Dormir com os Pais: Sim ou Não? Impactos na Saúde das Crianças

Abstract

Children sleeping with their parents is one of the most controversial topics in the world of parenting and the existing literature is not unanimous regarding its recommendation or contraindication. The objective of this work was to carry out a review of the existing literature so that doctors, especially family doctors, can inform parents about recommendations for safe sleep and inform them about the risks, benefits, and implications of practice of bed-sharing, between parents and young children and older children. The research was based on articles published in the last years, through the Pubmed platform and the most current recommendations from the American Academy of Pediatrics (AAP) and the Portuguese Society of Pediatrics (SPP) were consulted. From the literature consulted, it was possible to verify a dichotomy between Western society, where bed-sharing is strongly discouraged, and Eastern society, where it is a common and valued practice. It was found that several benefits of bed-sharing are described, which are also related to the motivations for carrying it out: prolonging and facilitating breastfeeding, benefits inherent to breastfeeding; improvement of mother-child bonding; comfort for parents and children; increased surveillance; decreased crying and cortisol levels in children; favoring the consolidation of children's sleep; and less sucking behaviors. The potential risks of this practice include: sleep problems and anxiety, which are reflected in shorter nighttime sleep duration and daytime sleepiness; Helicobacter pylori infection and transmission of whooping cough, hepatitis B, scabies, diphtheria and head lice; behavior problems; nocturnal enuresis; mechanical asphyxiation, airway obstruction, overlapping, overheating, trauma and sudden infant death syndrome (SIDS). During the preparation of this dissertation, it was possible to verify that several limitations are present in the currently available literature and that these become more evident when the topic involves older children. In the future, it is necessary to consider planning new studies that take into account the different limitations detected, such as the small sample size, the cross-sectional or retrospective nature of most research, the subjective quality of the data obtained and several confounding factors. Doctors have a fundamental role in transmitting the most correct information possible about the benefits and inconveniences of bed-sharing, which are not consensual, and must support parents/caregivers in making a conscious decision for a child's sleeping environmentas safely as possible, approaching this topic without judgement. In short, the option of bed-sharing in childhood is up to the parents, as well as the decision to stop it, and this must be practiced with caution, considering multiple factors, and consciously, through the adoption of appropriate behaviors, being alert for any problems that may arise. However, supported by AAP and SPP guidelines, It is recommended that, in the first year of life, children sleep on their own surface in their parents room, without sharing a bed with them, optimizing conditions for the safest child sleeping environment possible and reducing risk factors as much as possible.

Os filhos dormirem com os pais é um dos temas mais controversos da parentalidade e a literatura existente não é unânime em relação à sua recomendação ou contraindicação. Este trabalho teve como objetivo realizar uma revisão da literatura existente com vista a ser possível por parte dos médicos, especialmente os médicos de família, informar os pais sobre as recomendações para um sono seguro e esclarecê-los a respeito dos riscos, dos benefícios e das implicações da prática de bed-sharing, entre os pais e as crianças pequenas e crianças mais velhas. A pesquisa teve por base os artigos publicados nos últimos anos, através da plataforma Pubmed e foram consultadas as recomendações mais atuais da Academia Americana de Pediatria (AAP) e da Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP). Da literatura consultada, foi possível verificar uma dicotomia entre a sociedade ocidental, onde o bed-sharing é fortemente desaconselhado, e a sociedade oriental, onde o mesmo é uma prática comum e valorizada. Constatou-se que estão descritos vários benefícios do bed-sharing, que também se prendem com as motivações para a sua realização: prolongamento e facilitação da amamentação, benefícios inerentes ao aleitamento materno; melhoria do vínculo materno-infantil; conforto para os pais e filhos; aumento da vigilância; diminuição do choro e dos níveis de cortisol nas crianças; favorecimento da consolidação do sono das crianças; e menos comportamentos de sucção. Os potenciais riscos desta prática incluem: problemas do sono e ansiedade, que se refletem em menor duração do sono noturno e sonolência diurna; infeção por Helicobacter pylori e transmissão de tosse convulsa, hepatite B, escabiose, difteria e pediculose da cabeça; problemas de comportamento; enurese noturna (EN); asfixia mecânica, obstrução das vias aéreas, sobreposição, sobreaquecimento, trauma e síndrome de morte súbita no lactente (SMSL). Foi possível, também, constatar que estão presentes diversas limitações na literatura atualmente disponível e que estas se tornam mais evidentes quando o tema envolve crianças mais velhas. No futuro, é necessário considerar o planeamento de novos estudos que tenham em conta as diferentes limitações detetadas, tais como o reduzido tamanho das amostras, a natureza transversal ou retrospetiva da maioria das pesquisas, a qualidade subjetiva dos dados obtidos e diversos fatores de confusão. Os médicos têm um papel fundamental na transmissão da informação o mais correta possível sobre os benefícios e as inconveniências do bed-sharing, que não são consensuais, e devem apoiar os pais/cuidadores na tomada de decisão consciente para um ambiente de sono da criança o mais seguro possível, abordando este tema sem julgamentos. Sucintamente, a opção de bed-sharing na infância cabe aos pais, assim como a decisão de interrompê-la, devendo ser praticada com cautela, ponderando múltiplos fatores, e de forma consciente, através da adoção de comportamentos adequados, estando alerta para eventuais problemas que possam surgir. Porém, apoiado pelas diretrizes da AAP e da SPP, recomenda-se que, no primeiro ano de vida, as crianças durmam numa superfície própria no quarto dos pais, sem partilha de cama com estes, otimizando as condições para um ambiente de sono infantil o mais seguro possível, reduzindo ao máximo os fatores de risco.