Please use this identifier to cite or link to this item: https://hdl.handle.net/10316/24263
Title: Uma reinterpretação contemporânea da aldeia do Patacão
Authors: Borges, Lara Telma 
Orientador: Ribeiro, João Mendes
Keywords: Aldeia do Patacão; Arquitectura bioclimática, Portugal; Arquitectura sustentável
Issue Date: Jun-2013
Citation: Borges, Lara Telma Pires - Uma reinterpretação contemporânea da aldeia do Patacão : um ensaio crítico para uma arquitectura bioclimática, Coimbra, 2013
Abstract: O termo sustentabilidade não é um “clear-cut”2, sendo um vago e problemático conceito cuja complexidade tornou a escolha de que tipo de abordagem seguir o primeiro desafio desta dissertação. Desde o princípio soube que queria abordar este tema no âmbito da arquitectura sustentável cuja matéria de estudo seria sobre como pensar sustentável a partir do desenho do espaço e da luz, valores imprescindíveis a uma arquitectura de qualidade. Pretendia assim contribuir para a compreensão que um “projecto ambiental dentro da arquitectura precisa a autoconsciência de ´arte´ tanto quanto qualquer nova narrativa precisa.” 3 O tema tornou-se mais focado quando participei num projecto com os ASF-P, pois existia a necessidade de intervir num sítio em particular que, devido à sua sensibilidade, não permitia uma intervenção indiferente ao contexto em que se inseria. A integração neste projecto proporcionou-me a oportunidade de incluir uma vertente prática nesta tese tendo sido esse factor um elemento de extrema importância como premissa justificativa da teoria a abordar. O projecto em questão teve início em 2005 e partiu da ideia de dois investigadores que estudavam as tradições da zona de Santarém. A ideia materializou-se no estudo dos costumes e tradições das Aldeias Avieiras, cuja origem provém da migração de pescadores de Vieira de Leiria para a margem do Tejo e Sado. Conforme o estudo avançava perceberam que estavam em presença de “uma cultura rica, em estado latente, à espera de condições para reaparecer algures no tempo e no espaço, trajando novas vestes mas mantendo uma originalidade a toda a prova.”4 Partindo desta convicção elaborou-se um trabalho com vista a candidatar a cultura Avieira a património nacional. Em 30 de Junho de 2007 5 esta candidatura foi apresentada à comunidade no primeiro Encontro Regional da Cultura Avieira. Em 2008 a esta vertente cultural imaterial aglomerou-se a materialidade destes assentamentos de modo a credibilizar a candidatura. Com esta nova perspectiva em jogo, os ASF-P, foram convidados a intervir e identificar a qualidade material destes assentamentos avieiros. Vestígios como “as casas das aldeias Avieiras, os pontões ancoradouros, os barcos, as artes da pesca, os trajes e ainda muitos pescadores a exercer a sua actividade no Tejo” 6 foram reconhecidos como elementos cruciais desta candidatura. O processo de identificação e reconhecimento por parte do ASF-P incluiu toda a região, não apenas no Rio Tejo, mas também no Rio Sado onde se encontravam também vestígios culturais e materiais desta população. A relevância do património avieiro, materializado na sua arquitectura, é confirmada no Relatório de campo dos ASF-P quando afirmam que as “ aldeias são lugares esquecidos (situados ao longo de dois rios) tendo resistido à investida do betão.”7 A candidatura iniciada por curiosidade e estudo académico confluiu num projecto âncora justificada pela continuidade material presente em toda a região. De modo a credibilizar este projecto definiu-se um programa específico como premissa justificativa desta intervenção. A ideia de promover a sustentabilidade económica, social e arquitectónica baseou-se na criação de um projecto de reabilitação e criação de uma rota turística entre as diferentes aldeias, duas delas abandonadas, em articulação com outras que ainda são habitadas. O primeiro passo foi a limpeza das aldeias em questão seguindo-se o projecto de reabilitação, o embelezamento das vias de acesso e a reflorestação das marachas com salgueiros, freixos e choupos. Por último, a limpeza da rede de praias fluviais e a atribuição de uma bandeira azul compreendem um novo começo. Este projecto de reabilitação seria apelidado sustentável no sentido de criar diferenciação perante o mercado e como contributo exemplar de reabilitação com um carácter contemporâneo e sensível ao local em questão. Perante a riqueza cultural e a forte presença do contexto físico em questão, o tema da arquitectura sustentável focou-se na sua vertente bioclimática, em que contexto e arquitectura popular se unem, constituindo por isso espelho fiel do tipo de táctica a seguir. A convicção de ser a estratégia de intervenção mais adequada às necessidades culturais e de preservação do património em causa foi justificada pela ideia da Arquitectura Bioclimática como uma reinterpretação da arquitectura popular indo de encontro à sustentabilidade, no entanto adiciona-lhe uma sensibilidade em termos sociais perante a continuidade ou descontinuidade de uma cultura através da sua arquitectura característica. Este projecto “na sua vertente