O impacto da Covid-19 e da respetiva vacinação na doença de Graves

Abstract

Graves disease is an autoimmune disease based on the action of autoantibodies that act as TSH receptor agonists in the thyroid gland, activating it and leading to hyperthyroidism. This pathology has multisystemic consequences. The spread of the Sars-Cov-2 virus beginning in 2019 resulted in the Covid-19 pandemic in the following years, with an impact on global health present to this day. Sars-Cov-2 directly affects several cells in our body, including thyroid cells. It penetrates them by binding its spike protein to the ACE2 receptor and TMPRSS2 co-receptor. The consequent viral replication and cell destruction also have an indirect impact due to the possibility of triggering a cytokine storm, leading to a systemic inflammatory state with harmful multi-organ effects. Vaccine immunization against Sars-Cov-2 has been crucial in the fight against the pandemic, providing protection against situations of greater clinical severity, the possibility of hospitalization, death and reinfection. The current literature proposes several explanatory mechanisms of the relationship between this vaccination and thyroid gland pathology, including the ACE2 receptor, the hypothesis of molecular mimicry and the ASIA syndrome, not excluding a possible multiple influence of the various mechanisms. In this context, reports of thyroid pathology associated with both infection and vaccination against Sars-Cov-2 have emerged. Among them are cases of autoimmune diseases such as Graves' disease (newly diagnosed, exacerbation or recurrence of it), which has been reported in increasing numbers. Thus, the possibility of this vaccination triggering an increase in this pathology in predisposed individuals is highlighted. Graves-Basedow disease is described as associated mainly with mRNA vector vaccines (the most widely administered globally), but also with adenovirus vaccines and, to a much lesser extent, inactivated virus vaccines. Although this relationship is worthy of study, it has a low prevalence when compared to the number of vaccines administered globally. Most vaccinated individuals do not experience these types of possible side effects to vaccination. Thus, it is not recommended to avoid this immunization given its benefits for individual and collective health.

A doença de Graves é uma patologia autoimune pautada pela ação de autoanticorpos que atuam como agonistas do recetor TSH na glândula tiróide, ativando-o e conduzindo a hipertiroidismo. Esta patologia acarreta consequências multissistémicas. A disseminação do vírus Sars-Cov-2 com início em 2019 resultou na pandemia da Covid-19 nos anos sequentes, com impacto na saúde global presente até aos dias de hoje. O Sars-Cov-2 afeta diretamente várias células do nosso organismo, incluindo as células tiroideias. Penetra nas mesmas através da ligação da sua proteína spike com o recetor ACE2 e o co-recetor TMPRSS2. A replicação viral e destruição celular consequentes têm também um impacto indireto pela possibilidade de despoletar uma tempestade de citocinas, levando a um estado inflamatório com efeitos multiorgânicos nefastos. A imunização vacinal contra o Sars-Cov-2 tem sido crucial no combate à pandemia, conferindo proteção contra situações de maior severidade clínica, possibilidade de hospitalização, morte e reinfeção. A literatura atual propõe vários mecanismos explicativos da relação desta vacinação com a patologia da glândula tiróide incluindo o recetor ACE2, a hipótese de mimetismo molecular e a síndrome ASIA, não excluindo uma possível influencia múltipla dos vários mecanismos. Neste contexto, surgiram relatos de patologia tiroideia associada tanto à infeção quanto à vacinação contra o Sars-Cov-2. Entre os quais, contam-se casos de doenças autoimunes como a doença de Graves (de novo, exacerbação ou recidiva da mesma), que têm sido reportados em número crescente. Levanta-se assim a possibilidade desta vacinação desencadear um aumento desta patologia em indivíduos predispostos. A doença de Graves-Basedow é descrita como associada, principalmente, a vacinas de vetor de mRNA (a mais amplamente administrada a nível global), mas também a vacinas de adenovírus e, em muito menor percentagem, a vacinas de vírus inativo. Embora esta relação seja digna de estudo, tem uma prevalência baixa quando comparada com a quantidade de vacinas administradas a nível global. A maioria dos indivíduos vacinados não apresenta este tipo de possíveis efeitos secundários associados à vacinação. Assim, não está preconizada a evicção desta imunização dado os seus benefícios para a saúde individual e coletiva.