees as the reign of Evil itself in all its myriad manifestations: meta-ethics, which gives primacy to the «other man» welcomed into a heteronomous-dissymmetrical relationship, is, for Levinas, the starting point for combating violence and Evil in general which, for this philosopher, have their origin and foundation in the «conatus essendi».The second part of the dissertation explores the thought of Evil according to Hannah Arendt, showing how – as a true Kantian – the philosopher sees the source of Evil in the absence of what she calls personal reflection: for the philosopher, Evil is the absence of thought, the absence of thinking. Our intention here is to show how the «banality of Evil» – an expression forged by the philosopher when she attended the trial of Eichmann in Jerusalem in 1961 – arises quite simply from the refusal to think, to think about the acts committed, as well as the inability to be personally affected by what is done. Finally, to better understand the scope of Arendt's «thesis», an attempt is made to dilucidated the philosopher's idea of thought based on her own reading of authors such as Plato and Kant.

Esta dissertação tem como objetivo estudar a problemática do Mal a partir do pensamento e da obra de dois filósofos contemporâneos: Emmanuel Levinas e Hannah Arendt. Analisada de um ponto de vista filosófico, a questão do Mal é meditada a partir daquilo que ambos os autores consideraram ser um dos acontecimentos mais malignos da história da humanidade – o Holocausto (Shoah/השואה): acontecimento de que ambos os filósofos sofreram consequências diretas.A dissertação divide-se, por isso, em duas partes, cada uma delas dedicada a um dos filósofos – assim: na primeira parte, analisa-se a problemática do Mal no âmbito da obra de Emmanuel Levinas, salientando a originalidade do seu idioma meta-onto-fenomeno-lógico no contexto da história da filosofia. Começa-se, assim, por referir que, filósofo da alteridade absoluta, Levinas se singulariza como o pensador da ética – de timbre meta-ético – pensada, não em termos filosófico-sistemáticos, mas como o «humano enquanto humano»: um humano re-pensado em termos de responsabilidade ético-metafísica. Mostra-se depois que, filósofo da alteridade ab-soluta, Levinas é um combatente da Ontologia e do seu reinado na filosofia ocidental, que o filósofo considera como o reinado do próprio Mal na miríade das suas manifestações: a meta-ética, que confere a primazia ao «outro homem» acolhido no seio de uma relação heteronómica-dissimétrica, é, para Levinas, o ponto de partida para combater a violência e o Mal em geral que, para este filósofo, têm no «conatus essendi» a sua origem e fundamentação.Na segunda parte da dissertação expõe-se o pensamento do Mal segundo Hannah Arendt, mostrando como – em boa kantiana – a filósofa vê na ausência do que designa por reflexão pessoal a fonte do Mal: o Mal é para a filósofa a ausência de pensamento, a ausência de pensar. Nesta nossa intenção, mostra-se como a «banalidade do Mal» – expressão forjada pela filósofa aquando da sua assistência, em 1961, ao processo de Eichmann em Jerusalém – adviria muito simplesmente da recusa de pensar, de pensar os atos cometidos, bem como da incapacidade de se ser pessoalmente afetado pelo que se faz. Finalmente, para melhor compreender o alcance desta «tese» de Arendt, tenta-se dilucidar a ideia de pensamento presente na filósofa a partir dos apontamentos da sua própria leitura de autores como Platão e Kant.