A imersão na paisagem: o cinema da ausência de Patricio Guzmán

Abstract

Neste trabalho pretendo apontar para a forma particular com que o cineasta Patricio Guzmán evoca a memória do trauma da ditadura chilena em seu documentário O Botão de Nácar (2015), filme central da trilogia que começa com Nostalgia da Luz (2010) e termina com A Cordilheira dos Sonhos (2019), mostrando como o seu cinema foi encontrando cada vez mais estratégias estéticas e narrativas para “filmar o que não se vê”, como sugere o título de um de seus livros. Entre essas estratégias está a imersão na paisagem, o que gera a pergunta que norteia essa investigação: pode a experiência estética da imersão na paisagem fílmica contribuir ativamente na reconstrução da memória? E ainda, quais os dispositivos narrativos e qual modo de representação emprega o diretor em seu filme, cujo tema central é a ausência?

In this paper, I intend to point out the particular way in which the filmmaker Patricio Guzmán evokes the memory of the trauma of the Chilean dicta- torship in his documentary The Pearl Button (2015), the central film of the trilogy that begins with Nostalgia for the Light (2010) and ends with The Cordillera of Dreams (2019). In this way, I explore how his cinema increasingly found aesthetic and narrative strategies to picture the unseen, as one of his books’ titles suggests. Among these strategies, is the immersion in the landscape, which leads to the gui- ding question of this research: can the aesthetic experience of immersion in the cinematic landscape actively contribute to memory reconstruction? Moreover, which narrative devices and mode of representation does the director use in his film, where absence is the central theme?