Percursos da mediação na palavra e na imagem segundo Régis Debray

Abstract

It has become relevant, nowadays, more than just understanding mass media, to understand all the pathways used by the means of cultural transmission throughout the history of humanity. Through the analysis of the difference between communicating and transmitting, the various layers of human interaction are revealed to us, whether in the past, present, or future. Thus, Mediology arises, according to Régis Debray's assumptions. This is a discipline transversal to several areas of knowledge within the social sciences and humanities that, as the study of mediations, seeks to conceive the connections between technology and culture. To better understand the mediatic course of the basic media of communication and human cultural transmission - word and image - we tried to structure this dissertation through the paradigmatic theory of the mediospheres idealized by R. Debray. In a first approach, we return to the beginnings of the conception of cultural transmission that is carried out by rhythmic gestures and spoken words and by the power that mnemotechnics skills have in perpetuating ideas, making them reach several people and pass from generation to generation. Plato's critique of the dangers of perpetuating thoughtless ideas brings about a change in the importance given to words. Combining this change in mentality with the evolution of technology, it was possible to allow writing to consolidate itself as the main way of processing and storing cultural, social, political and administrative information of communities. The symbolic richness of the word, in association with the development and expansion of graphic inscription surfaces, turned it an indispensable medium for the organization of society, giving rise to the need to disseminate it to a wider public, culminating in the invention of the printing press and paving the way for new forms of mediation. In a second approach, it is possible to see how the range of signs that form words and are used in language, as well as the complexity of the systems of symbolic correspondences, could cause some obscurity in the interpretation of a written text or oral discourse. These aspects of the word have allowed the image, which existed before as a symbolic support for transmitting messages, to emerge and emancipate itself as a more effective means of transmission. The image is also dependent on the subjective gaze, being sometimes necessary to be accompanied by an external interpretation, making it a more easily manipulated medium according to the message to be transmitted. Even so, it is precisely this subjective characteristic of the image that allowed it to "survive" in the era in which we find ourselves today, where there is an overlapping of media. As we will see in the last approach of this work, we verify that the current paradigm is ruled by two contradictory media logics, which allow us to open the horizon of study of the current and future media networks.

Torna-se relevante, nos dias de hoje, mais do que compreender os meios de comunicação em massa, compreender todos os caminhos percorridos pelos veículos de transmissão cultural ao longo da história da humanidade. Através da análise da diferença entre comunicar e transmitir são nos reveladas as várias camadas da interação humana, sendo com o passado, presente ou futuro. Assim, surge a Mediologia segundo os pressupostos de Régis Debray. Esta é uma disciplina transversal a várias áreas do saber dentro das ciências sociais e humanas que, enquanto sendo o estudo das mediações procura conceber as ligações entre a técnica e a cultura. Para melhor entender o percurso mediático dos media basilares da comunicação e da transmissão cultural humana – a palavra e a imagem - procurou-se estruturar esta dissertação mediante a teoria paradigmática das medioesferas idealizadas por R. Debray. Numa primeira fase regressamos aos primórdios da conceção da transmissão cultural que é levada a cabo pelo gesto ritmado e as palavras faladas e pelo poder que as mnemotécnicas têm em perpetuar ideias, fazendo-as chegar a várias pessoas e passar de geração em geração. A crítica de Platão sobre os perigos de perpetuar ideias não refletidas vem provocar uma alteração na importância dada à palavra. Unindo-se esta mudança de mentalidade com a evolução da técnica, foi possível permitir que a escrita se consolidasse enquanto a principal forma de tratar e armazenar informação cultural, social, política e administrativa das comunidades. A riqueza simbólica da palavra, em associação com o desenvolvimento e expansão nas superfícies gráficas de inscrição, fez com que esta se tornasse um medium imprescindível para a organização da sociedade fazendo surgir a necessidade de difundi-la para um público mais amplo, culminando na invenção da imprensa e abrindo caminho para novas formas de mediação. Numa segunda fase é possível perceber como a abrangência de signos que formam palavras e que são utilizados na linguagem, assim como a complexidade dos sistemas de correspondências simbólicas, poderão provocar alguma obscuridade interpretativa de um texto escrito ou discurso oral. Estes aspetos da palavra permitiram à imagem, que já antes existia como suporte simbólico de transmissão de mensagens, emergir e emancipar-se como meio de transmissão mais eficaz. A imagem está também dependente do olhar subjetivo sendo, por vezes, necessário fazer-se acompanhar de uma interpretação exterior tornando-a um meio mais facilmente manipulável de acordo com a mensagem que se quer transmitir. Ainda assim, é precisamente esta característica subjetiva da imagem que permitiu que esta “sobreviva” na época na qual nos encontramos nos dias de hoje onde existe uma sobreposição de meios. Como poderemos constatar numa última fase deste trabalho, verificamos que o paradigma atual é regido por duas lógicas mediáticas contraditórias e que permitem abrir o horizonte de estudo das atuais e futuras redes mediáticas.