Os benefícios do tratamento da hipovitaminose D na dor músculo-esquelética crónica em idosos

Abstract

A vitamina D (vit D) é fundamental na manutenção da homeostasia do cálcio, através da sua acção a nível intestinal, renal e ósseo. Hoje, estão identificados receptores da vit D em vários tecidos, designadamente no músculo esquelético, pelo que esses tecidos também podem estar sob a regulação da vit D. Vários estudos têm demonstrado uma elevada prevalência de hipovitaminose D, em vários grupos populacionais, em que se destacam os idosos. Esta condição pode ter causas diversas, sendo a principal a baixa exposição solar. A hipovitaminose D tem sido implicada em diversas condições patológicas, como é o caso do aumento do risco de fracturas, disfunção dos membros inferiores e na dor crónica. A dor crónica pode resultar em diversas incapacidades, afectando as actividades quotidianas e a qualidade de vida e estima-se que 50 a 86% dos idosos apresentam algum grau de dor. Os mecanismos através dos quais a hipovitaminose D resulta em dor músculo-esquelética não estão completamente esclarecidos mas poderão envolver hiperinervação do músculo por axónios nociceptores, possivelmente agravada pela perda do efeito anti-inflamatório da vit D. A dor ósteo-muscular associada à hipovitaminose D tende a responder pouco aos anti-inflamatórios e aos opióides, mas pode melhorar após suplementação com vit D. Contudo, nem todos os estudos encontraram evidência de efeito favorável da vit D na dor. Este estudo tem como objectivo compreender o efeito do tratamento da hipovitaminose D na saúde dos idosos, designadamente, na intensidade da dor músculo-esquelética crónica. Foi realizado um estudo experimental, com indivíduos com 65 anos ou mais, com dor músculo-esquelética crónica e hipovitaminose D. Foram determinadas as concentrações séricas de 25-hidroxivitamina D (25(OH)D) e paratormona (PTH) e avaliados vários parâmetros clínicos: dor, estado nutricional, funcionalidade, estado afectivo e qualidade de vida. Os participantes foram suplementados com colecalciferol e foram reavaliados após 4 meses. Verificou-se melhoria significativa da dor (p=0,008), que parece ocorrer essencialmente para valores de 25(OH)D iniciais < 20 ng/ml, acompanhada de possível melhoria da qualidade de vida, sem haver variação significativa dos níveis de PTH, do grau de independência para as actividades de vida diária, do estado afectivo ou nutricional. Pela análise dos coeficientes de correlação de Spearman, parece ter existido melhoria da força de preensão palmar, do estado afectivo e da qualidade de vida, associadas à melhoria da dor. A hipovitaminose D é frequentemente subvalorizada. Porém, a vit D tem vários efeitos benéficos, comprovados ou potenciais. Assim, é importante considerar esta condição, bem como a suplementação de vit D, nomeadamente, perante quadros álgicos. De facto, a evidência existente até ao momento, corroborada pelo presente estudo, embora insuficiente, sugere que o tratamento da hipovitaminose D pode ser um aspecto importante na abordagem do idoso com dor músculo-esquelética crónica, podendo, inclusive, melhorar a qualidade de vida, aspecto fundamental em clínica, nomeadamente, em clínica geriátrica. O presente estudo representa um contributo adicional para a compreensão da relação entre a hipovitaminose D e a dor crónica. São, contudo, necessários mais estudos, para possibilitar tirar conclusões definitivas sobre este tema.

Vitamin D (vit D) is essential to keep calcium homeostasis, through its action on intestinal, renal and bone level. Nowadays, vit D receptors are identified on several tissues, especially in the skeletal muscle, which may be under regulation of vit D. Many studies have shown high prevalence of hypovitaminosis D, in some population groups, in which stands out the elderly. This condition can have various causes and the principal one is the lower solar exposure. Hypovitaminosis D have been related to various pathological conditions, as higher fracture’s risk, lower member disfunction and chronic pain. Chronic pain can cause disabilities, affecting daily activities and quality of life and it is estimated that 50 to 86% of elder people have some degree of pain. The way through which hypovitaminosis D generates musculoskeletal pain is not completely known but may involve hyperenervation of the muscle by nociceptor axons, probably worsened by the loss of anti-inflammatory effect of vit D. Musculoskeletal pain associated with hypovitaminosis D tends to respond slightly to anti-inflammatory and opioid drugs, but can improve after supplementation of vit D. Yet, not all studies found evidence on beneficial effect of vit D in pain. The aim of this study is to understand the effect of hypovitaminosis D treatment on old people’s health, specially on chronic musculoskeletal pain intensity. It was made an experimental study, with people with 65 years and older, with chronic musculoskeletal pain and hypovitaminosis D. Serum concentrations of 25-hydroxyvitamin D (25(OH)D) and parathormone (PTH) were determined and several clinical parameters were evaluated: pain, nutritional status, functional ability, emotional status and quality of life. The participants were supplemented with cholecalciferol and reappraised after 4 months. A significant improvement of pain was found (p=0,008), that seems to occur essentially in participants with 25(OH)D initial values < 20 ng/ml, followed with a possible improvement in quality of life, with no remarkable change of PTH levels, in independence degree for daily living activities, emotional or nutritional status. When analyzing Os benefícios do tratamento da hipovitaminose D na dor músculo-esquelética crónica, em idosos xii Ricardo Jorge Ribeiro Spearman’s correlation coefficients, it seems to exist an improvement of handgrip strength, emotional status and quality of life, in association with pain improvement. Hypovitaminosis D is usually underestimated. However, vit D has several documented or potential benefits. Therefore, it is important to consider this condition, as well as the vit D supplementation, in particular in pain conditions. In fact, the current evidence, supported by this study, despite being insufficient, suggested that the treatment of hypovitaminosis D can be an important factor on the approach of the elderly with chronic musculoskeletal pain, which may eventually improve quality of life, an essential part of clinical practice, especially on geriatric clinical practice. This study represents an additional contribution to comprehend the relation between hypovitaminosis D and chronic pain, despite being necessary more studies in order to allow taking final conclusions about this subject