Writing of the Thesis

Abstract

My research aims to explore the notion of active matter through the history of materialism and map its contemporary implications. In order to approach the various emergences of the concept in the history of materialism, my work will firstly examine the body as a core notion that allows materialists of different kinds (from 18th-century French materialists to the contemporary so-called new materialists) to challenge the notion of matter as inert res extensa. Indeed, the body occupies a controversial position in the history of western philosophy. The body, whose skin is constructed as the individual's boundary, is neither absent nor insignificant in western cosmology (as many claim), yet it is neither placed on a pedestal. As both "thing" and subject, the body challenges lines of demarcation that structure scientific rationality: therefore rather than being praised or ignored, it took the place of the antagonist of scientific reason. I will explore the hypothesis that 18th-century French materialists (I am thinking in particular of La Mettrie's "Man a Machine") grasped to some extent this critical potential of the body, and, while partially continuing that tradition which had conceived of the body as its worst enemy, laid the foundations for a critique of those lines of demarcations and for the flourishing of alternative ontologies. Positing matter as the sole substance of reality and at the same time acknowledging the existence of the capability of thinking, French materialists end up with a very peculiar understanding of such substance: if the body coincides with the soul, then the matter of which it consists has the faculty of thinking and feeling too. The body seems therefore to play a key role in the conceptualization of active matter. Since, according to this hypothesis, such an understanding of body and matter are crucial for 18th-century French materialism to get distinguished from mechanicism, the place they hold in subsequent schools of materialism is to be further investigated. What is the understanding of matter underlying Marxism? What is the place of the body in Marx's philosophy and Marxist materialism in general? What are the continuities and discontinuities in the way the body is approached in the history of materialism? What is the understanding of matter at the core of the so-called new materialism? Is that conception of matter to some extent linked to the body?The hypothesis of the first part of this research is that the body became a key to reinterpreting the conception of matter precisely because of the controversial relationship that western philosophy has with it. While basing on it (secretly? unconsciously?) the theory of the individual subject, western philosophy has significantly insisted on relegating the body to the status of brute matter, an inert object.For the purpose of exploring current uses and implications of active matter, the second part of the research will focus on the debates and the challenges posed by the critique of the subject-object pair in contemporary materialisms. In order to do so, the work will examine two emblematic (and polemic) "objects" that, just like the body, generate, for philosophical, historical, and political reasons, significant debates over their status of brute and inert matter: technical objects, on the one hand, natural objects on the other (rivers, mountains and so on).As far as technical objects are concerned, the question my research will try to answer is if and how they can be read from a materialist point of view as socio-political actors. Hence, this part will investigate object-oriented approaches to technology with the aim of charting the contours of a materialist position in the debate on the technological agency. Can active matter be a useful tool to approach it? How is agency of matter understood in the case of technological objects? Do the meanings of "active matter" differ in the cases of technical objects and the body?Regarding natural objects, the historical context of the ecological crisis has led scholars and activists to problematize the ontological status of what is traditionally understood as nature, criticizing its reduction to inert matter and proposing legal and conceptual tools such as environmental personhood. In this part, the focus will be on analyzing the implications of choosing personhood instead of agency and the controversies generated by that choice. Is a person someone who has to be alive? how are the distinctions dead/alive, organic/inorganic challenged, and blurred by active matterings? can a river be a legal subject? how can a mountain speak for herself? is there a language of matter to be explored? how are natural objects connected to technical objects? and to the body?

A minha investigação visa explorar a noção de matéria ativa através da história do materialismo e mapear as suas implicações contemporâneas. A fim de abordar as várias emergências do conceito na história do materialismo, o meu trabalho examinará, em primeiro lugar, o corpo como uma noção central que permite a materialistas de diferentes tipos (desde os materialistas franceses do século XVIII até aos chamados novos materialistas contemporâneos) desafiar a noção de matéria como res extensa inerte. De facto, o corpo ocupa uma posição controversa na história da filosofia ocidental. O corpo, cuja pele é construída como a fronteira do indivíduo, não está ausente nem é insignificante na cosmologia ocidental (como muitos afirmam), mas também não é colocado num pedestal. Enquanto "coisa" e sujeito, o corpo desafia as linhas de demarcação que estruturam a racionalidade científica: por isso, em vez de ser louvado ou ignorado, tomou o lugar de antagonista da razão científica. Explorarei a hipótese de que os materialistas franceses do século XVIII (estou a pensar, em particular, em "L'Homme-machine" de La Mettrie) compreenderam, em certa medida, este potencial crítico do corpo e, embora continuando parcialmente a tradição que concebeu o corpo como o seu pior inimigo, lançaram as bases para uma crítica dessas linhas de demarcação e para o florescimento de ontologias alternativas. Ao considerar a matéria como a única substância da realidade e ao mesmo tempo reconhecer a existência da capacidade de pensar, os materialistas franceses acabam por ter um entendimento muito peculiar dessa substância: se o corpo coincide com a alma, então a matéria que o constitui tem também a faculdade de pensar e de sentir. O corpo parece, pois, desempenhar um papel fundamental na concetualização da matéria ativa. Uma vez que, de acordo com esta hipótese, esta compreensão do corpo e da matéria é crucial para que o materialismo francês do século XVIII se distinga do mecanicismo, o lugar que ocupam nas escolas subsequentes do materialismo deve ser investigado mais aprofundadamente. Qual é o entendimento da matéria subjacente ao marxismo? Qual é o lugar do corpo na filosofia de Marx e no materialismo marxista em geral? Quais são as continuidades e descontinuidades na forma como o corpo é abordado na história do materialismo? Qual é o entendimento da matéria que está no centro do chamado novo materialismo? A hipótese da primeira parte desta investigação é que o corpo se tornou uma chave para reinterpretar a conceção da matéria precisamente devido à relação controversa que a filosofia ocidental tem com ele. Com o objetivo de explorar os usos e implicações actuais da matéria ativa, a segunda parte da investigação centrar-se-á nos debates e desafios colocados pela crítica do par sujeito-objeto nos materialismos contemporâneos. Com efeito, o trabalho examinará dois "objectos" emblemáticos (e polémicos) que, tal como o corpo, geram, por razões filosóficas, históricas e políticas, debates significativos sobre o seu estatuto de matéria bruta e inerte: os objectos técnicos, por um lado, e os objectos naturais, por outro (rios, montanhas, etc.).No que diz respeito aos objectos técnicos, a questão a que a minha investigação tentará responder é se e como podem ser lidos de um ponto de vista materialista como actores sociopolíticos. Assim, esta parte investigará as abordagens orientadas para os objectos da tecnologia com o objetivo de traçar os contornos de uma posição materialista no debate sobre a agência tecnológica. Poderá a matéria ativa ser uma ferramenta útil para abordar? Como é entendida a agência da matéria no caso dos objectos tecnológicos? No que diz respeito aos objectos naturais, o contexto histórico da crise ecológica levou estudiosos e activistas a problematizar o estatuto ontológico do que é tradicionalmente entendido como natureza, criticando a sua redução a matéria inerte e propondo ferramentas legais e conceptuais como a personalidade ambiental. Nesta parte, o foco será analisar as implicações da escolha da personalidade em vez da agência e as controvérsias geradas por essa escolha. Uma pessoa é alguém que tem de estar vivo? como é que as distinções morto/vivo, orgânico/inorgânico são desafiadas e esbatidas por matérias activas? pode um rio ser um sujeito jurídico? como pode uma montanha falar por si própria? existe uma linguagem da matéria a explorar? como é que os objectos naturais estão ligados aos objectos técnicos? e ao corpo?