Dor génito-pélvica crónica feminina: uma revisão da literatura

Abstract

Introdução e Objetivos: a disfunção da dor génito-pélvica/penetração (DDGPP) é uma disfunção sexual feminina recentemente estabelecida no DSM-5 e abrange na sua definição o vaginismo e a dispareunia. Apesar de semelhantes, a DDGPP e a vulvodinia são consideradas duas afeções distintas e são muitas vezes negligenciadas pelos profissionais de saúde devido à sua complexidade e à carência generalizada de informação. Através do levantamento bibliográfico pretende-se caracterizar a DDGPP e a vulvodinia de acordo com o panorama atual presente na literatura de forma a capacitar os médicos para a melhor abordagem e acompanhamento destas condições.Materiais e Métodos: procedeu-se à pesquisa de literatura médica relativa à epidemiologia, etiologia, clínica, diagnóstico, tratamento, prevenção e prognóstico da DDGPP e da vulvodinia contida nas bases bibliográficas médicas Pubmed e Embase. Não foi estabelecido um limite temporal da datação dos estudos. A pesquisa foi realizada na língua inglesa.Resultados: de um total de 564 artigos, 174 foram usados para a construção deste trabalho e 390 foram excluídos por não abordarem em específico as duas entidades sob revisão.Conclusão: a DDGPP e a vulvodinia possuem prevalências significativas e afetam, maioritariamente, mulheres em idade reprodutiva. As etiologias multifatoriais interlaçam variáveis biomédicas, psicológicas e interpessoais, que têm um papel no desencadeamento e na manutenção destas entidades. Clinicamente são semelhantes e cursam predominantemente com dor vulvovaginal associada ao coito. O diagnóstico é baseado numa história clínica e num exame físico detalhados, formalizados após a exclusão de outras patologias orgânicas. O médico deverá estar atento a sinais na história e no exame ginecológico que sejam sugestivos de fatores etiológicos específicos, passivos de uma abordagem terapêutica dirigida. O tratamento destas duas condições deve ser multidisciplinar e adaptado a cada caso. A psicoterapia, a terapia sexual e a fisioterapia começam a obter resultados significativos na diminuição da dor e na melhoria da função sexual, levando a uma qualidade de vida aumentada e a uma maior satisfação e realização do casal no seu relacionamento romântico. O uso de fármacos tópicos, injetáveis ou sistémicos não é recomendado para todos os casos, devendo ser ponderados visto que grande parte não mostrou benefício ou ainda está a ser alvo de estudos. Os procedimentos cirúrgicos parecem ter efeitos positivos na vulvodinia provocada ao nível da intensidade da dor, mas devem ser usados como último recurso terapêutico por serem extremamente invasivos. A forma como o casal regula as suas emoções e as suas respostas cognitivas e motivacionais em conjunto tem um papel determinante no prognóstico da DDGPP e da vulvodinia, sendo fundamental abordá-la no tratamento de forma a que ocorra a remissão destas duas entidades.

Introduction and Objectives: genito-pelvic pain/penetration disorder (GPPPD) is a female sexual dysfunction recently categorized in the DSM-5 and includes both vaginismus and dyspareunia in its definition. It is an entity which bears resemblance to vulvodynia, but these two illnesses are considered different and are both neglected by the health professionals due to their complexity and the general lack of data. In the present review we pretend to characterize GPPPD and vulvodynia according to the most recent literature so we can empower physicians to the best approach and management of these two pathologies.Material and Methods: we searched the medical literature relating to the epidemiology, etiology, clinical signs and symptoms, diagnosis, treatment, prevention and prognosis of GPPPD and vulvodynia within PubMed and Embase. We didn’t establish a specific temporal limit for the publication dates.Results: a total of 564 papers were assessed and of those 174 were analyzed and 390 were excluded because pertained to areas not directly related to the two diseases under review.Conclusion: GPPPD and vulvodynia are two diseases with a high prevalence among fertile women. The multifactorial etiologies interconnect biomedical, psychological and relational variables which have an important role in the development and maintenance of these two pathologies. Symptoms and signals are similar between these two entities and most women have a genito-pelvic pain that is frequently associated with coitus. The diagnosis is based on a thorough clinical history and physical examination with exclusion of organic pathologies. The clinician must be aware of signals that may be suggestive of a specific etiology that can be directly addressed by a therapeutic approach. The treatment of these two entities must be multidisciplinary and adapted to each patient needs. Psychotherapy, sexual therapy and physical rehabilitation are starting to have significant outcomes in the decrease of pain intensity and in the improvement of sexual function, resulting in a better quality of life and in a fulfilling and satisfactory romantic relationship. The use of topic, intradermal and systemic medications it’s not recommended to all patients and must be weighted since most studies didn’t show benefit or are still ongoing. Surgery seems to have a positive effect on provoked vulvodynia’s pain intensity, but it is considered as a last treatment resource since it is a very invasive method. The way the couple regulates together it’s emotions and cognitive and motivational responses has a determinant role in the prognosis of GPPPD and vulvodynia and is of extreme importance to approach it during the treatment protocol so the remission of these two diseases can occur.