A Filosofia, a Morte e a Subjectividade. Derrida e a Originariedade do Luto

Abstract

This doctoral research assumes its starting point from the post Socratic Platonic tradition according to which philosophy is, in essence, "learning to die" – "melete thanatou" (cf. Plato, Phaedo, (81a)) –, in order to investigate how Deconstruction – the contemporary philosophical idiom associated with the name and work of Jacques Derrida (1930 2004) – configures a singular re invention of this tradition, of which it assumes itself to be the heir: a bereaved heir. First, by a close reading of the Phaedo, we try to survey this idea of philosophy as «melete thanatou», while detecting and enunciating the profound relationships between philosophy, death, and the soul. The second chapter shows how the definition of philosophy as melete thanatou presupposes or agrees with the postulation of a "transcendental meaning", of a pure identity that commands everything (arche). While this thesis is being justified based on a Derridean reading of certain fundamental concepts of philosophical discourse (e.g. writing, mimesis, space, time), its influence on the history of philosophy is emphasized, and some approaches to Deconstruction are attempted, as a thought that probes the supposed simplicity of this history. The third chapter attempts to enunciate the hyper-radicality that is inherent in the singularity of Deconstruction – hyper-radicality or hyperbolicity that draws out the meta-onto-logical and meta-phenomeno-logical register of Derridean thought in its necessary but difficult distinction from philosophy as metaphysics. It will be in the fourth and final moment of our investigation that we will probe the scope of the thought of the trace of an absolute past for rethinking the experience of death and the unconditionality of responsibility as condition and structure of the subjectivity of the subject Derridean terms. This will highlight the originality of mourning, supplement of origin, and ex-appropriation that urge us to think differently about both the subject's relation to itself and the autocratic pretensions of the philosophical logos – which leads us to think of Deconstruction, as a philosophical idiom, as a deconstruction of the dominant carno-phallo-logo-centrism of Western philosophical cultural sacrificiality.

Esta investigação doutoral parte da ideia veiculada pela tradição pós socrático platónica segundo a qual a filosofia é, no essencial, um «aprender a morrer» – «melete thanatou» (cf. Platão, Fédon (81a)) –, com a intenção de averiguar como é que a Desconstrução – o idioma filosófico contemporâneo ligado ao nome e à obra de Jacques Derrida (1930 2004) – configura uma singular re-invenção desta tradição, da qual se assume herdeira: uma herdeira enlutada. Com esta intenção, num primeiro momento, através de uma leitura ao rés do texto do Fédon, procura se fazer um levantamento desta ideia recorrente da filosofia como «melete thanatou», perscrutando e salientando, ao mesmo tempo, as profundas relações existentes entre a filosofia, a morte e a alma.No segundo capítulo, mostra se como a definição de filosofia enquanto melete thanatou pressupõe ou consona com a postulação de um «significado transcendental», de uma pura identidade que tudo ordena (arche). Ao mesmo tempo que se justifica esta tese a partir da leitura derridiana de certos conceitos fundamentais da conceptualidade filosófica (v.g. escrita, mimesis, espaço, tempo), assinala se, por um lado, a sua influência na história da filosofia, por outro, tentam se algumas aproximações à Desconstrução enquanto pensamento que sonda e questiona a suposta simplicidade desta história.O terceiro capítulo tenta enunciar a hiper-radicalidade inerente à singularidade da Desconstrução – hiper-radicalidade ou hiperbolicidade que desenha o registo meta-onto-lógico e meta-fenomeno-lógico do pensamento derridiano na sua singular distinção da filosofia como metafísica.Será no quarto e derradeiro momento da nossa investigação que sondaremos o alcance do pensamento do rastro de um passado absoluto para o re pensar da experiência da morte e da incondicionalidade da responsabilidade como condição e estrutura da subjetividade do sujeito em sede derridiana. Assim se salientará a originariedade do luto, o suplemento de origem e a ex-apropriação que nos impelem a pensar diferentemente tanto a relação a si do sujeito como as pretensões autocráticas do logos filosófico – o que nos dá a pensar a Desconstrução, como idioma filosófico, como uma desconstrução do carno-falo-logo-centrismo dominante da sacrificialista ocidentalidade filosófico cultural.