Disfunção das cordas vocais como comorbilidade na asma: impacto na resposta terapêutica e sintomatologia

Abstract

Introdução: A disfunção das cordas vocais (DCV) é uma entidade clínica que cursa com uma adução desajustada das cordas vocais durante a ventilação e apresenta uma sintomatologia bastante sobreponível com a asma, integrando a lista de diagnósticos diferenciais desta patologia. Cerca de 40% dos asmáticos graves apresentam disfunção das cordas vocais, sugerindo a possibilidade desta entidade ser uma importante comorbilidade nesta patologia respiratória. Este trabalho investigou a prevalência de disfunção das cordas vocais em doentes com o diagnóstico de asma já estabelecido, bem como o impacto desta patologia na sintomatologia e resposta à terapêutica. Métodos: Foi conduzido ao longo de cinco meses um estudo transversal com 30 doentes, que frequentaram a consulta de Asma Difícil/Severa do Serviço de Pneumologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra. Os doentes foram submetidos a dois questionários. Para avaliar a sintomatologia e o controlo da patologia asmática foi utilizado o Teste de Controlo da Asma e Rinite Alérgica (CARAT). Um questionário baseado no índice de Pittsburgh foi usado para fazer suspeição diagnóstica de DCV. Foram também recolhidos dados relativos à presença concomitante de doença do refluxo gastroesofágico, patologia ansiosa-depressiva, atopia, o grau terapêutico e o fenótipo da asma.Resultados: 73,3% dos doentes apresentaram um score sugestivo de DCV. Estes doentes obtiveram pontuações médias inferiores na generalidade das dimensões da escala CARAT face ao grupo de controlo. Um mau controlo relativo às vias aéreas inferiores esteve significativamente associado à presença de score sugestivo de DCV (p=.029). O Índice Pittsburgh mostrou estar negativamente correlacionado com o score de Obstrução Nasal do questionário CARAT (r=-0,398; p=.029) e com o score de Controlo Relativo às Vias aéreas superiores do CARAT (r=-0,362; p=.049). A presença de um mau controlo relativo às VAI mostrou conferir um risco 10 vezes superior de desenvolver DCV.Discussão: Os achados deste estudo vão ao encontro da literatura existente, que reporta um maior número de exacerbações, hospitalizações, recurso a medicação e pior controlo da asma em doentes com DCV. O efeito confundidor das variáveis incluídas no estudo, a dimensão e a conveniência da amostra e o viés de resposta poderão ter tido impacto nos resultados obtidos.Conclusão: Este estudo mostrou que a DCV é possivelmente uma comorbilidade subdiagnosticada em asmáticos severos e que a suspeição desta patologia influenciou negativamente a generalidade da sintomatologia associada à asma e dificultou o controlo relativo à sintomalogia das vias aéreas inferiores.

Background: Vocal cord dysfunction (VCD) is a clinical entity that develops a maladjusted adduction of vocal cords during ventilation and presents symptoms that are quite overlapping with asthma, integrating the list of differential diagnoses of this pathology. Approximately 40% of severe asthmatics have vocal cord dysfunction, suggesting the possibility that this entity is an important comorbidity in this respiratory pathology. This work investigated the prevalence of vocal cord dysfunction in patients with an established asthma diagnosis, as well as the impact of this pathology on symptoms and response to therapy.Methods: A cross-sectional study with 30 patients was conducted over a period of five months, who attended the consultation for Difficult / Severe Asthma at the Department of Pulmonology at the Hospitais da Universidade de Coimbra. The patients were submitted to two questionnaires. Asthma and Allergic Rhinitis Control Test (CARAT) was used to assess the symptoms and control of asthmatic pathology. A questionnaire based on the Pittsburgh index was used to make a suspected VCD diagnosis. Data were also collected regarding the concomitant presence of gastroesophageal reflux disease, anxious-depressive pathology, atopy, the therapeutic grade and the asthma phenotype.Results: 73.3% of patients had a score suggestive of VCD. These patients obtained lower mean scores in most dimensions of the CARAT scale compared to the control group. Poor control over the lower airways was significantly associated with the presence of a score suggestive of VCD (p = .029). The Pittsburgh Index was shown to be negatively correlated with the Nasal Obstruction score on the CARAT questionnaire (r = -0.398; p = .029) and with the CARAT score for the Upper Airway Control (r = -0.362; p = .049). The presence of poor control over VAIs has been shown to confer a 10 times greater risk of developing VCD.Conclusions: This study showed that VCD is possibly an underdiagnosed comorbidity in severe asthmatics and that the suspicion of this pathology negatively influenced the generality of the symptoms associated with asthma and made it difficult to control the symptoms of the lower airways. The findings of this study are in line with the existing literature, which reports a greater number of exacerbations, hospitalizations, use of medication and worse asthma control in patients with VCD. The confounding effect of the variables included in the study, the size and convenience of the sample and the response bias may have had an impact on the results obtained.