Proporção de doentes com DPOC em Portugal sob a perspetiva da Medicina Geral e Familiar

Abstract

A DPOC é uma patologia respiratória de elevada prevalência, estando previsto que o seu impacto ao nível da Saúde Pública se intensifique nos próximos anos. Recentemente, tem vindo a ser reforçada a relevância da prevenção na gestão da doença, podendo os CSP assumir um papel fulcral. Assim, associando esta ideia à carência de dados epidemiológicos, decidiu-se analisar informação registada no BI-CSP sobre a proporção de doentes com DPOC, com o objetivo de comparar os valores entre regiões, com os já publicados para o território nacional e ainda confrontá-los com os números europeus e mundiais.Realizou-se um estudo observacional transversal, com recurso ao BI-CSP, selecionando-se o indicador 210 - Proporção de doentes com "DPOC". Procedeu-se à comparação dos dados registados para o mês de dezembro dos anos de 2017, 2018 e 2019, para uma amostra representativa de ACeS das cinco ARS, tentando garantir dispersão geográfica. Aplicou-se estatística não paramétrica, já que não se verificou normalidade, considerando-se 0,01 como limite de corte para conferir maior poder estatístico ao trabalho.Não se observaram diferenças estatisticamente significativas na evolução do indicador ao longo do triénio. Contudo, é importante salientar o comportamento dos percentis nesse intervalo de tempo, já que estes sofreram um estreitamento, ou seja, uma diminuição da amplitude interquartil. Verificou-se um decréscimo do indicador a nível nacional ao longo do triénio, sendo que as diferentes ARS apresentaram desempenhos distintos: as ARS Norte e Centro apresentaram evolução consonante com a nacional, a ARS Alentejo resultados irregulares, enquanto que a ARS Algarve manifestou um crescimento sustentado e a ARS LVT um crescimento subtil. O estudo da dinâmica efetuado com base apenas nos ACeS selecionados revelou valores parcialmente concordantes, com resultados divergentes em casos específicos.A disparidade entre dados obtidos nas diversas regiões poderá estar associada a fatores demográficos e a características socioeconómicas, sendo, no entanto, uma associação complexa6de analisar. A homogeneização dos valores encontrados ao longo do triénio terá como possível fundamento as diligências efetuadas recentemente no sentido de aumentar a acuidade diagnóstica nos CSP. Os valores de prevalência estimada em Portugal, determinados pelos estudos publicados, são muito discrepantes entre si, e também quando comparados com o indicador 210, podendo-se atribuir essas incongruências às várias limitações dos estudos e do próprio indicador.O indicador 210 é uma poderosa ferramenta, contudo é vital que seja otimizado, com a criação de indicadores complementares. É essencial fornecer aos CSP os recursos necessários para atuar preventivamente com sucesso e é precisa a realização de novos estudos de prevalência, abrangentes e coerentes. .

COPD (Chronic Obstructive Pulmonary Disease) is a highly prevalent respiratory pathology and its impact on public health is expected to intensify in the coming years. Recently, the relevance of prevention in the management of the disease has been reinforced, and Primary Health Care may assume a key role. Therefore, linking this idea to the lack of epidemiological data, it was decided to analyse information recorded in the “Bilhete de Identidade dos Cuidados de Saúde Primários” platform on the proportion of patients with COPD, with the aim of comparing the values between regions, with those already published for the national territory, and also to compare them with European and world figures.A cross-sectional observational study was performed using the “Bilhete de Identidade dos Cuidados de Saúde Primários” platform, selecting the indicator 210 - Proportion of patients with "COPD". A comparison was made of the data recorded for the month of December of the years 2017, 2018 and 2019 for a representative sample of the five Portuguese health regions, trying to ensure geographical dispersion. Nonparametric statistics were applied, since normality was not verified, considering 0.01 as the cut-off limit to give greater statistical strength to the work.No statistically significant differences were observed in the evolution of the indicator over the three-year period. However, it is important to highlight the behaviour of the percentiles in that time interval, since they suffered a narrowing, i.e. a decrease in the interquartile range. There was a decrease in the indicator at national level over the three-year period, with the different health regions showing different performances: Norte and Centro showed an evolution in line with the national one, Alentejo showed irregular results, while ARS Algarve showed sustained growth and ARS LVT a subtle growth. The study of the dynamics carried out based only on the selected health regions revealed partially concordant values, with divergent results in specific cases.The disparity between data obtained in different regions may be associated with demographic factors and socio-economic characteristics, but it is a complex association to analyse. The8homogenization of the values found over the three-year period will be based on recent efforts to increase the diagnostic accuracy in Primary Health Care. The estimated prevalence values in Portugal determined by published studies are very discrepant and are also quite distinct when compared with indicator 210, and these inconsistencies can be attributed to the various limitations of the studies and of the indicator itself.The 210 indicator is a powerful tool, but it is vital that it is optimized by creating complementary indicators. It is essential to provide CSPs with the necessary resources to act preventively successfully and new comprehensive and coherent prevalence studies are required.