construída, pressupõe uma reflexão sobre o modo de registar, manter, recuperar e salvaguardar para as gerações futuras estes exemplos únicos”.8 Existem raras referências nacionais quanto a este tipo de abordagem bioclimática e esta dissertação pretende, através de um projecto real, dar uma contribuição através da formulação de uma intervenção com um sentido de lugar tendo em atenção materiais, cultura e vivências e que se adapte ao espaço geográfico. Não se pretende um revivalismo do vernacular, mas um projecto de registo contemporâneo, surgindo o termo sustentabilidade como arquitectura de subsistência vivencial e cultural. A proposta é pertinente pela integração deste projecto de reabilitação das casas palafíticas num novo paradigma arquitectónico que, para além da comodidade, da solidez e estética vitruvianas incorpora uma consciência viva sobre a importância da sustentabilidade sem descartar o património como meio de construção do futuro. A metodologia adoptada para a realização desta dissertação compreendeu a leitura da bibliografia sobre a cultura em questão e a Arquitectura Bioclimática de modo a apreender e transformar os conceitos de modo a aplicá-los na parte prática. No entanto, o crucial neste processo foi a deslocação ao local, a visita às aldeias em questão e a conversa com os habitantes alpiarcenses, antigos avieiros e familiares, elementos do ISP e dos ASFP. Tarefas como a limpeza de uma aldeia, as viagens, via terrestre e fluvial, pelo Tejo de aldeia em aldeia tornaram este processo demorado e complexo mas muito interessante em termos pessoais constituindo simultaneamente elementos de estudo para a tese. Um dos aspectos essenciais foi a escolha de uma das aldeias, Aldeia do Patacão, e o levantamento e elaboração dos desenhos técnicos das habitações, pois eram essenciais para a candidatura da cultura material avieira a Património Nacional e da UNESCO e, mais recentemente, a Aldeia Histórica de Portugal. Para além disso o registo fotográfico e a elaboração de desenhos à mão levantada permitiu a assimilação da complexidade do local e como intervir naquele contexto. A medição dos objectos arquitectónicos apresentou alguns obstáculos, pois devido à falta de manutenção da madeira, o material estava deformado e, em alguns casos, a sua ausência dificultou a leitura dos volumes como um todo. A estrutura do trabalho organiza-se em quatro capítulos constando do primeiro a explicação da abordagem teórica e explicação dos conceitos inerentes à Arquitectura Bioclimática como base que suporta a parte prática. Aborda-se a Arquitectura bioclimática como sustentabilidade com uma forte ligação ao contexto, a sua interligação com a arquitectura popular e a sua pertinência neste caso de estudo. Para compreender a amplitude total desta intervenção é necessário compreender a totalidade do seu complexo passado social e ocupacional. No segundo capítulo decidi abordá-los segundo a perspectiva da sua origem em Vieira de Leiria, da migração ocorrida para as margens do Tejo, da construção do seu património candidato a riqueza nacional e da decadência e abandono que conduziram à sua quase extinção. Há factos históricos e relatos pormenorizados que se tornaram secundários, pois o importante era compreender as memórias e vivências mais genuínas deste povo. No terceiro capítulo apresenta-se a escolha da Aldeia do Patacão de Cima e a sua pertinência enquanto caso de estudo. A análise e interpretação bioclimática revela-se um elemento chave para a compreensão da metodologia de intervenção como ponte para projecto. As condicionantes climáticas e as suas consequências tal como a explicação de estratégias bioclimáticas e o conceito de sistemas passivos são aqui abordados. A análise da tipologia, do espaço interior e da estrutura/materialidade dos diferentes objectos arquitectónicos da Aldeia do Patacão revelam uma fonte importante de conhecimento como base para a intervenção em causa. Finalmente a análise do estado físico das habitações em causa e a constatação das carências infraestruturais fecham o capítulo dando material de estudo suficiente para a compreensão do próximo capítulo. Por último, o capítulo quatro revela-se como a síntese e a aplicação prática dos pressupostos anteriormente referenciados constituindo um ensaio criativo e crítico sobre este caso de estudo. Redesenham-se as infraestruturas e propõem-se novas hipóteses que contribuem para a melhoria das condições de habitabilidade da aldeia. A reabilitação das habitações pré-existentes e a integração de novo edificado tendo sempre como base de desenho as estratégias da Arquitectura Bioclimática são essenciais. Este capítulo funciona como um elemento de reflexão sobre os aspectos abordados em termos teóricos.
Description: Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, apresentada ao Departamento de Arquitectura da F. C. T. da Univ. de Coimbra.
URI: https://hdl.handle.net/10316/24263
Rights: openAccess
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FCTUC Arquitectura - Teses de Mestrado

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