Relação entre Religiosidade, Comportamento Antissocial, Conduta Criminal e Autocontrolo, numa amostra de jovens adultos e adultos portugueses da comunidade

Abstract

A desviância faz parte das condutas humanas, manifestando-se de diversas formas e em diversos contextos/circunstâncias. A compreensão destas manifestações apresenta uma enorme relevância na investigação em âmbito forense, na medida em que providencia conhecimento sobre os fatores inerentes às mesmas (i.e., o que as desencadeia, o que as mantém e/ou o que as dissuade). Assim, para entender estas manifestações na transição para a idade adulta e na adultez, os tópicos investigados nas ciências forenses passam pelo comportamento antissocial e criminal, como é o caso do presente estudo. Por sua vez, a religião demonstra ser um fator bastante influente na forma como a sociedade se rege, sendo referida como uma dimensão importante para a prevenção do comportamento antissocial e, confluentemente, da conduta criminal. O autocontrolo, enquanto forte preditor do comportamento antissocial e criminal, também é um fator de destaque na compreensão destas variáveis dado que, dependendo dos níveis de autocontrolo do indivíduo, pode prevenir ou reforçar a adoção de uma conduta fora do normativo, tanto social quanto legalmente.O principal objetivo da presente investigação remete para a compreensão do efeito da religiosidade na conduta desviante, concretamente, no comportamento antissocial e criminal, em jovens adultos e adultos portugueses da comunidade. Também se pretende perceber de que forma o autocontrolo influencia estas possíveis relações, enquanto mediador e/ou moderador do efeito da religiosidade no comportamento antissocial e criminal.O protocolo implementado para recolha de informação integrou escalas de religiosidade (CRS – Centrality of Religiosity Scale), comportamento antissocial (A.S.R. – Adult Self Report), conduta criminal (SRD-M – Self Report Delinquency – Modified) e autocontrolo (LSCS – Low Self-Control Scale). Também foi aplicado um instrumento de desejabilidade social (EDS-20 – Escala de Desejabilidade Social de 20 Itens), por forma a atestar a validade de respostas. Posteriormente, o estudo foi divulgado e o protocolo administrado em modalidade online. A amostra integrou 97 participantes da comunidade, maioritariamente, do sexo feminino (77.3%), com idades compreendidas entre os 18 e os 74 anos de idade (M=35.48; DP=13.25), predominantemente, com o grau académico de licenciatura (48.5%) e solteiros/as (63.9%).Os resultados mostraram que, globalmente, a religiosidade não se relaciona com o comportamento antissocial dos participantes, não obstante, a prática pública demonstrou ter correlação fraca com a manifestação deste padrão comportamental. Sobre a conduta criminal, a religiosidade demonstrou ter uma associação negativa e fraca, nomeadamente, com o tipo de crimes cometidos (variedade criminal) e a quantidade de vezes que é cometido (incidência criminal). Na diferenciação dos grupos (não religioso vs. religioso), foram encontradas diferenças significativas no que concerne o tipo de crime perpetrado (variedade criminal), com o grupo não religioso a evidenciar mais ilícitos ligados ao furto. O autocontrolo não se pontuou como mediador da relação religiosidade – desviância, uma vez que as variáveis não apresentaram correlações estatisticamente significativas, entre si. Em contrapartida, ainda que espúrio, foi encontrado um efeito moderador do autocontrolo na relação da religiosidade com a prevalência criminal e com a variedade criminal. Concretamente, baixos níveis de autocontrolo moderam a relação entre religiosidade e conduta criminal (no que respeita a prevalência e variedade), numa direção negativa (i.e., baixo autocontrolo está vinculado com baixa religiosidade e maior manifestação da conduta criminal).Compreender o efeito da religiosidade na conduta desviante, na população portuguesa, exigirá novas investigações e abordagens, nomeadamente, ajustamentos metodológicos no que concerne os parâmetros de seleção, recolha, dimensão e características da amostra, incluindo amostras forenses, operacionalização dos constructos e (re)definição de protocolos de avaliação.

Deviance is part of human behavior, manifesting itself in different ways and in different contexts/circumstances. The understanding of these manifestations is extremely relevant in forensic research, as it provides knowledge about the factors inherent to them (e.g., what triggers them, what maintains them and/or what dissuades them). Thus, in order to understand these manifestations in youngs adults and adulthood, the topics investigated in the forensic sciences include antisocial and criminal behavior, as is the case of the present study. In turn, religion proves to be a very influential factor in the way society is ruled, being referred to as an important factor for the prevention of antisocial behavior and, confluently, criminal conduct. Self-control, as a strong predictor of antisocial and/or criminal behavior, is also a prominent factor in understanding these variables since, depending on the individual's levels of self-control, it can prevent or reinforce the adoption of non-normative behavior, both socially and legally.The main objective of this research is to understand the effect of religiosity on deviant conduct, specifically, on antisocial and criminal behavior, in Portuguese young adults and adults from a community sample. It is also intended to understand how self-control influences these possible relationships, as a mediator and/or moderator of the effect of religiosity on antisocial and criminal behavior.The implemented protocol for collecting information included scales of religiosity (CRS – Centrality of Religiosity Scale), antisocial behavior (A.S.R. – Adult Self Report), criminal conduct (SRD-M – Self Report Delinquency – Modified) and self-control (LSCS – Low Self-Control Scale). A social desirability instrument (EDS-20 – Escala de Desejabilidade Social de 20 Itens/20-Item Social Desiability Scale) was also applied in order to attest to the validity of the answers. Subsequently, the study was released and the protocol was administered online. The sample included 97 participants from the community, mostly female (77.3%), aged between 18 and 74 years (M=35.48; SD=13.25), predominantly with a college degree (48.5%) and singles (63.9%).The results showed that, overall, religiosity is not related to the antisocial behavior of the participants, however, the public practice has been shown to have a weak correlation with the manifestation of this behavioral pattern. Regarding criminal conduct, religiosity has been shown to have a negative and weak association, with the type of crimes committed (criminal variety) and the number of times it is committed (criminal incidence). As to the differentiation of the groups (non-religious vs. religious), significant differences were found with regard to the type of crime perpetrated (criminal variety), with the non-religious group showing more illicit acts related to theft. Self-control was not scored as a mediator of the religiosity-deviance relationship, since the variables didn’t present statistically significant correlations between them. On the other hand, although spurious, a moderating effect of self-control was found in the relationship between religiosity and criminal prevalence and criminal variety. Concretely, low levels of self-control moderate the relationship between religiosity and criminal conduct (with respect to prevalence and variety), in a negative direction (i.e., low self-control is linked to low religiosity and greater manifestation of criminal conduct).Understanding the effect of religiosity on deviant behavior in the Portuguese population will require new investigations and approaches, specifically, methodological adjustments regarding the parameters of selection, collection, size and characteristics of the sample, including forensic samples, operationalization of constructs and (re)definition of evaluation protocols.