Green macroalgae and seagrasses in a shallow eutrophic estuary (The Mondego Estuary, Portugal) : dynamics, controlling factors and possible evolutionary scenarios

Abstract

O braço sul do estuário do Mondego (costa Oeste de Portugal) constitui um sub-sistema singular do sistema estuarino do rio Mondego devido ao seu regime hidrodinâmico e riqueza ecológica. Na última década, o braço sul do estuário tem sido caracterizado pelo aparecimento de acumulações significativas de macroalgas verdes, maioritariamente, pertencentes ao género Enteromorpha. Os valores mais elevados de biomassa macroalgal tendem a ocorrer durante a Primavera, na zona intertidal do braço sul. Contudo, a produção anual de Enteromorpha difere substancialmente de ano para ano. A proliferação de macroalgas verdes tem sido acompanhada por uma importante redução de outro produtor primário do braço sul do estuário do Mondego, Zostera noltii, uma macrófita com raíz que ocupa a zona intertidal associada a substratos lodosos. O objectivo geral deste trabalho foi identificar os factores que controlam o processo de eutrofização no braço sul do estuário do Mondego. De facto, a eutrofização do sistema deverá estar associada quer ao domínio de macroalgas verdes, quer ao desaparecimento de Z. noltii. De acordo com os nossos resultados, o crescimento de Enteromorpha é fortemente controlado pela hidrodinâmica do sistema, que por sua vez depende da precipitação e das necessidades de água dos campos de arroz existentes a montante. A quantidade de água doce que entra no braço sul controla a salinidade, o coeficiente de extinção da luz na coluna de água, a velocidade da corrente e os níveis N:P da coluna de água do braço sul do estuário do Mondego. É a variação destes factores que determina o crescimento e biomassa anuais de Enteromorpha no sistema. Durante períodos secos, a salinidade é mantida alta, o coeficiente de extinção da luz na coluna de água varia dentro dos valores médios, as velocidades da corrente são fracas e os níveis N:P encontram-se próximos do valor de Redfield. Estas circunstâncias favorecem o crescimento e a retenção de Enteromorpha no braço sul. Pelo contrário durante períodos chuvosos, a salinidade baixa consideravelmente enquanto, o coeficiente de extinção da luz na coluna de água e as velocidades da corrente aumentam. Os baixos valores da razão N:P sugerem ainda uma potencial limitação em fósforo para a produção primária. Nestas condições, o crescimento e biomassa de Enteromorpha são pouco significativos. O desaparecimento de Zostera noltii no braço sul do estuário poderá estar associado simultaneamente à competição com macroalgas, à toxicidade por azoto e à destruição da planta associada à apanha de macroinvertebrados. Ecologicamente, o domínio do braço sul do estuário do Mondego por macroalgas verdes deverá traduzir-se, a médio prazo, no empobrecimento e numa maior instabilidade do sistema.