Fenomenologia obsessivo-compulsiva no período perinatal: correlatos e fatores de risco

Abstract

Introdução: O período perinatal, principalmente o pós-parto, aumenta o risco de início ou exacerbação da perturbação obsessivo-compulsiva (POC). Apesar das várias teorias acerca da sua etiologia, a investigação sobre os seus correlatos e fatores de risco é ainda muito escassa e o seu papel ainda não foi estudado no contexto da gravidez e do pós-parto. Objetivo: O presente estudo propõe-se a explorar quais os correlatos e fatores de risco da fenomenologia obsessivo-compulsiva (OC) perinatal. Materiais e Métodos: Participaram 354 mulheres (média de semanas de gestação=17.86±4.74), com gravidezes não complicadas, das quais 136 (38.3%) voltaram a ser avaliadas entre o segundo e o sexto meses após o parto (idade média dos bebés=18.30±6.83 semanas). Foram usados questionários validados, para avaliar diversas variáveis, nomeadamente sociodemográficas, obstétricas, da história clínica, psicossociais e psicológicas (personalidade, regulação emocional cognitiva, estados emocionais e níveis de perturbação psicológica). A gravidade e interferência da sintomatologia OC (variáveis dependentes/VD) foram avaliadas com as versões portuguesas (gravidez e pós-parto) da Perinatal Obsessive-Compulsive Scale (Pereira et al. 2019). No pós-parto todas as participantes foram avaliadas com a Diagnostic Interview for Psychological Distress, que inclui o diagnóstico de POC (VD). Resultados: As variáveis que se revelaram preditores significativos da gravidade e interferência da sintomatologia OC tanto na gravidez (estudo transversal) como no pós-parto (estudo prospetivo) foram: primiparidade, história de perturbação psiquiátrica, acontecimento de stresse no último ano, perceção de apoio do companheiro e familiares/amigos, níveis aumentados de depressão e de ansiedade, afeto negativo, perfecionismo e pensamento repetitivo negativo. No pós-parto, além destes, foram também preditores a gravidade e interferência da sintomatologia OC na gravidez e as crenças disfuncionais relacionadas com a maternidade. Os preditores do diagnóstico de POC no pós-parto (n=4;2.9%) (variáveis medidas na gravidez) foram: gravidade da sintomatologia OC, sintomatologia ansiosa e perfecionismo auto-orientado.Discussão: Este estudo contribuiu para a identificação de alguns correlatos e fatores de risco da fenomenologia OC perinatal, tópico cujo conhecimento permanecia muito escasso. Confirma-se que a etiologia é multidimensional e inclui fatores potencialmente modificáveis que podem vir a ser abordados em programas de prevenção e intervenção precoce.

Introduction: The risk of first-onset or worsening of Obsessive-Compulsive Disorder (OCD) increases in the perinatal period, especially in the postpartum. Although there are several theories about its etiology, research on their correlates and risk factors is still very scarce and their role has not been studied yet in the context of pregnancy and postpartum. Objectives: The present study aims to explore correlates and risk factors of perinatal obsessive-compulsive (OC) phenomenology.Materials and Methods: 354 women participated (mean gestational weeks = 17.86 ± 4.74), with uncomplicated pregnancies, of which 136 (38.3%) were evaluated again between the second and the sixth months postpartum (mean age of babies = 18.30 ± 6.83 weeks). Validated questionnaires were used to assess several variables, namely socio-demographic, obstetric, clinical history, psychosocial and psychological (personality, cognitive emotional regulation, emotional states and levels of psychological disturbance). The severity and interference of OC symptoms (dependent variables) were assessed using the Portuguese versions (pregnancy and postpartum) of the Perinatal Obsessive-Compulsive Scale (Pereira et al. 2019). In the postpartum period, all participants were evaluated using the Diagnostic Interview for Psychological Distress, which includes the diagnosis of POC.Results: The variables that proved to be significant predictors of the severity and interference of OC symptoms in both pregnancy (cross-sectional study) and postpartum (prospective study) were: primiparity, history of psychiatric disorder, stress event in the last year, perceived support from the partner and family/friends, levels of depression and anxiety, negative affect, perfectionism and negative repetitive thinking. In the postpartum period, in addition to these, the severity and interference of OC symptoms in pregnancy and dysfunctional beliefs related to motherhood were also predictors. The diagnostic predictors of OCD in the postpartum period (n=3; 2.2%) (variables measured in pregnancy) were: severity of OC symptoms, anxious symptoms and self-prescribed perfectionism.Discussion: This study contributed to identify some correlates and risk factors of perinatal OC phenomenology, a topic that remained scarcely investigated. It is confirmed that the etiology is multidimensional and that it includes potentially modifiable factors that can be addressed in prevention and early intervention programs.