Bem me quer(o), Mal me quer(o): O papel das memórias de calor e segurança e da autocompaixão no ajustamento psicológico de adolescentes institucionalizados

Abstract

A institucionalização assume-se como uma problemática atual, relacionada com vários indicadores de desajustamento psicológico. Por outro lado, a autocompaixão parece ter um efeito positivo no ajustamento psicológico, atuando como fator protetor no desenvolvimento de psicopatologia. Face a isto, este estudo comparou adolescentes institucionalizados e não institucionalizados em variáveis relacionadas com psicopatologia e bem-estar, e explorou, em adolescentes institucionalizados, possíveis variáveis que poderiam contribuir para a psicopatologia e bem-estar. A amostra incluiu 460 adolescentes não institucionalizados (54.1% raparigas; Midade = 15.32; DP = 1.42) e 171 adolescentes institucionalizados (60.2% raparigas; Midade = 15.56; DP = 1.49). Bem-estar, depressão, ansiedade social memórias precoces de calor e segurança (MPCS), vergonha, autocriticismo, autotranquilização, autocompaixão e medos da compaixão foram avaliados. Não foram encontradas diferenças significativas entre as amostras no bem-estar e no total de autotranquilização/autocompaixão. No entanto, os adolescentes institucionalizados apresentaram menos MPCS, e níveis mais elevados de ansiedade social, depressão, vergonha, autocriticismo e medos da compaixão. As MPCS associaram-se positivamente ao bem-estar, mediados pela ansiedade social e depressão, enquanto a relação destas últimas com o bem-estar foi totalmente mediada pela autocompaixão. As MPCS associaram-se negativamente com a depressão, mediadas pela vergonha externa e autocriticismo, os quais foram mediados pelos medos da compaixão na sua relação com a depressão. Em conclusão, o modo como o indivíduo se relaciona consigo próprio, sendo autocrítico ou autocompassivo, influencia o seu ajustamento psicológico e o desenvolvimento de psicopatologia. O facto de a autocompaixão ter mediado totalmente a relação entre ansiedade social/depressão e bem-estar, e de os medos da compaixão terem mediado a relação da vergonha externa e autocriticismo com a depressão, enfatiza a relevância de terapias focadas na compaixão em abordagens preventivas e terapêuticas com jovens institucionalizados.

Institutionalization is a current problem, related to several indicators of psychological maladjustment. On the other hand, self-compassion seems to have a positive effect in psychological adjustment, acting as a protective factor in the development of psychopathology. Therefore, our study compared institutionalized and non-institutionalized adolescents in variables related to psychopathology and well-being, and explored, in institutionalized adolescents, possible variables that might contribute to psychopathology and well-being. The sample included 460 non-institutionalized adolescents (54.1% girls; Mage = 15.32; SD = 1.42) and 171 institutionalized adolescents (60.2% girls; Mage = 15.56; SD = 1.49). Well-being, depression, social anxiety, early memories of warmth and safeness (EMWS), shame, self-criticism, self-reassurance, self-compassion and fears of compassion were assessed. Significant differences between the samples in well-being and in the total of self-compassion/self-reassurance were not found. However, institutionalized adolescents presented less EMWS, and higher social anxiety, depression, shame, self-criticism and fears of compassion. The EMWS had a positive association with well-being, mediated by social anxiety and depression, while the relationship of the last two variables with well-being was fully mediated by self-compassion. The EMWS had a negative association with depression, mediated by external shame and self-criticism, which were mediated by fears of compassion in their relation with depression. In conclusion, the way the individual relates to the self, being self-critical or self-compassionate seems to impact on psychological adjustment and in the development of psychopathology. The fact that self-compassion fully mediated the relationship between social anxiety/depression and well-being, and that the fears of compassion mediated the relationship of external shame and self-criticism with depression, emphasize the relevance of compassion focused therapies in preventive and therapeutic approaches.