O Lugar das Relações de Gênero e da História das Mulheres na Formação Inicial das/os Professoras/es de História. Um estudo exploratório em quatro Instituições de Ensino Superior de Salvador da Bahia, Brasil.

Abstract

A presente tese de doutoramento investiga qual o lugar das Relações de Gênero e da História das Mulheres na formação inicial das/os professoras/es de História de quatro instituições de ensino superior (IES) de Salvador da Bahia, Brasil. Considerando que as relações de gênero envolvem uma complexa e ampla área de estudos, o foco desta investigação é analisar como estão sendo formadas/os as/os professoras/os de História, no que tange aos conhecimentos sobre a História das Mulheres e se estas formações foram desenvolvidas numa perspectiva de equidade de gênero, para lecionarem na educação básica. Deste modo, buscamos compreender como estas/es profissionais têm construído seus conhecimentos e reflexões críticas acerca das permanências históricas que promoveram e ainda mantém as desigualdades sociais entre mulheres e homens. No que concerne aos caminhos percorridos para a realização desse trabalho, foi feito inicialmente um enquadramento teórico, resultante da revisão da literatura, assim como uma investigação documental das políticas educativas em vigor que orientam a educação nacional, em especial a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017), do componente História. Diante do exposto, buscamos identificar como estas políticas se posicionam no que concerne às Relações de Gênero e à História das Mulheres. Como campo de pesquisa empírica estudamos instituições de ensino superior (IES), em concreto três universidades e um centro universitário, sediados na cidade de Salvador, na Bahia, Brasil. Utilizamos metodologia mista de investigação, com procedimentos qualitativos e quantitativos, distribuídos por fases distintas de trabalho, mas interdependentes entre si. Optamos por um desenho sequencial exploratório (Creswell, 2018), onde realizamos entrevistas e aplicamos questionários a três grupos distintos de participantes, tendo em vista cumprir objetivos diferentes, mas complementares, para dar resposta às nossas questões de investigação. Num primeiro momento,entrevistamos as/os coordenadoras/es dos cursos de História das IES colaboradoras: Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Estadual da Bahia (UNEB), Universidade Católica de Salvador (UCSAL) e Centro Universitário Jorge Amado (UNIJORGE). Com os resultados obtidos, elaboramos e aplicamos questionários às/aos professoras/es formadoras/es em História, como também às/aos estudantes finalistas dos mesmos cursos. Os estudos realizados indicaram que, ao longo das últimas décadas, muitas conquistas foram constatadas na educação básica, no que se refere à formação das/os professoras/es de História, assim como na luta por leis e políticas de combate às desigualdades entre mulheres e homens, onde podemos identificar a modernização e universalização da escolarização da população brasileira. No combate a diversos fatores como estes relatados anteriormente, as políticas educacionais têm incluído nos textos oficiais a diversidade cultural e a defesa dos direitos humanos (CF, 1988; LDB, 1996; BNCC, 2017), todavia há um grande desafio na efetivação desses direitos e conquistas para que de fato realizem mudanças efetivas nos comportamentos e valores da coletividade, pois a violência e as desigualdades de classe, raça, gênero e sexualidade, ainda oprimem pobres, negros, mulheres e população LGBTQIA+.Por conseguinte, o acesso aos cursos da licenciatura em História tem sido ampliado tanto na rede pública como na rede privada, entretanto a presente pesquisa nos revelou que não há um direcionamento curricular oficial, que mobilize as/os professoras/es para trabalharem as Relações de Gênero e a História das Mulheres de maneira sistemática e com prioridade. Com isso apenas docentes que tenham afinidades e conhecimentos específicos sobre a temática passam a incorporá-las nos conteúdos designados no ementário dos componentes curriculares. Importa, por isso, repensar o currículo de História e de outras áreas curriculares, para que o ensino superior cumpra a sua missão e prepare as gerações de futuras/os professoras/as para a promoção de uma visão real da sociedade, fomentando a consciência crítica e a reflexão das/dos estudantes em torno das desigualdades ainda persistentes, que importa debater e combater também através do conhecimento.

This doctoral thesis investigates the place of Gender Relations and Women's History in the initial training of History teachers at four higher education institutions (HEIs) in Salvador, Bahia, Brazil. Considering that gender relations involve a complex and broad area of studies, the focus of this investigation is to analyze how History teachers are being trained in terms of knowledge about the History of Women and whether these trainings were organized, in a perspective of gender equity, to teach in basic education. In this way, we seek to understand how these professionals have built their knowledge and critical reflections about the historical permanence that have promoted and still maintain social inequalities between women and men.Regarding the paths taken in the development of this work, a theoretical framework was made, resulting from the literature review, as well as an investigation of the educational policies in force that guide national education, in particular the National Curricular Common Base (BNCC, 2017) , from the History component. In view of the above, we seek to identify how these policies are positioned in what discerns Gender Relations and Women's History. To this end, we use a mixed research methodology, with qualitative and quantitative procedures, distributed across different stages of work, but interdependent with each other.As an empirical research field, we studied higher education institutions (HEIs), three universities and a university center, based in the city of Salvador, Bahia, Brazil. The field investigation stage was characterized as an exploratory sequential design (Creswell, 2018), where we conducted interviews and applied questionnaires to three different groups of participants, in order to fulfill different objectives.At first, we interviewed the coordinators of the History courses of the collaborating HEIs: Federal University of Bahia (UFBA), State University of Bahia (UNEB), Catholic University of Salvador (UCSAL) and Jorge Amado University Center (UNIJORGE). With the results obtained, we elaborated and applied questionnaires to the teachers/educators in History, as well as to the finalist students of the same courses.The studies carried out indicated that, over the last few decades, many achievements have been made in basic education with regard to the training of History teachers, as well as in the struggle for laws and policies to combat inequalities between women and men, where we can identify the modernization and universalization of schooling of the Brazilian population.In the fight against several factors such as those previously reported, educational policies have included cultural diversity and the defense of human rights in official texts (CF, 1988; LDB, 1996; BNCC, 2017), however, there is a great challenge in the realization of these rights and achievements so that they actually carry out effective changes in the behavior and values of the community, since violence and inequalities of class, race, gender and sexuality, still oppress the poor, blacks, women and the LGBTQIA+ population.Therefore, access to the degree courses in History has been expanded both in the public and in the private network, however the present research revealed to us that there is no official curricular direction, which mobilizes the teachers to work on the Relations of Gender and the History of Women in a systematic and prioritized way. As a result, only professors who have specific affinities and knowledge on the subject begin to incorporate them into the contents designated in the syllabus of the curricular components. It is therefore important to rethink the curricula of History and other curricular areas, so that higher education fulfills its mission and prepares the generations of future teachers for the promotion of a real vision of society, fostering critical awareness and the reflection of students about still persistent inequalities, that should be debated and combated also through knowledge.