Behavior Rating Inventory of Executive Function - Adult Version (BRIEF-A): Estudo de estabilidade temporal teste-reteste, validade convergente e divergente e efeito das variáveis sociodemográficas numa amostra de jovens adultos, adultos e adultos idosos da comunidade

Abstract

Introduction: Despite some conceptual divergences, executive functions are defined as a multidimensional construct implicated in emotional regulation, cognitive flexibility, and planning ability, holding significance for aspects of daily life. Deficits in these functions are associated with social difficulties, learning challenges, involvement in deviant trajectories, and substance use, underscoring the relevance of studying these functions in the forensic context as well. Given this importance, the existence of instruments enabling their assessment is paramount. The Behavior Rating Inventory of Executive Function - Adult Version (BRIEF-A) has proven to be valid and reliable in assessing these functions, both internationally and nationally, encompassing self-report and informant-report versions.Objective: The present study aims to contribute to the validation of the BRIEF-A for the Portuguese population through the analysis of test-retest stability and the examination of convergent and divergent validity, by analyzing the relationships between the BRIEF-A and (neuro)psychological assessment instruments within the cognitive, behavioral, and psychopathological domains. Additionally, we intend to explore the effects of sociodemographic variables such as sex, age, and educational level.Method: The recruited sample comprised a total of 92 participants, including young adults, adults, and older adults, with ages ranging from 18 to 82 years (M = 43.1; SD = 18.114). Regarding the analysis of test-retest stability, approximately one month later, 44 participants responded again to the BRIEF-A. The protocol included a brief sociodemographic questionnaire and 9 instruments: Montreal Cognitive Assessment (MoCA); Trail Making Test A & B (TMT A & B); Semantic and Phonemic Verbal Fluency Test (FVS/F); Letter and Number Sequencing Subtest (SLN); Behavior Rating Inventory of Executive Function - Adult Version (BRIEF-A); State-Trait Anxiety Inventory (STAI-Y); Geriatric Depression Scale - 30 Items (GDS-30); Beck Depression Inventory (BDI-II); and 20-Item Social Desirability Scale (EDS-20). Regarding the analysis of sociodemographic variables, based on the characteristics of the final sample, two age categories (18-39 and 40 or more years) and two levels of education (4-12 and more than 12 years of education) were defined.Results: In terms of temporal stability, all correlations were found to be significant and positive, ranging from moderate to high (.60 < r < .85). Regarding convergent and divergent validity with performance tests, only some significant negative correlations were evident, ranging from low to moderate, with the MoCA (-.36 < r < -.40), and positive and low correlations (.21 < r < .27) with the FVS/F Test. Concerning assessment scales, all showed significant positive correlations, ranging from low to moderate, with most of the BRIEF-A indicators, including STAI-Y State (.27 < r < .47), STAI-Y Trait (.46 < r < .67), GDS-30 (.42 < r < .63), and BDI-II (.28 < r < .54). Regarding sociodemographic variables, no significant differences in BRIEF-A parameters were observed for the variable sex. Regarding age, low-magnitude significant differences were identified in the Task Monitor scale (t = 2.67; p = .009; d = .23) and Metacognition Index (t = 2.52; p = .013; d = .21), and moderate-magnitude differences in the Inhibit scale (t = 2.36; p = .021; d = .41) and Initiate scale (t = 4.25; p < .001; d = .61), with individuals aged 18-39 exhibiting poorer executive functioning. As for education, only one significant difference was observed, which occurred in the Initiate scale and had a high effect size (t = -2.88; p = .005; d = .89), with individuals with 4-12 years of education showing worse executive functioning.Conclusion: In this exploratory study, with regard to test-retest stability, the BRIEF-A yielded results ranging from adequate to excellent, indicating the consistency of this measure over time. Concerning convergent/divergent validity, the instrument showed less pronounced correlations with performance tests and more evident correlations with parameters from assessment scales (anxiety/depression). Regarding sociodemographic variables, namely sex, age, and education, no significant results were found for distinguishing profiles. Despite some limitations of the study (small sample size, lack of representativeness in terms of age groups, education levels, and geographic regions), the BRIEF-A appears promising in the field of (neuro)psychological assessment, particularly in understanding executive functioning profiles, emphasizing the integration of socio-affective/emotional dimensions, and favoring an ecological approach to the assessment procedure.

