Disfunção da Barreira Hematoencefálica na Esclerose Múltipla: a chave do problema ou da solução?

Abstract

A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença autoimune com elevada incidência a nívelglobal, que atinge em maior escala indivíduos do sexo feminino. Pensa-se que a sua etiologia assenta numa complexa associação de diversos fatores ambientais com determinadas características genéticas preexistentes. Esta doença está associada a uma desregulação do sistema imunitário e afeta o sistema nervoso central (SNC), causando desmielinização e degradação axonal. Assim, a EM assume um caráter neurodegenerativo e neuroinflamatório, com consequências a nível físico, cognitivo e emocional. Este descontrolo da resposta imunitária é considerado o principal responsável pela fisiopatologia da EM, pelo que as armas terapêuticas existentes para modificar o curso da doença se baseiam, fundamentalmente, em mecanismos de imunomodulação. Contudo, a barreira hematoencefálica (BHE) também parece exercer um papel essencial nos processos fisiopatológicos da doença, uma vez que a sua estrutura se encontra comprometida, impedindo o correto desempenho da sua função protetora do SNC. Por outro lado, verifica-se a existência de uma interação bidirecional entre a microbiota intestinal e a BHE, o que influencia a sua estabilidade e integridade.Neste sentido, é importante esclarecer a correlação desta barreira e do ambiente entérico com o desenvolvimento de EM, de modo a poder conceber estratégias farmacológicas promissoras com mecanismos de ação inovadores, capazes de revolucionar o mercado terapêutico desta doença, melhorando a sua evolução, a qualidade de vida e o bem-estar dos doentes.

Multiple sclerosis (MS) is an autoimmune disease with a high global incidence, which impacts female individuals on a larger scale. It is thought that its etiology is based on a complex association of several environmental factors with preexisting genetic features. This disease is associated to an immune system dysregulation and affects the central nervous system (CNS), causing demyelination and axonal damage. Therefore, MS assumes a neurodegenerative and neuroinflammatory character, with physical, cognitive and emotional consequences. This dysregulation of the immune response is considered the main factor responsible for MS pathophysiology, so the existing therapeutic weapons to modify the disease course are mainly based on immunomodulation mechanisms. Nevertheless, the blood-brain barrier (BBB) seems to play an essential role in the pathophysiological processes of the disease, since its structure is compromised, hampering the correct performance of its protective function of the CNS. On the other hand, there is a bidirectional interaction between the gut microbiota and the BBB, which influences its stability and integrity. Thus, it is important to clarify the correlation of this barrier and the enteric environment with the development of MS, so that it is possible to design promising pharmacological strategies with innovative mechanisms of action, capable of revolutionizing the therapeutic market of this disease in order to improve its evolution, patients’ quality of life and well-being.