Estigma e saúde mental em adultos com infeção por VIH: O papel mediador dos processos de regulação emocional

Abstract

O estigma tem sido desde sempre associado à experiência de viver infetado pelo VIH. A literatura tem, ainda, mostrado uma clara associação entre a perceção de estigma e uma pior saúde mental. De modo a melhor compreender esta associação e que fatores a podem explicar, recentemente tem sido estudado o papel dos processos psicológicos de regulação emocional em indivíduos que vivem com o VIH. O presente estudo teve como objetivo analisar o papel dos processos de regulação emocional na associação entre o estigma e a saúde mental em adultos que vivem com infeção por VIH. A amostra foi composta por 107 doentes infetados com o VIH (52.3% do sexo masculino), com uma média de idades de 41.62 anos (DP = 10.49). Os participantes preencheram uma bateria de avaliação composta pelos seguintes questionários de autorresposta: Escala de Estigma em relação ao VIH, Escala de Ansiedade e Depressão Hospitalar, Questionário de Regulação Emocional e Escala de Tolerância ao Distress. As experiências de estigma, especialmente as relativas ao estigma personalizado e à autoimagem negativa, mostraram-se significativamente associadas a maior sintomatologia ansiosa e depressiva. Quanto aos processos de regulação emocional, a reavaliação cognitiva mostrou-se associada a menor sintomatologia ansiosa e depressiva, enquanto a supressão emocional e a intolerância ao distress se associaram a maior psicopatologia. A intolerância ao distress foi um mediador significativo da associação entre as experiências de estigma e a sintomatologia ansiosa. Quanto à associação entre as experiências de estigma e a sintomatologia depressiva, tanto a intolerância ao distress como a supressão emocional foram mediadores significativos. Os resultados deste estudo permitem concluir que a supressão emocional e a intolerância ao distress são processos de regulação emocional que parecem agravar o impacto que o estigma relativo ao VIH têm na saúde mental das pessoas infetadas. Assim, as intervenções psicológicas nesta população devem-se focar no desencorajamento ao uso deste tipo de processos e no desenvolvimento de alternativas mais saudáveis e adaptativas, como a reavaliação cognitiva.

Stigma has been historically associated with the experience of living with HIV. The literature has also shown a clear association between perceived stigma and poorer mental health. In order to better understand this association and which factors may explain it, recently, the role of psychological processes of emotion regulation in individuals living with HIV has been examined. The present study aimed to analyze the role of emotion regulation processes in the association between stigma and mental health in adults living with HIV infection. The sample consisted of 107 HIV-infected patients (52.3% male), with a mean age of 41.62 years (SD = 10.49). Participants completed a research protocol composed of the following self-report questionnaires: HIV Stigma Scale, Hospital Anxiety and Depression Scale, Emotional Regulation Questionnaire and Distress Tolerance Scale. The experiences of stigma, especially those related to personalized stigma and negative self-image, were significantly associated with higher anxious and depressive symptoms. Regarding emotion regulation processes, cognitive reappraisal was associated with less anxious and depressive symptoms, while emotion suppression and distress intolerance were associated with increased psychopathology. Distress intolerance was a significant mediator of the association between stigma and symptoms of anxiety. Concerning the association between stigma experiences and depressive symptoms, both distress intolerance and emotional suppression were significant mediators. The results of the present study allowed us to conclude that emotional suppression and distress intolerance are emotional regulation processes that seem to worsen the impact of HIV-related stigma experiences on the mental health of infected individuals. Thus, psychological interventions in this population should focus on discouraging the use of these types of processes and developing healthier and adaptive alternatives, such as cognitive reappraisal.