Qualidade de vida e estado nutricional de doentes com tumores da cabeça e pescoço

Abstract

Os tumores da cabeça e pescoço desenvolvem-se na proximidade ou emanam de estruturas vitais relacionadas com a respiração, a comunicação e a alimentação e os passos necessários para erradicar ou controlar a doença podem causar um conjunto acrescido de sintomas e toxicidades. Esta carga física, juntamente com uma condição psicossocial fragilizada, pode ter um forte impacto no estado de saúde e nutricional e no bem-estar geral e qualidade de vida. Por outro lado, a desnutrição é reconhecida como um importante preditor da qualidade de vida dos doentes oncológicos, em particular dos doentes com tumores da cabeça e pescoço. Apesar deste reconhecimento, a avaliação da qualidade de vida e do estado nutricional, com recurso a instrumentos validados para o efeito, não é frequente na prática clínica. Neste estudo investigamos de que forma pode o percurso terapêutico influenciar a qualidade de vida e o estado nutricional de doentes com tumores da cabeça e pescoço sob quimioterapia e radioterapia concomitantes. Numa segunda linha de pesquisa, procuramos conhecer como se relaciona o estado nutricional com a qualidade de vida do doente. O estado nutricional, a qualidade de vida relacionada com a saúde e a perceção do estado de saúde foram avaliados no primeiro e no último dia de quimioradioterapia e 1,5 meses depois. Foram aplicadas escalas validadas para doentes oncológicos: a ‘Patient Generated-Subjective Global Assessment’ (PG-SGA) para a avaliação do estado nutricional e a escala da ‘European Organization for Research and Treatment of Cancer’ (EORTC QLQ-C30) e o seu módulo específico para os tumores da cabeça e pescoço (EORTC QLQ - H&N35) na avaliação da qualidade de vida. Para a avaliação do estado de saúde auto-percecionado foi utilizado o instrumento do grupo EuroQoL (EQ 5D-5L).No estudo da qualidade de vida, em determinadas dimensões, foram encontradas diferenças com significado estatístico e clínico na distribuição dos doentes de acordo com o seu estado nutricional, com uma tendência favorável aos doentes com melhor condição nutricional. Este trabalho veio ajudar na demonstração de que a recolha de informação relativa à qualidade de vida e estado nutricional, com recurso a instrumentos validados, é possível, exequível e frutífera. A sua integração na prática diária é desejável e pode proporcionar melhores resultados em saúde.

Tumors of the head and neck develop close to or arise from structures related to breathing, communication and feeding and the steps to eradicate or control this disease may add an important set of symptoms and toxicities. This physical impairment, coupled with a fragile psychosocial environment, may have a relevant impact on health and nutritional status and on overall well-being and quality of life. On the other hand, malnutrition is an important predictor of the quality of life of cancer patients, in particular those with head and neck cancers. Despite this recognition, quality of life and nutritional status assessment using validated instruments is not frequent in clinical practiceIn this study, we investigated how does the therapeutic course influence quality of life and the nutritional status of patients with tumors of the head and neck undergoing chemoradiotherapy. On a second line of research, we sought to know how does the nutritional status relate to the patient’s quality of life.Nutritional status, health-related quality of life, and health status were assessed on the first and last day of chemoradiotherapy and 1.5 months later. Scales validated for cancer patients were used: for the evaluation of nutritional status, the Patient Generated-Subjective Global Assessment (PG-SGA) was used and for a quality of life assessment the European Organization for Research and Treatment of Cancer questionnaire (EORTC QLQ-C30) and the specific module for head and neck tumors (EORTC QLQ - H & N35) were used. The EuroQoL group scale (EQ 5D-5L) was used to assess self-perceived health status.Regarding quality of life, differences with statistical and clinical significance were found in the distribution of patients according to their nutritional status, favouring patients with better nutritional scores.The collection of information regarding quality of life and nutritional status, using validated instruments, is possible, feasible and provides plenty of information. Its integration into daily practice is recommended and may allow better health outcomes.