Princípios para uma Fenomenologia da Cultura: Uma Interpretação do Legado da Crise das Ciências Europeias de Edmund Husserl

Abstract

Por ser um método antirreducionista, a fenomenologia transcendental sempre esteve disposta à ampliação e ao alargamento da sua atuação. Enquanto ciência das essências explicitadas conscientemente, seria inevitável o encontro definitivo da fenomenologia com a historicidade do que se explicita e, por consequência, com a cultura da evidenciação das formas dadas histórica, social e corporalmente. O fenomenólogo direcionado pela filosofia de Edmund Husserl, numa busca pela realização da ciência originária das coisas mesmas, se depara com o horizonte pré-científico do mundo da vida como quem encontra uma dimensão do cultivo da própria vida humana e das suas formas de atuação. Neste percurso, para além das sedimentações teóricas, são encontradas as formas de vida do ser humano e da humanidade em um amálgama com o tipo formal de cultura que expressa a teleologia histórica das comunidades. Em duas caracterizações típicas, as metas históricas comunitariamente estabelecidas definem a humanidade empírica limitada por suas circunstâncias factuais e a humanidade universal marcada por se dispor à batalha infinita do autoaperfeiçoamento, da autorresponsabilidade e da autorrealização. Nesta tese, sustentamos que o tripé historicidade, intersubjetividade e corporalidade fazem parte de uma correlação fundamental para o desenvolvimento de uma fenomenologia da cultura. A partir da elucidação dos tipos formais de cultura e dos objetos culturais, seguindo uma matriz husserliana, percebemos que a compreensão da vida em cultura é indispensável para a apreensão do mundo da vida que, por sua vez, sempre esteve dado em situação como solo para o desenvolvimento de uma humanidade plena e dotada de sentido, ou seja, uma humanidade preparada para a efetivação da ciência do vivido.

As an antireductionist method, transcendental phenomenology was always willing to broaden and extend its action. As a science of consciously explained essences, the definitive encounter of phenomenology with the historicity of its object and, consequently, with the culture of the evidencing of forms historically, socially and corporally given would be inevitable. The phenomenologist directed by the philosophy of Edmund Husserl in a search for the realization of the original science of things themselves, comes across the pre-scientific horizon of the lifeworld, as one who finds a dimension of the cultivation of human life and its forms of acting. In this journey, beyond the theoretical sedimentations, the forms of life of the human being and of humanity are found in an amalgam with the formal type of culture that expresses the historical teleology of the communities. In two typical characterizations, the communally established historical goals define the empirical humanity limited by its factual circumstances and the universal humanity marked by being disposed to the infinite battle of self-improvement, self-responsibility and self-realization. In this thesis, we maintain that the tripod historicity, intersubjectivity and corporality are part of a fundamental correlation for the development of a phenomenology of culture. From the elucidation of the formal types of culture and of the cultural objects, following a Husserlian matrix, we perceive that the understanding of life in culture is indispensable for the apprehension of the lifeworld which, by its turn, has always been given in situation as soil for the development of a full and meaningful humanity, i.e., a humanity prepared for the accomplishment of the science of living.