Influência dos D-dímeros no risco tromboembólico em doentes com COVID-19 internados nos Cuidados Intensivos

Abstract

Introdução: Doentes com COVID-19 têm uma maior incidência de eventos tromboembólicos (ETE). A literatura atual mostra que estes doentes apresentam uma maior tendência procoagulante e mostram um potencial marcador global de ativação hemostática, os D-dímeros (D-d), pelo que há a necessidade de os avaliar e de iniciar anticoagulação profilática, especialmente em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI). Atualmente, não há consenso acerca dos níveis de D-d preditores de novos ETE. Este estudo pretende avaliar se os níveis de D-d à admissão numa UCI estão relacionados com um aumento do risco tromboembólico durante o internamento nesta Unidade e determinar um eventual valor de cut-off preditor de futuros eventos.Materiais e Métodos: Trata-se de um estudo unicêntrico, observacional e retrospetivo, realizado em doentes com o diagnóstico de COVID-19, hospitalizados numa UCI de um hospital central entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021. Todos os dados foram coletados após consulta de processos clínicos e analisados através da IBM SPSS Statistics 28. De modo a avaliar o valor dos D-d para o risco tromboembólico e prognóstico (sobrevivência) nos doentes e determinar um valor cut-off preditor, foram realizadas regressões logísticas (RL) e uma análise ROC, respetivamente.Resultados: Incluíram-se 116 doentes, 38 (32,8%) do sexo feminino e 78 (67,2%) do sexo masculino, com uma idade mediana de 62 (27-86) anos. Dos doentes incluídos, 16 (13,8%) apresentaram ETE (2 deles com 2 eventos) e 46 doentes (39,7%) faleceram. Destes 18 ETEs, 8 (44,4%) apresentaram tromboses venosas profundas (TVP), 3 (16,6%) tromboembolismos pulmonares (TEP), 3 (16,6%) acidentes vasculares cerebrais (AVC) arteriais, 3 (16,6%) eventos trombóticos do membro superior (ETMS) e 1 (5,6%) enfarte agudo do miocárdio (EAM). O modelo de RL mostra que o aumento dos níveis de D-d, à admissão na UCI, se relaciona de forma estatisticamente significativa, com o risco de desenvolver ETE (p=0,011; risco relativo=1,00005175). No entanto, não se observou um aumento de risco para mortalidade de acordo com os níveis à admissão de D-d (p=0,727). A análise ROC revelou um valor cut-off preditor de D-d superior a 763 ng/mL (sensibilidade de 76,5%; especificidade de 63,7%).Discussão e Conclusão: Os níveis de D-d à admissão numa UCI são um fator de risco a considerar quanto à probabilidade de desenvolvimento de ETE em doentes com COVID-19. Os nossos resultados sugerem que estes níveis podem ser preditores de novos eventos. Apesar disso, não estão correlacionados com sobrevivência. Como continuam a ocorrer ETE, novas investigações são necessárias para otimizar a terapêutica anticoagulante profilática.

Introduction: Patients with COVID-19 have a higher incidence of thromboembolic events (TE). The current literature showed that these patients have a tendency to a procoagulation state, and it shows a global marker of hemostasis activation, D-dimers (D-d), which prompted the need to assess them at hospital admission and start anticoagulation (AC) prophylaxis, especially in intensive care unit (ICU) hospitalizations. At the moment, there is no consensus about the levels of D-d that could predict new TE. This study intends to determine whether D-d levels at hospital admission are related with an increased risk for TE during ICU hospitalization and determine an eventual cut-off level that could predict the risk of these events.Methods: This study is retrospective, observational and single-center, performed in patients with an established diagnosis of COVID-19, who underwent hospitalization in the ICU of a tertiary care hospital between December 2020 and January 2021. Data were collected through clinical medical records and analyzed using IBM SPSS Statistics 28. To evaluate the predictive value of D-d on TE risk and survival in patients at ICU admission and to determine the cut-off level that would better predict TE, logistic regressions and a ROC analysis were performed, respectively.Results: 116 patients were included, 38 (32.8%) females and 78 (67.2%) males, with a median age of 62 (27-86) years old. 16 (13.8%) patients presented with thromboembolic events (2 of them with 2 TE) and 46 (39.7%) patients passed away during ICU stay. Out of the 18 total TE, there were 8 (44.4%) deep vein thrombosis, 3 (16.6%) pulmonary embolisms, 3 (16.6%) arterial strokes, 3 (16.6%) upper limb thrombotic events and 1 (5.6%) myocardial infarction. The logistic regression model shows that increased D-d levels at ICU admission are statistically significant on the likelihood to have TE (p=0.011; relative risk=1.00005175). However, there was no increased risk of mortality according to the levels at admission of D-d (p=0.727). The ROC analysis determined a cut-off value of 763 ng/mL (sensibility of 76.5% and specificity of 63.7%).Summary/Conclusion: D-d levels at ICU admission are a risk factor to account for on the likelihood of future TE on COVID-19 patients. Our results suggest that these levels, at ICU admission, can be predictive of future TE. Despite these findings, D-d levels at admission are not correlated to survival. Since there were still patients with TE, further investigation is needed to establish criteria for an upgraded and optimized AC.