O Modelo Múltiplas Perspetivas aplicado ao ensino da Ética: um estudo no ensino secundário

Abstract

A escola contemporânea é hoje confrontada com profundas e inquietantes mudanças decorrentes das complexas transformações que são características das sociedades globalizadas. Face ao mundo em transformação urge repensar a educação e o ensino, pois novas e diferentes configurações têm vindo a emergir num cenário singular marcado por imensas especificidades, exigindo uma reflexão profunda sobre a escola, uma vez que inúmeras exigências se perfilam no horizonte e colocam questões às quais a instituição escolar não pode deixar de responder. A escola em mudança é hoje uma realidade consubstanciada, por isso não é despiciendo afirmar que a escola mudou, os alunos possuem características diferentes dos de outrora e possuem dispositivos móveis que podem ser rentabilizados em contexto educativo. Face a todas estas transformações, afigurou-se-nos importante eleger como objeto de análise algumas questões que julgamos serem partes constituintes deste intrigante mosaico que é a realidade equeva onde a escola se inscreve. Para isso e, tendo em consideração a nossa área de formação, a Filosofia, entendemos que seria desafiador abordar um conteúdo do domínio da ética a partir de novos pressupostos didáticos. O trabalho que concretizámos tem como referência o Modelo Múltiplas Perspetivas (MoMuP) baseado na Teoria da Flexibilidade Cognitiva (TFC). Aplicámo-lo ao ensino-aprendizagem da Filosofia, especificamente no ensino secundário, ao décimo ano de escolaridade. O conteúdo selecionado pertence ao domínio da ética e os autores sobre os quais assentou a análise comparativa são Immanuel Kant (1724-1804) e John Stuart Mill (1806-1873). A Filosofia pela sua essência intrínseca é uma disciplina aberta sendo complexa e pouco-estruturada. O MoMuP, bem como a TFC implicam que os conteúdos a tratar sejam complexos e pouco-estruturados, pelo que encontramos nestes requisitos o substrato que fundamenta a sua aplicação à Filosofia. O nosso trabalho visa, assim, aplicar o Modelo Múltiplas Perspetivas (MoMuP) ao ensino da ética e perceber até que ponto este pode potenciar o seu ensino-aprendizagem. O MoMuP assenta no estudo de casos, incentivando a reflexão e estimulando a análise crítica capaz de suscitar nos alunos a flexibilidade cognitiva em domínios avançados do conhecimento. O modelo em questão é constituído por dois processos: a desconstrução de casos e a reflexão e a interação online. Depois de definida a estrutura e as características dos quatro casos baseados neste modelo, utilizou-se para a sua criação a ferramenta eXeLearning+ 2.4.0. Com o objetivo de se aplicar o modelo ao ensino da ética recorremos a um estudo quasi-experimental com recurso a pré e pós-teste envolvendo um grupo de Tratamento que explorou os quatro casos estruturados segundo o MoMuP, e um de Comparação. As técnicas de recolha de dados utilizadas foram o inquérito por questionário, a observação e o diário das sessões de aplicação do estudo. No que concerne aos instrumentos de recolha de dados utilizámos: uma ficha de identificação, testes de avaliação de conhecimentos, questionário de opinião sobre a desconstrução dos casos e questionário de opinião sobre o estudo. Os resultados obtidos nos testes de conhecimentos relevam a existência de diferenças estatisticamente significativas entre o pré e o pós-teste no grupo de tratamento através do teste Wilcoxon signed-rank, bem como no contraste entre os grupos, através do teste Mann-Whitney. Para finalizar é, ainda, relevante referir que os alunos consideraram que os casos disponibilizados, bem como o processo de desconstrução e reflexão os ajudaram a compreender com mais clareza a matéria em estudo e, pela análise efetuada aos resultados dos questionários de opinião, também é possível concluir que a maioria dos aprendentes gostou de ter tido contacto com esta forma diferente de aprender e ensinar Filosofia, especialmente, porque se apoia no uso das tecnologias móveis, o que é uma situação particularmente cara aos alunos da escola de hoje.

The contemporary school is today confronted with profound and disturbing changes arising from the complex transformations that are characteristic of globalized societies. Facing the changing world, it is urgent to rethink education and teaching, since new and different configurations have emerged in a singular scenario marked by immense specificities, requiring a profound reflection on the school, since innumerable requirements are on the horizon and pose questions to which the school cannot fail to respond. The changing school is a substantiated reality today, so it is not deplorable to say that the school has changed, the students have characteristics different from those of other times and the mobile devices have come to stay. Faced with all these transformations, we consider it important to select as an object of analysis some questions that we believe are constituent parts of this intriguing mosaic that is the modern day reality where the school is inscribed. To do this, and considering our area of formation, Philosophy, we understood that it would be challenging to approach the domain of ethics from new didactic presuppositions. The work that we developed is based on the Multiple Perspectives Model (MPM) which is based on Cognitive Flexibility Theory (CFT). We apply it to teaching Philosophy, specifically in secondary education, to the tenth year of schooling. The selected content belongs to the domain of ethics and the authors on which the comparative analysis was based are Immanuel Kant (1724-1804) and John Stuart Mill (1806-1873). Philosophy by its intrinsic essence is an open and speculative discipline, being complex and ill-structured. MPM as well as CFT implies that the contents to be approached are complex and ill-structured, so that we find in these requirements the substance that bases its application to Philosophy. Our work aims, therefore, to apply the Multiple Perspectives Model (MPM) to the teaching of ethics and to understand the extent to which it can enhance its learning. MPM is based on case studies, encouraging reflection and stimulating a critical analysis, thus allowing students to acquire cognitive flexibility in advanced domains of knowledge. The model in question consists of two processes: the deconstruction of cases and the online reflection and interaction. After defining the structure and characteristics of the four cases based on this model, for its creation we used the eXeLearning + 2.4.0 tool. In order to apply the model to ethics, we used a quasi-experimental plan with pre and post-testing involving an experimental group and a control group, both receiving pre and post-tests. Still, within the scope of methodological options, it is worth mentioning that we supplemented our quantity analysis of the data with the use of quality data as well. The data collection techniques used was the inquiry and the observation during the study sessions. Regarding the instruments, we developed: a questionnaire of identification, knowledge assessment tests, a questionnaire of opinion about the deconstruction of the cases and a questionnaire of opinion questionnaire about the study. The analysis of the results allowed us to conclude that the experimental group improved its performance and results in relation to the learning of the content under study. According to Wilcoxon signed-rank the results obtained in the tests of knowledge show the existence of statistically significant differences after the application of MPM. There was also statistically significant differences between the results achieved by the two groups experimental versus control, according to Mann Whitney test. To conclude, it is also important to mention that the students considered that the cases made available, as well as the process of deconstruction and reflection helped them to understand more clearly the subject under study. According to the results of the questionnaires of opinion, it is also possible to conclude that the majority of the learners liked to having had contact with this different way of learning Philosophy, especially because it relies on the use of mobile devices, which is a particularly likable situation for today's schoolchildren who are true "digital natives".