Doença Vascular do Enxerto e Tranplantação Cardíaca no Adulto

Abstract

Introdução: A doença vascular do enxerto (DVE) cardíaco é uma interação complexa entre fatores imunológicos e não imunológicos. Desta, resulta uma lesão vascular e resposta inflamatória sustentadas localizada que ocasiona uma forma invulgarmente acelerada e difusa de arteriosclerose coronária obliterante, impactando a médio e longo prazo na função do coração transplantado. A DVE permanece como um dos grandes fatores condicionantes da sobrevivência após o transplante cardíaco. Objetivo: Este estudo tem como objetivo primário avaliar a incidência de preditores de desenvolvimento de DVE em dois grupos de doentes transplantados no Centro de Cirurgia Cardiotorácica – CHUC, e como objetivo secundário comparar a incidência destes preditores, juntamente com a morbimortalidade associada.Métodos: Realizou-se uma análise retrospetiva de uma coorte de 383 doentes, consecutivamente transplantados, no Centro de Cirurgia Cardiotorácica – CHUC, entre novembro de 2003 a dezembro de 2019. Os doentes foram agrupados em 2 grupos – Grupo A (protocolo inicial de imunossupressão) e B (protocolo de imunossupressão modificado) – de acordo com o esquema de imunossupressão a que foram submetidos. Foram recolhidos os seguintes dados: sobrevivência, fatores de risco cardiovascular pré-transplante, causa de morte, grau de rejeição aguda máximo detetado, DVE, neoplasia, Ciclosporinémia e Tacrolinémia média no 1º ano pós-transplante, existência de infeções graves no 1º ano pós-transplante e existência de reinfeção por CMV. Resultados: Foram incluídos 288 doentes, 221 do género masculino (76,70%) e 67 do género feminino (23,30%). A idade média dos recetores foi de 54,66 ± 10,58 anos, e a idade média dos dadores de 36,95 ± 11,79 anos. Encontrou-se uma sobrevivência média global de 12,08 ± 0,35 anos e, ao 5º ano pós-transplante, 194 doentes estavam vivos (86,20%). A sobrevivência livre de DVE foi estimada em 13,58 ± 0,31 anos e a sobrevivência livre de neoplasia em 11,19 ± 0,35 anos. Quando comparados os dois grupos, foram encontradas diferenças estatisticamente significativas em relação à sobrevivência média (p<0,01) e à sobrevivência livre de neoplasia (p<0,05), sendo estas superiores no grupo B. Conclusões: A DVE permanece como um fator determinante na sobrevivência e a qualidade de vida do transplantado. Os resultados sugerem haver benefício do protocolo de imunossupressão modificado no curso natural da DVE, nomeadamente no que concerne à sobrevivência global e incidência de neoplasias.

Background: Cardiac Allograft Vasculopathy (CAV) is a complex interaction between immune and non-immune factors. This results in a sustained inflammatory response and a repetitive vascular lesion disease leading to and accelerated and unusual form of obliterative diffuse coronary atherosclerosis, conditioning medium and long-term cardiac allograft function. CAV remains as one of the main factor conditioning patient’s survival after cardiac transplantation. Objective: This article has a primary endpoint of evaluating the incidence of some predictor factors of development of CAV in Centro de Cirurgia Cardiotorácica – CHUC’s two groups of transplanted patients and as secondary endpoint of comparing the incidence of these factors along with the morbimortality associated.Methods: A retrospective analysis of a cohort of 383 consecutively transplanted patients of Centro de Cirurgia Cardiotorácica – CHUC, from January 2003 to December 2019, was performed. Patients were divided in 2 groups – A (initial immunosuppression protocol) and B (modified immunosuppression protocol) – according to which immunosuppressive therapy were submitted. The following data was collected: Patients’ survival, latest status, pre-transplant cardiovascular risk factors, cause of death, maximum detected acute rejection grade, CAV, neoplasia, Ciclosporinemia and Tacrolinemia average on the 1st year post-transplant, development of severe infections on the 1st year post-transplant and CMV reinfection.Results: 288 patients were included, being 221 males (76,70%) and 67 females (23,30%). Population age averaged 54,66 ± 10,58 years. Donors’ age averaged 36,95 ± 11,79 years. Estimated average survival was estimated as 12,08 ± 0,35 years and overall survival at 5 years was 86,20%. Overall survival in function of donor’s age was 12,08 ± 0,35 years and 12,16 ± 0,42 years in function of recipient’s age. Estimated survival free of CAV was 13,58 ± 0,31 years and survival free of cancer was 11,19 ± 0,35 years. Statistically significant differences were found in relation to average survival (p<0,01) and cancer-free survival (p<0,05), being superior in Group B when studied by groups.Conclusions: CAV remains as one important factor in patients’ survival and quality of life. Results suggest a benefit of the modified immunosuppression protocol in CAV’s natural progression, namely in what concerns to overall survival and cancer incidence.