Resultados a longo prazo de lentes intra-oculares fáquicas de fixação à iris: segurança visual e endotelial

Abstract

IntroduçãoAs lentes intraoculares fáquicas (pIOL), independentemente da classe, têm excelentes resultados refrativos associados a baixas taxas de complicações intra-operatórias e durante o pós-operatório imediato. As orientações atuais sobre os critérios de implantação e os protocolos de seguimento são baseados em consensos de especialistas. Para além disso, existe uma carência de estudos na literatura com seguimentos prolongados, de forma a avaliar o perfil de segurança endotelial. Assim, este trabalho propõe caracterizar uma coorte retrospetiva, com um período de seguimento mínimo de 5 anos, monitorizando a evolução da contagem de células endoteliais (ECD) após implantação de lentes fáquicas rígidas ou flexíveis.MétodosEstudo retrospetivo que inclui 124 olhos de 73 doentes submetidos a cirurgia refrativa com lentes fáquicas rígidas (Artisan Myopia and Hyperopia, Ophtec BV; Verisyse, Abbott Medical Optics) ou flexíveis (Artiflex Myopia, Ophtec BV; Veriflex (Abbott Medical Optics)), com um follow-up mínimo de 5 anos e profundidade da câmara anterior (endoACD) mínima de 2.8 mm. Os preditores da perda de células endoteliais (EC) foram avaliados com recurso a regressões lineares. Para calcular o índice de segurança utilizou-se o rácio entre a média da acuidade visual corrigida (DCVA) pós-operatória (na visita dos 5 anos) e a média da DCVA pré-operatória.ResultadosForam incluídos 51 olhos no grupo das lentes rígidas (tempo de seguimento médio de 7.3 anos) e 73 olhos no grupo das lentes flexíveis (tempo de seguimento médio de 6.8 anos). A perda anual de células endoteliais foi de 53.47 células/mm2 (-1.84%/ano) no grupo das lentes rígidas e de 35.05 células/mm2 (-1.28%/ano) no grupo das lentes flexíveis, o que demonstra uma diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos (p= 0.050). No grupo das lentes rígidas, uma menor profundidade de câmara anterior bem como um aumento absoluto nas contagens pré-operatórias das células endoteliais foram preditores significativos e independentes de uma maior perda de EC de acordo com um modelo de regressão linear bivariada. (p= 0.002 e p= 0.001, respetivamente). Contudo, dentro do grupo das lentes flexíveis, essa associação apenas foi encontrada para as contagens pré-operatórias (p= 0.009), e não para a profundidade de câmara anterior (p= 0.242). O índice de segurança foi de 1.32±0.32 e 1.16±0.28 para as lentes rígidas e flexíveis, respetivamente.DiscussãoNa coorte retrospetiva estudada, foram encontradas perdas de células endoteliais similares ou superiores à perda fisiológica esperada, em ambos os grupos analisados (lentes fáquicas flexíveis e rígidas). Enquanto uma contagem superior de células endoteliais pré-operatória está associada a uma maior perda de EC em ambos os grupos, uma menor profundidade da câmara anterior foi apenas significativa no grupo das lentes rígidas. Isto sugere que variações pré-operatórias da profundidade da câmara anterior (sempre acima dos 2.8 mm necessários para a implantação) podem não influenciar significativamente a perda de EC em lentes flexíveis, ao contrário do que se verifica nas lentes rígidas. Ambos os grupos apresentam índices de segurança superiores à unidade ao fim de 5 anos, para todos os olhos.

Introduction Phakic intraocular lenses (pIOLs), regardless of type, have excellent refractive results with a low rate of intra and early post-operative complications. Current guidelines for implantation criteria and post-operative management were agreed upon specialist consensus. However long-term follow-up studies are still lacking to better evaluate endothelial safety profile. We purpose to investigate long-term (5-year) endothelial cell density (ECD) changes following implantation of iris-fixated phakic intraocular lenses, rigid and flexible.Methods Retrospective study including 124 eyes of 73 patients receiving pIOLs, either rigid (Artisan Myopia and Hyperopia, Ophtec BV; Verisyse, Abbott Medical Optics) or flexible (Artiflex Myopia, Ophtec BV; Veriflex (Abbott Medical Optics)), with a minimum follow-up of 5 years, all implanted with a minimum endothelial anterior chamber depth (endoACD) of 2.8 mm. Predictors of endothelial cell (EC) loss were evaluated using linear regression analysis. The best corrected visual acuity (DCVA) at the 5-year visit was used to calculate the safety index (post-operative DCVA / pre-operative DCVA).ResultsWe included 51 eyes in the rigid pIOL group (mean follow-up of 7.3 years) and 73 eyes in the flexible pIOL group (mean follow-up 6.7 years). The annualized EC loss was 53.47 cells/mm2 (-1.8%/year) in the rigid pIOL group and 35.05 cells/mm2 (-1.3%/year) in the flexible pIOL group, showing statistically difference between groups (p= 0.050). In the rigid pIOL group, increased absolute preoperative ECD and decreased endoACD were both significant and independent predictors of a higher EC loss rate in a bivariate linear regression model (p= 0.001 and p= 0.002, respectively). Interestingly, in the flexible pIOL group, increased absolute preoperative ECD, but not deceased endoACD, predicted increased EC loss rate in univariate regression analysis (p= 0.009 and p= 0.242, respectively). The safety index was 1.32±0.32 (range 1.00-2.00) and 1.16±0.28 (range 0.80-2.00) in the rigid and flexible group, respectively. DiscussionSimilar or higher than physiologic annualized EC loss rates were found in both groups in a long-term follow-up cohort. While increased preoperative ECD predicted a higher EC loss rate in both groups, a smaller endoACD was only a significant predictor in the rigid pIOL group. This suggests that variations in preoperative endoACD (always above the 2.8 mm required for implantation) may not significantly influence future EC loss rate in flexible pIOLs to the extent that it appears to do in rigid pIOLs. Both pIOLs types have a high safety index with every eye attaining a safety index larger than 1.00 at 5 years of follow-up.