A trama do tempo no álbum ilustrado: movimento, pluralidade e subjetividade no Planeta Tangerina

Abstract

A presente tese intitulada “A trama do tempo no álbum ilustrado: movimento, pluralidade e subjetividade no Planeta Tangerina” investiga o universo ficcional da editora portuguesa Planeta Tangerina a partir da representação do tempo não linear em 14 álbuns ilustrados voltados preferencialmente para o público infantil. Por meio da análise dos livros – publicados em 10 anos de produção editorial (2004-2014) –, este trabalho pretende perceber de que maneira a ruptura da linearidade do tempo, nas imagens e palavras no álbum ilustrado, abre-se para a compreensão do direcionamento temático elegido pela editora. A tese busca também entender as estratégias visuais, textuais e materiais que o Planeta Tangerina utiliza para questionar o tempo cronológico em seus álbuns ilustrados. Além disso, analisa como os temas trabalhados pela editora se articulam com os mecanismos discursivos manipulados nas narrativas. O corpus elegido na tese abrange obras com temas e natureza distintos – como dois álbuns ilustrados imagéticos – mas que confluem na apresentação de diferentes mecanismos discursivos de rompimento do tempo linear. Ao longo da escrita da tese, a metodologia do trabalho se pautou numa análise dos livros norteada pelos estudos teóricos do álbum ilustrado, sobretudo pelas discussões de Ramos, Linden, Nikolajeva e Scott, de forma a criar um diálogo ativo entre a teoria e a leitura das obras. A primeira parte da pesquisa aborda o desenvolvimento histórico do álbum e versa sobre os elementos que afirmam a especificidade dessa categoria de livros, como a relação entre linguagens artísticas, que é, por sua vez, uma das características que definem o conceito de multimodalidade. Traço um breve perfil da editora, analisando as marcas que singularizam a sua produção editorial e que garantem ao grupo um local de destaque no contexto do álbum ilustrado português. Em um momento posterior, no segundo e terceiro capítulos, discuto as tipologias temporais das obras, colocando-as em dois grandes grupos, sendo o primeiro de narrativas sequenciais e o segundo de narrativas fragmentadas. A partir dessa separação e compreendendo que a dimensão temporal possui variados ritmos, investigo cada uma das 10 categorias de tempo percebidas nos álbuns ilustrados e, para tal, convoco outros campos do saber para melhor entender a dinamicidade dos aspectos temporais, especialmente as contribuições trazidas por Bachelard, Benjamin, Ricoeur, Heise. O último capítulo do trabalho coloca em diálogo o tempo com sua vertente correlacional, a saber, o espaço numa perspectiva cronotópica (Bakhtin). A modo de conclusão, a tese volta-se para a percepção dos lugares simbólicos delineados pela editora, nas diferentes narrativas, por meio do tempo não homogêneo. Ao percorrer as 14 obras selecionadas, nota-se que a temporalidade subjetiva vista nas relações intergeracionais, a ecoliteracia e a imaginação sinalizam ser as principais concepções estéticas e editoriais que caracterizam parte da produção do Planeta Tangerina.