Transtorno de escoriação e o papel do médico de família

Abstract

Introdução: O transtorno de escoriação é uma doença mental introduzida pela primeira vez como entidade distinta no DSM-V, contudo são poucos os doentes que procuram cuidados de saúde.Objetivos: Estimar a prevalência desta doença nos estudantes universitários portugueses, relacionar esta doença com a qualidade de vida e funcionalidade familiar, e verificar se há relação entre a empatia com o médico de família e a procura de ajuda.Métodos: Realizou-se um estudo transversal. Os critérios de inclusão foram idade mínima de 18 anos e estar matriculado numa Universidade portuguesa. Foi distribuído um inquérito eletrónico entre novembro de 2016 a janeiro de 2017 com caracterização sociodemográfica, o modelo de entrevista do DSM-V para o diagnóstico de transtorno de escoriação e escalas validadas para a população portuguesa: qualidade de vida (WHOQOL-BREF), saúde mental (MHI), funcionalidade familiar (FACES-IV) e empatia do médico de família percecionada pelo doente (JSPPPE). Procedeu-se a análise estatística descritiva e inferencial.Resultados:Obteve-se uma amostra de 1000 indivíduos maioritariamente entre os 18 e 21 anos (82,1%) com uma média de idades de 19,52±1,86 anos.A prevalência deste transtorno foi de 34,7% (N=347) dos quais 23,6% (N=82) procurou aconselhamento com o médico de família, e nestes a qualidade de vida era significativamente pior nos domínios psicológico e social (ambos p <0,001). Os que pediram aconselhamento tinham uma pior funcionalidade familiar total (p=0,048), pouca flexibilidade (p=0,021), pior satisfação (p=0,042), comunicação (p <0,001), rácio de flexibilidade (p=0,035) e famílias mais caóticas (p<0,001). Doentes com maior empatia pediram mais aconselhamento ao médico de família (p=0,041).Comparando a população com e sem critérios desta doença encontrámos pior qualidade de vida na população doente no domínio psicológico (p=0,035) e uma pior funcionalidade familiar, pior equilíbrio de flexibilidade (p=0,048), comunicação (p=0,021), satisfação (p=0,043), rácio total de flexibilidade (p=0,016), com famílias mais desligadas (p<0,001) e caóticas (p<0,001).Discussão e conclusão:A prevalência desta doença estimada é 34,7%. Verificou-se uma pior qualidade de vida nos domínios social e psicológico, e famílias mais disfuncionais nos doentes. Nestes, os que tinham maior empatia com o seu médico de família foram os que mais o procuraram.A empatia nos cuidados de saúde primários parece ser importante na procura de cuidados na população estudada.Tratou-se de um estudo de distribuição eletrónica em que a população poderá não ser totalmente representativa. Sugere-se um estudo mais representativo e a validação de escalas diagnósticas.

Introduction: Excoriation disorder is a mental disease introduced for the first time on DSM-V as a distinct entity, however, a minority of patients seek medical advice.Objectives: Assess the prevalence of this disease in a population of Portuguese university students and if there is a relation with their quality of life and family functionality, and if empathy with their primary care physician is determinant in seeking help.Methods: A transversal study was conducted between November 2016 and January 2017. Inclusion criteria were a minimal age of 18 years old students with Portuguese nationality, enrolled in a Portuguese university. A questionnaire was made available online with sociodemographic data, interview model from DSM-V for diagnostic of excoriation disorder, quality of life (WHOQOL-BREF), mental health (MHI), family functionality (FACES-IV) and patient’s perceptions of physician empathy (JSPPPE), validated scales for the Portuguese population. Individuals with drug abuse and severe symptoms of mental disease were excluded. The results were interpreted by descriptive statistics and inferential analysis.Results: A total of 1000 people participated in this study. The majority had between 18 and 21 years old (82,1%, n=821) with a mean age of 19,52±1,862 years old.The prevalence of excoriation disorder is 34,7% (N=347), from which 23,6% (N=82) sought medical advice with primary care physician. These patients had worse results on psychological and social domains (both with a p value<0,001), and worse family functionality with low flexibility (p=0,021), worse satisfaction (p=0,042), flexibility ratio (p=0,035), total circumplex ratio (p=0,048), more chaotic (p<0,001) and communication (p<0,001).Patients with more empathy with their primary care physician were the ones who sought more help (p=0,041).Comparing healthy subjects with patients with excoriation disorder we found worse results on those who had excoriation disorder on the psychological domain (p= 0,035) and their family functionality was worse, flexibility (p=0,048), communication (p=0,021), satisfaction (p=0,043), total flexibility ratio (p=0,016), disengaged (p<0,001) and chaotic (p<0,001).Discussion and conclusion:The estimated prevalence of this disorder is 34,7%. These subjects had a poor quality of life on social and psychological, and a higher level of family dysfunctionality. Subjects with more empathy for their primary health care physicians compose the majority who sought medical advice.Empathy on primary health care seems a key factor on searching for medical advice.The questionnaire was made available online and the population may not be representative. We suggest a longitudinal study and validation of scales.