DESENHAR A HISTÓRIA: OS PÁTIOS D’ARMAS DE CASTELOS URBANOS DA RAIA Bragança, Castelo Branco, Castelo Rodrigo e Nisa

Abstract

There are many military monuments that nowadays are deeply changed, nearly always amputated, without important parts of the original building complex. This is particularly true for the buildings and equipment that occupied the courtyards of medieval castles, playing a fundamental role in everyday life, whether in times of war or peace. We are particularly speaking about the Mayors' Palace , barracks, stables, warehouses, etc. In many cases, these elements are leaning against the fortress walls and against each other, not leaving enough space for the movement of troops, a loss compensated by the way they were essential to the garrison's living.After some sources, it becomes possible to glimpse what these fortresses must have been, particularly the interiors that have now disappeared. An example of this is the Livro das Fortalezas, drawn up by the royal squire Duarte de Armas, by order of King Manuel I, in 1509/10. These draws were meant to show the king the state of conservation of the fortifications that bordered Castile so that he would know what improvements to proceed. This work is a rare example for the time, not only because of its detail, which includes measurements and descriptive notes, among other annotations, but it is also one of the few works of this type worldwide.This dissertation aims to bring back to life what no longer exists, what is incomplete or in a deep state of degradation using, among other sources, the drawings of Duarte de Armas as an instrument. In other words, the intention is to make a spatial historical reconstitution of a set of fortresses portrayed in the Livro das Fortalezas, by Duarte de Armas. Four fortresses that have in common the presence of arcades in the Palace of the Mayor were chosen — Bragança, Castelo Rodrigo, Castelo Branco and Nisa — a typical architectural element of the time that gives greater apparatus and complexity to the building complex. Methodologically, this dissertation associates the theoretical component with a strong graphic investment, using drawing as a research and communication tool. The privileged source is the set of views and plans from the Livro das Fortalezas by Duarte de Armas, but it is also associated a collection of data from different natures, in the case of written sources, such as, for example, visitations, but also graphic sources, such as engravings and drawings from other times, or specific bibliography on the subject, whether related to the four studied case, to Duarte de Armas or to the drawings and the ICT in the understanding and broadcasting of the heritage. Of course, all of this is associated with all the fundamental information that field work provides. In a second phase, planimetry is drawn in CAD, creating a synthesis of the previously collected information. These drawings, in turn, form the basis for the spatial reconstruction itself. Lastly, simulations of 3D virtual models are presented, reproducing a suggestion of what these fortifications may have once been.In brief, from the crossing of countless data and its transposition to drawing, this dissertation aims to allow the public to visualize what some of the fortifications must have been in the first decade of the 16th century, particularly their courtyards’ filling, spaces that were once essential and heavily constructed and dense of activities that nowadays we see empty and incomprehensible in terms of dynamics of military structures.

São muitos os monumentos militares que, nos dias de hoje, se encontram profundamente alterados, quase sempre amputados, tendo desaparecido parte importante dos complexos originais. Tal é particularmente verdade no que toca aos edifícios e equipamentos que ocuparam os pátios de armas dos castelos medievais, desempenhando um papel fundamental no quotidiano, fosse em tempos de guerra ou de paz. Falamos, concretamente, dos Paços dos Alcaides, das casernas, cavalariças, armazéns, etc. Em muitos casos, encostando-se às muralhas e encavalitando-se uns nos outros, deixavam pouco espaço livre para a movimentação das tropas, prejuízo compensado pela forma como eram essenciais à vivência da guarnição. A partir de algumas fontes, torna-se possível vislumbrar o que terão sido essas fortalezas, particularmente esses interiores hoje desaparecidos. Um exemplo disso é o Livro das Fortalezas, debuxado pelo escudeiro real Duarte de Armas, por ordem do rei D. Manuel I, em 1509/10. Estes debuxos tinham como objetivo trazer ao rei o estado de conservação das fortificações que faziam fronteira com Castela para assim saber a que reformas proceder. Esta obra é um exemplar raríssimo para a época, não só devido ao seu detalhe, que inclui medidas e notas explicativas, entre outras anotações, como também se trata de um dos poucos trabalhos deste tipo a nível mundial. A presente dissertação visa trazer de novo “à vida” o que já não existe, o que se encontra incompleto ou em profundo estado de degradação usando como instrumento, entre outros documentos, os debuxos de Duarte de Armas. Por outras palavras, o que se pretende é fazer uma reconstituição histórica espacial de um conjunto de fortalezas retratadas no Livro das Fortalezas, de Duarte de Armas. Selecionaram-se quatro fortalezas que têm em comum a inclusão de arcadas nos paços do alcaide — Bragança, Castelo Rodrigo, Castelo Branco e Nisa — elemento arquitetónico muito característico da época e que confere maior aparato e complexidade ao conjunto construído. Metodologicamente, a dissertação associa à componente teórica um forte investimento gráfico, recorrendo ao desenho como instrumento de investigação e de comunicação. Se a fonte privilegiada é o conjunto de vistas e plantas do Livro das Fortalezas de Duarte de Armas, a esta associa-se uma recolha de dados de natureza diversa, caso das fontes escritas como, por exemplo, as visitações, mas também fontes gráficas, como gravuras e desenhos de outras épocas, ou bibliografia específica sobre o assunto seja relacionada com os quatro casos de estudo, com Duarte de Armas ou com o desenho e as TIC na compreensão e divulgação do património. Naturalmente que, a tudo isto, se associa toda a informação fundamental que o trabalho de campo aporta. Numa segunda fase são traçadas planimetrias em CAD constituindo uma síntese da informação anteriormente recolhida. Estes desenhos, por sua vez, constituem a base para a reconstituição espacial propriamente dita. Finalmente são realizadas simulações de maquetes virtuais 3D reproduzindo uma hipótese do que outrora poderão ter sido estas fortificações.Em síntese, a partir do cruzamento de inúmeros dados e da sua transposição para desenho, esta dissertação tem como objetivo permitir ao público em geral visualizar o que terão sido algumas das fortificações da primeira década do século XVI, concretamente ao nível do preenchimento dos seus pátios de armas, espaços outrora centrais e densos de construções e atividades e que hoje vemos vazios e incompreensíveis na dinâmica das estruturas militares.