COMPANHIA DE DIAMANTES DE ANGOLA: UM CASO DE ESTUDO DE CONDIÇÕES CONTRIBUTIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE CANCRO

Abstract

Resumo: Durante a primeira metade do século XX, a biomedicina considerava o cancro como uma doença rara e até mesmo inexistente em África. Parte destas narrativas perduraram no tempo e influenciaram, até ao fim do século, a atenção prestada a esta doença. Este trabalho tem como objetivo construir um perfil epidemiológico do cancro na Lunda, Angola, através de uma etnografia de arquivo. Desta forma, foram analisados diversos arquivos da Companhia de Diamantes de Angola (Diamang). Através desta investigação foi possível estudar os fatores sociopolíticos e ecológicos que influenciaram o desenvolvimento de cancro entre os trabalhadores africanos na Lunda, no século XX. De acordo com a informação retirada dos Arquivos do Serviço de Saúde da Diamang (SSD) existe uma predominância de alguns tipos de neoplasias. Assim sendo, serão analisados fatores políticos, laborais, sociais e ecológicos, criados pela interação entre trabalhador e Companhia, que estão diretamente relacionados com o surgimento destas neoplasias. Desta forma, foram analisados diversos fatores que contribuem para a redução da qualidade de vida e de saúde dos trabalhadores da Companhia. Entre estes destaca-se as condições laborais, a alimentação, o urbanismo e condições de habitação e o impacto ecológico da exploração mineira. Estes fatores são alimentados por um contexto sociopolítico caracterizado por altas disparidades, privações e violência que acentuam as camadas de vulnerabilidade e risco vivenciadas pelos trabalhadores. O caso da Diamang é particularmente interessante uma vez que constitui um laboratório social e biológico. A criação da Companhia atraiu, por meios dúbios, vários tipos de trabalhadores que seriam separados em categorias. As condições, mais ou menos perigosas, cansativas e de risco, dependiam da categoria onde o trabalhador era inserido. Não obstante, trabalhadores africanos estariam sempre expostos a condições mais árduas que os empregados europeus. Desta forma, é possível avaliar o impacto e influencia que fatores de ordem social e ecológico têm para o desenvolvimento de cancro.

Abstract:During the first half of the 20th century, biomedicine considered cancer to be a rare and even non-existent disease in Africa. Part of these narratives lasted over time and influenced, until the end of the century, the attention paid to this disease. This work aims to build an epidemiological profile of cancer in Lunda, Angola, through an archival ethnography. In this way, several files of the Diamond Company of Angola (Diamang) were analyzed. Through this investigation it was possible to study the sociopolitical and ecological factors that influenced the development of cancer among African workers in Lunda in the 20th century.According to information taken from the Diamang Health Service Archives (SSD) there is a predominance of some types of neoplasms. Therefore, political, labor, social and ecological factors, created by the interaction between worker and Company, which are directly related to the emergence of these neoplasms, will be analyzed.These factors are fueled by a sociopolitical context characterized by high disparities, deprivation and violence that accentuate the layers of vulnerability and risk experienced by workers. The case of Diamang is particularly interesting as it constitutes a social and biological laboratory. The creation of the Company attracted, through dubious means, various types of workers who would be separated into categories. The conditions, more or less dangerous, tiring and risky, depended on the category where the worker was inserted. However, African workers would always be exposed to more arduous conditions than European employees. In this way, it is possible to assess the impact and influence that social and ecological factors have on the development of cancer.