Entre a academia e o activismo: Sociologia, estudos queer e movimento LGBT em Portugal

Abstract

Este ensaio centra-se no carácter diverso e complementar da relação entre academia e movimentos sociais, moldando um constructo analítico-social cujas implicações para os estudos queer continuam em grande medida por teorizar. Tal teorização, creio, poderá conduzir a uma nova aplicação da investigação-acção, desta feita centrada nos hífenes que nos permitem articular, em dialéctica, saberes construídos nos quotidianos da academia e do activismo LGBT. Com efeito, ciência e militância, quando cooperantes horizontais – resistindo à tentação de paternalismo, futurismo ou canibalização, por parte da academia, ou de acomodação, aburguesamento ou cedência, por parte dos movimentos sociais –, podem constituir pedras fundamentais nesse constructo ancorado em reconhecimentos recíprocos e capacitantes, em que nenhuma forma de saber se constitui como única ou dominante e da qual resulte, enfim, um novo campo de saber que designo por estudos queer públicos.

This paper focuses on the diverse and complementary character of the relation between academia and social movements, which moulds a social-analytic construct whose implications for queer studies remain largely untheorized. I believe that such theorization can lead to a new application of action research, now centred on the hyphens that allow us to dialectically articulate the knowledges constructed in the daily contexts of academia and of LGBT activism. In effect, if academia resists the temptation of paternalism, futurism and cannibalization, and social movements resist accommodation, embourgeoisement and capitulation, then scholarship and activism, by cooperating horizontally, can become cornerstones of this construct. Anchored on reciprocal and empowering recognitions, in which none of these forms of knowledge is unique or dominant, this construct can lead to a new field of knowledge which I call public queer studies.

Cet essai se penche sur le caractère divers et complémentaire de la relation entre l’Académie et les mouvements sociaux, en concevant une construction analytico-sociale dont les implications pour les études queer restent en grande partie à théoriser. Je pense qu’une telle théorisation pourra conduire à une nouvelle application de la recherche-action, cette fois centrée sur les traits d’union qui nous permettent d’articuler, dialectiquement, les savoirs construits au jour le jour par l’Académie et par l’activisme LGBT. En effet, science et militantisme, en tant que coopérants horizontaux – résistant à la tentation de paternalisme, de futurisme ou de canibalisation de la part de l’Académie, ou d’accommodement, d’embourgeoisement ou de désistement de la part des mouvements sociaux –, peuvent constituer les bases de cette construction fondée sur des reconnaissances réciproques et mobilisatrices des possibilités, dans laquelle aucune forme de savoir ne se constitue comme l’unique ou la dominante et de laquelle résulte, enfin, un nouveau champ de savoir que je désigne par études queer publics.