Consideração de muitos - democracia ampliada e possibilidades de paz.

Abstract

Parte-se de uma apreciação breve do cenário recente na América Latina, onde a "maré rosa", termo usado para indicar os governos de esquerda e centro-esquerda que foram comuns em finais da década de 1990, cedeu lugar a outros de direita e extrema-direita. Considera-se que a linguagem associada às personalidades políticas ligadas aos governos atuais exprime um tipo de encompassamento e desejo de dominação que pode ser convenientemente associado ao "sobrevivente" de Canetti, bem como que derivou no incremento da micro-violência nas relações sociais cotidianas. Ainda nesse contexto, aprecia-se que aos governos anteriores correspondeu um esforço de promoção de "cidadania inclusiva", o qual esteve, contudo, ligado a definições sobre identidades sociais definidas externamente. Apresenta-se alguns aspectos ligados ao sucesso democrático irlandês, enfatizando que a incorporação do conceito de "vozinhas", oriundo do contexto brasileiro da segunda metade da década de 2010, pode ser útil, tanto para entendê-lo como para refletir sobre possibilidades de exercícios dos sujeitos, múltiplos, nos cenários e construções, abertos, associados à ordem do vivido. Recorre-se a alguns autores consagrados que sustentam leituras ampliadas de democracia como forma contrastante a dimensões autoritárias e de poder, inclusive ao necessariamente envolver possibilidades inusitadas que emergem de exercícios imprevistos dos sujeitos múltiplos nas perenemente construídas cenas comuns.