Alimentação como modulador do microbioma na doença de crohn pediátrica: verdade ou mito?

Abstract

A doença de Crohn (DC), uma doença inflamatória intestinal crónica, é uma patologia com prevalência crescente, que em cerca de 25% dos casos se manifesta em idade pediátrica. A fisiopatologia da doença ainda não está completamente esclarecida, mas parece resultar de uma interação de fatores externos (como a dieta ou infeções gastrointestinais), desregulação imune a nível da mucosa intestinal e fatores genéticos. Nestes doentes está descrito uma marcada alteração dos microrganismos comensais intestinais - o microbioma, desconhecendo-se, porém, se estas variações são causa ou consequência da DC.Neste artigo de revisão procurou-se compilar e sistematizar o papel que a alimentação poderá desempenhar no microbioma e, consequentemente, no metabolismo intestinal e inflamação da mucosa.Atualmente, a nutrição entérica exclusiva (EEN) é a primeira linha no tratamento de doentes pediátricos com DC, com eficácia sobreponível e até superior à terapia convencional com corticoesteróides, mas sem os seus efeitos secundários. A EEN encontra-se largamente instituída dada à eficácia empiricamente comprovada, sobretudo nos doentes com atingimento do delgado e tubo digestivo alto. No entanto, o mecanismo que leva à remissão da doença e em que doentes atinge a sua maior eficácia ainda não são claros.Embora seja evidente a influência da EEN na modulação do microbioma, esta revisão evidenciou que a caracterização definitiva dos efeitos da EEN no microbioma cólico ainda não foi totalmente conseguida. A compreensão das suas repercussões a nível metabólico (metaboloma) poderá esclarecer quais os mediadores inflamatórios preponderantes na perpetuação da inflamação do intestino delgado, permitindo identificar terapêuticas biológicas individualizadas.

Crohn's disease (DC), a chronic inflammatory bowel disease, is an increasingly prevalent condition, which in about 25% of cases manifests itself in the pediatric age. The pathophysiology of the disease is not yet fully understood but it’s likely to result from an interaction of external factors (such as diet or gastrointestinal infections), dysregulation of intestinal mucosa immunity and genetic factors. In these patients, a marked alteration of the commensal intestinal microorganisms - the microbiome - is described, although it is unknown if these variations are causes or consequences of the CD.In this review, we sought to compile and systematize the role that food may play in the microbiome and in the intestinal metabolism and inflammation of the mucosa.Currently, exclusive enteral nutrition (EEN) is the first line for treatment of pediatric patients with CD, with efficacy similar or even higher than conventional corticosteroid therapy, but without its side effects. EEN is largely established because of its empirically proven efficacy, especially in patients with compromised small bowel and upper gastrointestinal tract. However, the mechanism leading to remission of the disease and in which patients it has the highest efficacy are still unclear.Although the influence of EEN on microbial modulation is evident, this review has shown that the definitive characterization of EEN’s effects on colonic microbioma has not yet been fully achieved. The understanding of its repercussions at the metabolic level (metabolome) could clarify which inflammatory mediators prevail in the perpetuation of the small intestine’s inflammation, allowing individualized biological therapies’ identification.