ESTUDO PROSPETIVO DO EFEITO DE FATORES COGNITIVO-EMOCIONAIS NA APATIA EM PESSOAS COM DOENÇA DOS PEQUENOS VASOS CEREBRAIS

Abstract

A Doença dos Pequenos Vasos Cerebrais (DPVC) é considerada pela maioria dos investigadores como a principal causa de demência vascular. A DPVC divide-se em dois tipos principais: a esporádica e a genética, que partilham alterações fisiológicas, neurológicas e neuropsicológicas. Estas últimas podem ocorrer desde o início da doença, e inclusivamente, anteceder o declínio cognitivo, ou surgir ao longo do seu percurso. A apatia é o distúrbio neuropsiquiátrico mais prevalente (40% da população com DPVC), seguindo-se a depressão (20% da população com DPVC), quadros clínicos que, apesar de independentes, surgem com frequência nesta população. Assim, é importante a deteção precoce das dificuldades emocionais associadas à DPVC, uma vez que causam elevada sobrecarga e prejudicam a perceção de qualidade de vida dos doentes e dos seus familiares.A maioria dos estudos existentes sobre a apatia na DPVC são transversais e descrevem associações entre este construto e as alterações cognitivas (disfunção executiva, diminuição da velocidade de processamento e memória de trabalho), descrevendo também associações com redes neurológicas específicas. É escasso o número de estudos que abordem outros sintomas além da apatia e da depressão, sendo por isso importante explorar variáveis cognitivo-emocionais que possam influenciar a apatia.O objetivo da presente investigação é perceber se determinadas variáveis cognitivo emocionais (Alexitimia, Vergonha Externa e Afeto Positivo) podem contribuir para a desregulação emocional em pacientes com DPVC. Desta forma, vamos estabelecer uma relação temporal entre a Apatia e a Alexitimia, a Vergonha Externa e o Afeto Positivo num grupo de participantes com DPVC acompanhados na consulta de Risco Vascular, do Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra. Os participantes preencheram uma bateria de escalas online com medida de autorresposta que medem as variáveis em estudo, em dois momentos temporais com um intervalo de um mês. Os resultados mostraram que as diferenças das amostras emparelhadas do primeiro para o segundo momento não foi significativo, no entanto, olhando para as médias da primeira avaliação para a segunda, apresenta-se uma tendência para o aumento do traço alexitímico, da vergonha, do afeto positivo relaxado, afeto positivo seguro e da apatia. A média dos sintomas depressivos manteve-se constante. As correlações bivariadas mostraram que a Alexitimia se associa a níveis mais elevados de Apatia. o Afeto Positivo Ativo e o Afeto Positivo Seguro associam-se a menos níveis de Apatia. A Vergonha Externa, o Afeto Positivo Relaxado e a Depressão não se associaram há Apatia.As regressões hierárquicas permitiram concluir que o modelo explica 35,5% da apatia 1 mês depois, e que o Afeto Positivo, explica 32,7%, sendo a variável mais relevante para os níveis de apatia. No entanto, segundo o resultado da ANOVA, o modelo não atinge significância para a explicação da Apatia. Os resultados parecem sugerir de forma exploratória que a ausência de emoções positivas poderão ter um impacto no perfil de deterioração emocional destes (apatia), fornecendo pistas importantes para as intervenções de cariz psicológico e emocional nesta condição clínica.

Cerebral Small Vessel Disease (CSVD) is considered by most researchers to be the main cause of vascular dementia. CSVD is divided into two main types: sporadic and genetic, which share physiological, neurological, and neuropsychological changes. The latter may occur from the beginning of the disease, and even precede cognitive decline, or appear throughout its course. Apathy is the most prevalent neuropsychiatric disorder (40% of the CSVD population), followed by depression (20% of the CSVD population), clinical conditions that, despite being independent, appear frequently in this population. Therefore, it is important to early detect the emotional difficulties associated with CSVD, as they cause high burden and impair the perception of quality of life of patients and their families.Most existing studies on apathy in CSVD are cross-sectional and describe associations between this construct and cognitive changes (executive dysfunction, decreased processing speed and working memory), also describing associations with specific neurological networks. There are few studies that address symptoms other than apathy and depression, which is why it is important to explore cognitive-emotional variables that may influence apathy.The objective of the present investigation is to understand whether certain cognitive emotional variables (Alexithymia, External Shame and Positive Affect) can contribute to emotional dysregulation in patients with CSVD. In this way, we will establish a temporal relationship between Apathy and Alexithymia, External Shame and Positive Affect in a group of participants with CSVD followed in the Vascular Risk consultation, at the Hospital Center of the University of Coimbra. Participants completed a battery of online self-response scales that measure the variables under study, at two time points with an interval of one month.The results showed that the differences between the paired samples from the first to the second moment were not significant, however, looking at the means from the first assessment to the second, there is a tendency towards an increase in the alexithymic trait, shame, affection relaxed positive, secure positive affect and apathy. The average number of depressive symptoms remained constant. Bivariate correlations showed that Alexithymia is associated with higher levels of Apathy. Active Positive Affect and SecurePositive Affect are associated with lower levels of Apathy. External Shame, Relaxed Positive Affect and Depression were not associated with Apathy.The hierarchical regressions allowed us to conclude that the model explains 35.5% of apathy 1 month later, and that Positive Affect explains 32.7%, being the most relevant variable for apathy levels. However, according to the results of the ANOVA, the model does not reach significance in explaining Apathy. The results seem to suggest in an exploratory way that the absence of positive emotions may have an impact on their emotional deterioration profile (apathy), providing important clues for psychological and emotional interventions in this clinical condition.