AS EXIGÊNCIAS FISIOLÓGICAS NO COMBATE A INCÊNDIOS FLORESTAIS UM ESTUDO REALIZADO COM BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS PORTUGUESES

Abstract

ResumoObjetivos: caracterizar as necessidades fisiológicas exigidas aos bombeiros voluntários portugueses pelas ações de combate direto a incêndios florestais em mato ou povoamento florestal com recurso a linhas de água, de forma a sensibilizar a necessidade de delinear e estruturar planos de treino específicos que permitam uma preparação física mais adequada e otimizada a estes operacionais para este tipo de contextos.Metodologia: neste estudo, a amostra foi composta por 7 bombeiros voluntários portugueses pertencentes à corporação de bombeiros voluntários da Sertã, do distrito de Castelo Branco, com uma média de idades de 24 anos +/- 1,25. Todos eles eram do sexo masculino, bombeiros de 3ª categoria, possuíam nacionalidade portuguesa, e tinham cumprido, no mínimo, 3 anos de serviço enquanto operacionais, estando aptos fisicamente e psicologicamente para cumprirem adequadamente as suas funções enquanto bombeiros. O estudo foi dividido em duas fases distintas: na 1ª fase, respetiva à caracterização da amostra, os sujeitos foram avaliados quanto à sua antropometria, composição corporal, aptidão neuromuscular, aptidão cardiovascular e quanto aos seus limiares anaeróbios. Posteriormente e numa segunda fase, estes foram monitorizados com um sistema gps durante o nível reforçado de empenhamento operacional do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (15 de maio a 31 de outubro), onde foram registados, durante as ocorrências de incêndios florestais, a frequência cardíaca e respetivas zonas de intensidade definidas de acordo com o limiar anaeróbio de cada um.Resultados: de um total de 7 ocorrências distintas de incêndios florestais em Portugal continental, que representaram 16 registos de dados por parte dos 7 sujeitos, e tendo em conta que, em termos médios, os sujeitos passaram 17 horas e 53 minutos por ocorrência, registando dados durante esse tempo, por um período médio de 2 horas e 12 minutos, o que representa 12,33% do tempo total, os sujeitos passaram, em média, 3,5% do tempo total de registo acima do seu limiar anaeróbio, 0,4% no seu próprio limiar anaeróbio e 96,1% abaixo do seu limiar anaeróbio. Estes passaram ainda 3% do tempo total de registo acima de concentrações de 4mmol/l, valor este definido pelos investigadores como de intensidade muito elevada. A frequência cardíaca máxima, por sua vez, rondou valores médios de 174 batimentos por minuto, rondando a frequência cardíaca média, valores registados de 121 batimentos por minuto. No entanto, estes valores médios não nos permitem discriminar a condição física dos bombeiros e assim dizer o que ocorre com os bombeiros que têm uma condição física mais baixa e que necessitam de melhorar o seu desenvolvimento cardiovascular e a sua condição aeróbia de forma a poderem desempenhar as suas funções de uma forma mais capaz e correndo menos riscos. Conclusão: com os resultados obtidos neste estudo, é possível concluir que o combate direto a incêndios florestais com recurso a linhas de água efetuado pelos bombeiros voluntários inseridos na amostra deste estudo, revelou-se uma tarefa cujo metabolismo energético ativado é predominantemente aeróbio, sendo esta atividade caracterizada pela sua longa duração e baixa intensidade na generalidade do tempo. No entanto, podemos simultaneamente afirmar, que em mais de 50% de todos os registos de dados efetuados, não houve uma constância no que diz respeito ao tipo de metabolismo ativado para produção de energia. O metabolismo aeróbio, apesar de predominante, em termos médios na totalidade do tempo, não foi constante, havendo muitos períodos em que a intensidade da tarefa foi bastante elevada, acima do limiar anaeróbio e de concentrações de lactato de 4 mmol/l, mantendo-se durante grandes períodos, chegando a atingir, por exemplo, 17,9% e 19,8% do tempo total de registo a essas intensidades. Esses períodos intermitentes de intensidades elevadas, acima do limiar anaeróbio, juntamente com os restantes períodos de intensidades baixas, caracterizam este tipo de atividade na sua generalidade, como sendo de resistência de base acíclica, evidenciando-se pelas constantes permutas de intensidade ao longo desta.

AbstractObjectives: characterize the physiological needs required from Portuguese volunteer firefighters for direct firefighting actions in brushwood or forest stands using water lines, in order to raise awareness of the need to design and structure specific training plans that allow for a more adequate and optimized physical preparation of these operatives for this type of context.Methodology: In this study, the sample was composed by 7 Portuguese volunteer firefighters belonging to the voluntary fire department of Sertã, Castelo Branco district, with an average age of 24 years old +/- 1.25. All of them were male, 3rd category firefighters, had Portuguese nationality, and had completed at least 3 years of service as operatives, being physically and psychologically fit to adequately fulfill their functions as firefighters.The study was divided into two distinct phases: in the first phase, regarding the sample characterization, the subjects were evaluated regarding their anthropometry, body composition, neuromuscular fitness, cardiovascular fitness and their anaerobic thresholds. Subsequently and in a second phase, they were monitored with a gps system during the reinforced level of operational commitment of the Special Device for Fighting Rural Fires (May 15 to October 31), where heart rate and respective intensity zones defined according to each one's anaerobic threshold were recorded during forest fire occurrences.Results: of a total of 7 distinct occurrences of forest fires in mainland Portugal, which represented 16 data records by the 7 subjects, and taking into account that, on average, the subjects spent 17 hours and 53 minutes per occurrence, recording data during that time, for an average period of 2 hours and 12 minutes, which represents 12.33% of the total time, the subjects spent, on average, 3.5% of the total recording time above their anaerobic threshold, 0.4% at their own anaerobic threshold, and 96.1% below their anaerobic threshold. They also spent 3% of the total recording time above 4mmol/l, a threshold defined by the researchers as very high intensity. The maximum heart rate, in turn, averaged 174 beats per minute, and the average heart rate was around 121 beats per minute. However, these average values do not allow us to discriminate the physical condition of the firefighters and thus tell what happens to firefighters who have a lower physical condition and who need to improve their cardiovascular development and aerobic condition in order to be able to perform their duties more capably and at less risk.Conclusion: With the results obtained in this study, it is possible to conclude that the direct fight against forest fires using water lines performed by volunteer firefighters included in the sample of this study proved to be a task whose activated energy metabolism is predominantly aerobic, being this activity characterized by its long duration and low intensity in most of the time. However, we can simultaneously state that in more than 50% of all data records, there was no consistency regarding the type of metabolism activated for energy production. The aerobic metabolism, although predominant, on average during all the time, was not constant, with many periods in which the intensity of the task was quite high, above the anaerobic threshold and lactate concentrations of 4 mmol/l, and maintained for long periods, reaching, for example, 17.9% and 19.8% of the total recording time at these intensities. These intermittent periods of high intensities, above the anaerobic threshold, together with the remaining periods of low intensities, characterize this type of activity in general, as being acyclic-based endurance, evidenced by the constant changes of intensity throughout the activity.