O impacto da pandemia COVID-19 nos indicadores de saúde infantil em Portugal

Abstract

Introduction: In Portugal, children’s health surveillance is assured mostly by primary health care. The new coronavirus disease (COVID-19) was declared a pandemic by World Health Organization on 11th March 2020 and is one of the most challenging public health crises. The overload of the health systems and the need for measures of reallocation of resources affected different sectors, including the primary health care and the surveillance of children’s health. The aim of this study was to evaluate this impact, using indicators of health from the public access Portuguese platform “Bilhete de Identidade dos Cuidados de Saúde Primários” – Primary Health Care ID.Material and Methods: Cross-sectional observational study, using 21 indicators of children’s health. For each indicator, I collected the data referring to the five Regional Health Administrations (ARS) in Portugal (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo and Algarve), for the years 2018, 2019, 2020 and 2021, after selecting the fluctuating period, the month of December and the Family Health Units Type A (USF-A), Type B (USF-B) and Personalized Health Care Unit. I then did descriptive and inferential statistical analysis, using the non-parametric test Kruskal-Wallis, to compare the evolution of the 21 indicators during the four years, in each ARS and type of care.Results: There was a general reduction in the proportions of two-year-old children with “at least three surveillance medical appointments” (indicator 17) and with “adequate follow-up in the children’s health area” (indicator 60). The average number of health surveillance nursing appointments during the second year of life (indicator 112) increased in 2020 and 2021, but during the first year of life (indicator 122) it decreased in 2021. There was an increase in the proportion of six-year-old children without dental cavities (indicator 61). In the USF-B, there was also a reduction of the proportions of one-year-old children with at least six surveillance medical appointments (indicator 16) and of 14-year-old teenagers with “registered weight and height” (indicator 32) and with “a surveillance medical appointment and a fully completed vaccination program” (indicator 64). In the Algarve ARS and USF-A, there were no statistically significant differences. Discussion: The COVID-19 pandemic had both positive and negative effects: there was not only an increased awareness of the population for health and the importance of vaccination, but also a decrease and postponement of outpatient consultations. We should take into consideration the confinement period in 2020 and the start of the Vaccination Campaign Against COVID-19 in 2021. It is essential to clarify the reasons behind the differences found between the different regions of the country and types of care.Conclusion: The impact of the pandemic was considered statistically significant in only eight indicators. More studies are needed to identify problems and develop strategies that maintain the provision of health care and children surveillance in the future.

Introdução: A vigilância da saúde infantil e a aplicação do Programa Nacional de Vacinação (PNV) em Portugal é maioritariamente assegurada pelos cuidados de saúde primários. A doença pelo coronavírus 2019 (COVID-19) foi decretada uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde a 11 de março de 2020 e constitui uma das mais desafiantes crises de saúde pública do último século. A sobrecarga dos sistemas de saúde e a necessidade de implementação de medidas de realocação de recursos afetou vários setores, incluindo os cuidados de saúde primários e as consultas de vigilância de saúde infantil e juvenil. Este estudo teve como objetivo avaliar este impacto, através de indicadores de saúde, disponíveis na plataforma de acesso público “Bilhete de Identidade dos Cuidados de Saúde Primários”. Materiais e Métodos: Estudo observacional transversal de 21 indicadores de saúde infantil e juvenil. Para cada indicador, colhi os dados referentes às Administrações Regionais de Saúde (ARS) Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo (LVT), Alentejo, Algarve e ao total nacional, para os anos 2018, 2019, 2020 e 2021, após selecionar o período flutuante, o mês de dezembro e as Unidades de Saúde Familiar tipo A (USF-A), tipo B (USF-B) e Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados. Realizei análise estatística descritiva e inferencial, utilizando o teste não paramétrico Kruskal-Wallis, para comparar a evolução dos indicadores ao longo dos quatro anos, consoante a ARS e a tipologia de cuidados. Resultados: Houve uma diminuição global das proporções de crianças no 2.º ano de vida com “pelo menos 3 consultas médicas de vigilância de saúde infantil” (indicador 17) e com “acompanhamento adequado na área de saúde infantil” (indicador 60). O número médio de consultas de enfermagem de vigilância de saúde infantil no 2.º ano de vida (indicador 112) aumentou, mas no 1.º ano de vida (indicador 122) diminuiu em 2021. Aumentou a proporção de crianças com 6 anos livres de cárie dentária (indicador 61). As USF-B apresentaram adicionalmente redução das proporções de crianças no 1.º ano de vida com pelo menos 6 consultas médicas (indicador 16) e de jovens com 14 anos com “peso e altura registados” (indicador 32) e com “consulta médica de vigilância e PNV totalmente cumprido” (indicador 64). A ARS Algarve e as USF-A não apresentaram diferenças estatisticamente significativas. Discussão: A pandemia COVID-19 teve efeitos positivos e negativos, incluindo uma maior sensibilização da população para a saúde e para a vacinação, mas também uma diminuição do número de consultas médicas de vigilância realizadas. Deve ser tido em consideração o período de confinamento em 2020 e o início da Campanha de Vacinação Contra a COVID-19 em 2021. É fundamental esclarecer os motivos por detrás das assimetrias encontradas entre as diferentes regiões do país e tipologias de cuidados. Conclusão: O impacto da pandemia COVID-19 foi considerado estatisticamente significativo em apenas oito dos 21 indicadores estudados. São necessários mais estudos para identificar problemas e desenvolver estratégias que assegurem a prestação de cuidados de saúde e vigilância infantil e juvenil no futuro.