Obstipação no idoso

Abstract

A obstipação é um distúrbio gastrointestinal comum com um impacto significativo na qualidade de vida dos idosos e na gestão dos recursos de saúde, sendo assim considerado um problema de saúde pública. Devido à falta de uniformidade de critérios diagnósticos, a prevalência da obstipação varia entre os diferentes estudos epidemiológicos. É, contudo, consensual que se trata de uma condição clínica comum na população geral, cuja prevalência é maior na população idosa. É importante salientar que a obstipação não é uma consequência fisiológica do processo de envelhecimento e que a sua predominância nesta faixa etária tem como contributos a presença de condições médicas crónicas, o uso de medicação crónica, alterações na dieta e estilo de vida, anomalias estruturais no intestino, hipossensibilidade retal e fraqueza dos músculos abdominais e do pavimento pélvico. Questões psicossociais e comportamentais também são importantes no desenvolvimento da obstipação. A apresentação clínica da obstipação em idosos parece ser diferente de outras populações, relatando mais frequentemente sintomas de defecação difícil. As principais complicações da obstipação em idosos são a impactação e a incontinência fecais. As recomendações para o tratamento da obstipação seguem uma abordagem gradual. Após uma história clínica e um exame físico completo, na ausência de sinais de alarme e de causas secundárias de obstipação, a abordagem correta do idoso obstipado passa pelo tratamento não farmacológico. Caso os pacientes não respondam a este tratamento, a administração de laxantes de volume, laxantes osmóticos, laxantes estimulantes e agentes secretores deve ser feita de forma sequencial. Uma abordagem de tratar e testar é prática e económica. Apenas em idosos com obstipação refratária ao tratamento, alguns testes funcionais são úteis para esclarecer a etiologia da obstipação. Se nestes for identificada uma defecação dissinérgica o biofeedback é o tratamento de escolha. Em última linha, a cirurgia pode ser uma opção, tendo em conta as altas taxas de morbilidade e mortalidade associadas a pacientes com idade avançada.Agentes mais recentes com alvos fisiológicos específicos provaram ser eficazes em adultos com obstipação crónica, no entanto, faltam dados sobre o seu perfil de segurança em idosos. A falta de evidências de alta qualidade sobre a segurança e eficácia dos laxantes em idosos é problemática, pois esta é a população com maior necessidade de tratamento seguro e eficaz da obstipação.

Constipation is a common gastrointestinal disorder with considerable impact on quality of life of the elderly and on the health expenses, thus being considered a public health problem. Due to the lack of uniform diagnostic criteria, the prevalence of constipation varies between different epidemiological studies. However, it is consensual that is a common clinical condition in the general population, witch prevalence is higher in the elderly population. It is important to point out that constipation is not a physiological consequence of normal aging and that the predominance in this age group is a result of chronic medical conditions, chronic medication use, changes in diet and lifestyle, intestinal structural abnormalities, rectal hyposensitivity and weakness of abdominal and pelvic floor muscles. Psychosocial and behavioral issues are also important in the development of constipation. The clinical presentation of constipation in the elderly appears to be different from other populations, the elderly report more often difficult stool passage. The main complications of constipation in the elderly are faecal impaction and faecal incontinence. Recommendations for the treatment of constipation follow a stepwise approach. After a clinical history and a complete physical examination, in the absence of alarm signs and secondary causes of constipation, the correct approach for the constipated elderly goes through non-pharmacological treatment. If patients do not respond to this treatment, the administration of bulking forming laxatives, osmotic laxatives, stimulating laxatives and secretagogues should be performed sequentially. A treat and test approach is practical and economical. Only in the elderly with constipation refractory to treatment, some functional tests are useful to clarify the etiology of constipation. If dyssynergic defecation is identified, biofeedback is the treatment of choice. Ultimately, surgery may be an option, taking into account the high rates of morbidity and mortality associated with elderly patients.Newer agents with specific physiologic targets have proven to be effective in adults with chronic constipation, but data is lacking for safety profile in the elderly. The lack of high-quality evidence of the safety and effectiveness of laxatives in older adults is problematic as this is the population with the highest need for safe and effective management of constipation.