Introdução: A despeito de algumas divergências conceptuais, as funções executivas são definidas como um construto multidimensional, implicadas na regulação emocional, na flexibilidade cognitiva e na capacidade de planeamento, assumindo relevância em aspetos da vida diária. Défices nestas funções associam-se a dificuldades sociais, de aprendizagem, envolvimento em trajetórias desviantes e uso de substâncias, salientando a pertinência do estudo destas funções também no âmbito forense. Considerando esta relevância, é primordial a existência de instrumentos que permitam a sua avaliação. O Behavior Rating Inventory of Executive Function - Adult Version (BRIEF-A) tem-se revelado válido e fiável na avaliação destas funções, tanto a nível internacional como nacional, integrando uma versão de autorresposta e outra de informante significativo. Objetivo: O presente estudo tem como objetivo contribuir para a validação do BRIEF-A para a população portuguesa, a partir da análise da estabilidade temporal teste-reteste e do estudo de validade convergente e divergente, por meio da análise das relações entre o BRIEF-A e instrumentos de avaliação (neuro)psicológica pertencentes aos domínios cognitivo, comportamental e psicopatológico. Adicionalmente, pretende-se explorar os efeitos das variáveis sociodemográficas sexo, idade e escolaridade. Método: A amostra recrutada perfez um total de 92 sujeitos, entre jovens adultos, adultos e adultos idosos, com idades a variar entre os 18 e os 82 anos (M = 43.1; DP = 18.114). No referente à análise da estabilidade temporal, após aproximadamente um mês, 44 sujeitos responderam, novamente, ao BRIEF-A. O protocolo incluiu um questionário breve de dados sociodemográficos e 9 instrumentos: Montreal Cognitive Assessment (MoCA); Trail Making Test A & B (TMT A & B); Teste Fluência Verbal Semântica e Fonémica (FVS/F); Subteste Sequências de Letras e Números (SLN); Behavior Rating Inventory of Executive Function - Adult Version (BRIEF-A); Inventário de Estado-Traço de Ansiedade (STAI-Y); Escala de Depressão Geriátrica - 30 Itens (GDS-30); Inventário de Depressão de Beck (BDI-II) e Escala de Desejabilidade Social de 20 Itens (EDS-20). No que concerne a análise das variáveis sociodemográficas, conforme as características da amostra final, foram definidas duas categorias etárias (18-39 e 40 ou mais anos) e dois níveis de escolaridade (4-12 e mais de 12 anos de escolaridade). Resultados: Em termos de estabilidade temporal, todas as correlações revelaram-se significativas e positivas, variando de moderadas a altas (.60 < r < .85). No respeitante à validade convergente e divergente, relativamente aos testes de desempenho, apenas foram evidenciadas algumas correlações significativas negativas, variando de baixas a moderadas, com o MoCA (-.36 < r < -.40), e positivas e baixas (.21 < r < .27) com o Teste FVS/F. No que concerne às escalas de avaliação, todas apresentaram correlações significativas positivas, variando de baixas a moderadas com a maioria dos indicadores do BRIEF-A, incluindo o STAI-Y Estado (.27 < r < .47), STAI-Y Traço (.46 < r < .67), GDS-30 (.42 < r < .63) e o BDI-II (.28 < r < .54). No referente às variáveis sociodemográficas, não se observaram diferenças significativas nos parâmetros do BRIEF-A, no que concerne a variável sexo. Quanto à idade, identificaram-se diferenças significativas de magnitude baixa na escala Monitorização de Tarefas (t = 2.67; p = .009; d = .23) e no Índice de Metacognição (t = 2.52; p = .013; d = .21), e de magnitude moderada nas escalas Inibição (t = 2.36; p = .021; d = .41) e Iniciação (t = 4.25; p < .001; d = .61), com os sujeitos de 18-39 anos evidenciando pior funcionamento executivo. Relativamente à escolaridade, observou-se apenas uma diferença significativa, a qual ocorreu na escala Iniciação e apresentou uma magnitude de efeito alta (t = - 2.88; p = .005; d = .89), com os sujeitos de 4-12 anos de escolaridade demonstrando pior funcionamento executivo. Conclusão: Neste estudo exploratório, o BRIEF-A, no referente à estabilidade temporal teste-reteste, os resultados variaram de adequados a excelentes, indicando a consistência desta medida ao longo do tempo. No respeitante à validade convergente/divergente, o instrumento demonstrou correlações menos evidenciadas com os testes de desempenho e mais evidentes com os parâmetros das escalas de avaliação (ansiedade/depressão). Relativamente às variáveis sociodemográficas, sexo, idade e escolaridade, não foram encontrados resultados relevantes para a diferenciação de perfis. Apesar de algumas limitações do estudo (tamanho reduzido da amostra, falta de representatividade quanto à faixa etária, níveis de escolaridade e regiões do país), o BRIEF-A revela-se promissor no campo da avaliação (neuro)psicológica, especialmente na compreensão dos perfis de funcionamento executivo, valorizando a integração da dimensão socioafetiva/emocional e privilegiando a abordagem ecológica do procedimento avaliativo.