Álvaro Lapa: um projecto de curadoria

Abstract

Com o título “Álvaro Lapa: um projecto de curadoria” pretende-se situar a produção artística de Álvaro Lapa numa perspectiva de contemporaneidade, enquanto obra aberta, que estabelece campos de força e tensões, sempre incompleta no seu inconformismo de querer ser a afirmação vital de uma outra linguagem, influenciada por memórias e idolatrias, pontuada por frases que são metáforas para a reabilitação do mundo, uma linguagem dividida: entre abstracto e figurativo; entre pintura e literatura.Acompanhámos o trabalho do curador, participando na exposição “Lendo, resolve-se: Álvaro Lapa e a literatura” (Culturgest, 2020) como case-study que tornou patente a proximidade e o trânsito que existe entre ambos os géneros artísticos (pintura e literatura) no trabalho do artista. Tomámos, também, como corpus a série de pinturas Cadernos, que questiona os limites da pintura e da literatura, criando uma imagem visual (chamar “cadernos” a pinturas, facto que remete para um pensamento projectivo) e um aparato mental (convocar o despojamento da escrita idolatrada) que promove a dificuldade de interpretação.Obra tantas vezes apelidada de “enigmática”, mas resiliente pelo seu poder sugestivo e compenetrado. Denota preocupações com uma totalidade processual: algo que se está sempre a fazer e refazer, uma obra em campo expandido e divergente (através, por exemplo, da repetição, do fragmento e da miniatura). Procedendo desta necessidade ética (a expressividade singular do artista autodidacta que contesta os poderes) de libertação e inconformismo, nasceu a vontade e importância de relacionar a produção artística de Álvaro Lapa com a curadoria e a arte contemporânea, prática que confere destino e sentido a uma determinada escolha de “objectos” ou intervenções.

Our objective with “Álvaro Lapa: um projecto de curadoria” is to consider the timelessness of Álvaro Lapa’s unfinished artistic production as one that establishes force fields and tensions, ever incomplete in its nonconformity of wanting to be the vital statement of another language, influenced by memories and idolatries, riddled with phrases which are metaphors for the rehabilitation of the world, a divided language: between abstract and figurative; between painting and literature.We followed the curator’s work closely, having participated in “Lendo, resolve-se: Álvaro Lapa e a literatura” (Culturgest, 2018) as case-study that highlighted how intertwined both artistic genres coexist (painting and literature) in the artist´s work. We chose Cadernos as corpus, a series of paintings that challenges the limits of painting and literature by creating a visual image (calling paintings “notebooks”, suggesting a form of projective thinking) and mental apparatus (stripping down idolized writing) that hampers interpretation.His work is often times considered “enigmatic” but resilient, given its suggestive and immersive power. It denotes some concern with procedural wholeness: something you keep making and remaking, a work in an expanded and diverging field (e.g., through repetition of fragment and miniature). From this ethical need (the unique expressiveness of the self-taught, power-opposing artist) of liberation and nonconformity comes the desire and importance of creating a link between Álvaro Lapa’s artistic work, curatorship and modern art, as a way of giving purpose and meaning to a certain choice of “objects” or interventions.