Frei Cipriano da Cruz (1646-1716), “o bom official de fazer sanctos”: a obra do escultor bracarense no contexto da arte portuguesa dos séculos XVII e XVIII.

Abstract

Until the reformation following the Council of Trent (1545-1563), benedictine monasteries went through a period of marked decline, prompting a growing need for monastic reform within the Order of St. Benedict. In order to exalt devotion and reaffirm the customs of Catholic life, a series of artistic interventions were launched in the Benedictine monasteries. Within this framework of renewal, sculpture proved to be particularly effective, assuming a growing importance in enriching liturgical spaces, as well as in promoting the cult of saints and emblematic personalities (preferably of the Order of St. Benedict). Friar Cipriano da Cruz, a sculptor from Braga and a Benedictine monk, played a significant role in this context, intervening in various monastic complexes from the time he joined the Congregation of St. Benedict (1676). The author of a significant number of sculptures that completely changed the iconographic and plastic discourse of these spaces, they would end up becoming reference models in the work of other artists. That being said, the main aim of this dissertation is to present and analyze Friar Cipriano da Cruz's various interventions in the Monastery of São Martinho de Tibães, the College of São Bento in Coimbra and the Monastery of Santo Tirso, placing them in the context of the Catholic reform and, more specifically, the Benedictine reform. His work has also been documented in other contexts, namely at the University of Coimbra, where he made two sculptures that depart from Benedictine iconography and discourse, and which therefore constitute unique works within his oeuvre. Alongside this, we will try to trace the sculptor's life path, trying to uncover, from the clues given to us by the documentation and through the analysis of his own works, new contributions about his training and activity prior to taking the Benedictine habit.

Até à Reforma ocorrida na sequência do Concílio de Trento (1545-1563), os mosteiros beneditinos atravessaram um período de assinalável declínio, motivando a crescente necessidade de uma reforma monástica no seio da Ordem de São Bento. Visando exaltar a devoção e reafirmar os costumes da vida católica, foram promovidas relevantes campanhas artísticas nos mosteiros beneditinos. Nesse quadro de renovação, a escultura revelou-se particularmente eficaz, assumindo uma importância crescente no enriquecimento dos espaços litúrgicos, assim como na promoção do culto dos santos e de personalidades emblemáticas (preferencialmente da Ordem de São Bento). Frei Cipriano da Cruz, escultor bracarense e monge beneditino, desempenhou, neste contexto, um papel significativo, intervindo, a partir do seu ingresso na Congregação de São Bento (1676), em vários complexos monásticos. Autor de um assinalável conjunto de esculturas, que vieram alterar, por completo, o discurso iconográfico e plástico desses espaços, acabariam por se converter em modelos de referência na obra de outros artistas. Neste sentido, a presente dissertação tem como principal objetivo a apresentação e análise das diversas intervenções de Frei Cipriano da Cruz no Mosteiro de São Martinho de Tibães, no Colégio de São Bento de Coimbra e no Mosteiro de Santo Tirso, inserindo-as no contexto da reforma católica e, mais especificamente, da reforma beneditina. Com obra documentada noutros contextos, realizou para a Universidade de Coimbra duas esculturas que se afastam da iconografia e discursos beneditinos, e que, por isso, constituem trabalhos singulares dentro da sua obra. Procuraremos, paralelamente, traçar o percurso de vida do escultor, visando aportar, a partir de pistas que nos são dadas pela documentação e através da análise das suas próprias obras, novos contributos acerca da sua formação e atividade anterior à tomada do hábito beneditino.