Endometriose e gestação: impacto no desfecho obstétrico

Abstract

Endometriosis is a chronic and inflammatory gynecological disease that negatively impacts fertility, contributing to an increased number of women resorting to assisted reproductive technology to conceive. Although pregnancy outcomes concerning women with endometriosis remain understudied, emerging literature has demonstrated an association between endometriosis and obstetrical complications. In order to try to better explain this association, we carried out a narrative review of the literature on the impact of endometriosis on pregnancy outcomes and their shared pathophysiologic mechanisms.Regarding the effects of endometriosis on pregnancy outcomes, literature reports controversial results. However, increased attention should be provided to women with endometriosis as higher risks of placental issues, preterm deliveries and neonatal morbimortality are associated, as well as a higher cesarean rate. Acute complications of endometriosis, such as spontaneous hemoperitoneum, are rare but life-threatening conditions requiring surgical treatment in most cases. Moreover, many studies have associated endometriosis with obstetrical complications even in women who undergo assisted reproductive technology to conceive.Even though the underlying pathogenesis of endometriosis is still poorly understood, there are some factors that can be associated with adverse pregnancy outcomes as inflammatory changes, progesterone resistance and hyperestrogenism, epigenetic alterations and oxidative stress, and junctional zone modifications.This review also presents considerations on possible ways to reduce the risk of obstetric complications in women with endometriosis.In general, further studies with scientific evidence are needed on the impact of endometriosis in pregnancy outcomes.

A endometriose é uma patologia ginecológica crónica e inflamatória que apresenta um impacto negativo na fertilidade, contribuindo para o aumento da procura de técnicas de procriação medicamente assistida. No entanto, e apesar de o impacto obstétrico da endometriose permanecer pouco estudado, artigos recentes demonstraram haver uma associação entre a endometriose e complicações obstétricas. Na tentativa de explicar melhor essa associação, realizamos uma revisão narrativa da literatura sobre o efeito da endometriose no desfecho obstétrico e os mecanismos fisiopatológicos envolvidos.Em relação às repercussões da endometriose na gravidez, a literatura atual apresenta resultados controversos. No entanto, mulheres com endometriose devem receber consultas de vigilância da gravidez com maior periodicidade, já que apresentam um risco mais elevado de alterações placentares e de parto pré-termo, bem como taxa de cesarianas e morbimortalidade neonatal mais elevadas. Complicações agudas da endometriose, nomeadamente, o hemoperitoneu espontâneo, apesar de raras constituem uma condição ameaçadora de vida, sendo necessário tratamento cirúrgico na maioria dos casos. Muitos estudos demonstraram, ainda, um impacto negativo da doença no desfecho obstétrico, independentemente de a conceção ter sido espontânea ou através do recurso a técnicas de procriação medicamente assistida.Apesar de os mecanismos fisiopatológicos envolvidos em desfechos obstétricos adversos em mulheres com endometriose ainda não serem totalmente conhecidos, foram mencionados vários fatores: alterações inflamatórias; resistência a ações seletivas da progesterona e ambiente de hiperestrogenismo; alterações epigenéticas de alguns genes e stress oxidativo; alterações da zona juncional.Ao longo deste trabalho, foram também indicadas algumas medidas com o intuito de prevenir a ocorrência de complicações obstétricas em mulheres com endometriose.De uma forma geral, são necessários mais estudos com evidência científica sobre o impacto da endometriose no desfecho obstétrico.