Medicina Preventiva: atitudes em diferentes especialidades médicas - Estudo transversal.

Abstract

Introdução: A Medicina Preventiva compreende a aplicação de uma série de atitudes médicas que preveem evitar o surgimento de doença e da morbilidade/mortalidade associadas não só ao decurso natural expetável da mesma, mas também ao excesso de diagnóstico e tratamento, abrangendo as várias vertentes da prevenção, desde primária a quaternária. A sua aplicação antevê a aplicação de uma série de medidas e atitudes, sendo o recurso às mesmas dependente do conhecimento científico e experiência clínica do profissional, bem como das expetativas do doente. Apesar da existência de estudos prévios que investigam o conhecimento de médicos de família na aplicação de atitudes preventivas, a aplicação destas por médicos das demais especialidades permanece pouco estudado.Objetivos: Determinar as atitudes dos profissionais de saúde de várias especialidades perante um doente assintomático e sem fatores de risco e determinar a sua concordância face à evidência científica atualizada. Verificar se fatores demográficos e profissionais, nomeadamente especialidade, experiência e tipo de serviço em que exercem funções, influenciam os resultados obtidos. Metodologia: Trata-se de um estudo transversal. Foi aplicado um questionário composto por 27 questões dicotómicas e 6 de resposta curta, incidindo sobre a aplicação e regularidade de diversas atitudes preventivas para um paciente assintomático. Foi atribuída uma pontuação, consoante as respostas fornecidas neste questionário e a concordância com as recomendações da USPSTF e ADA, que poderia alcançar um máximo de 31 pontos. Recorrendo a análise estatística bivariada e multivariada, definiu-se a influência das variáveis demográficas e profissionais nesta pontuação.Resultados: Foram inquiridos 294 médicos portugueses, com uma média de idades de 43,14 ± 13,75 anos. Destes, 136 tinham como especialidade Medicina Geral e Familiar (MGF). Foi observado um desempenho médio de 23,43 ± 3,35 pontos no questionário, traduzindo uma concordância média, pelos profissionais inquiridos, de 75,58% face às recomendações consideradas, tendo os profissionais formados/formandos de MGF alcançado pontuações médias 3,87 pontos superiores aos demais profissionais (p<0,001). Foi determinada uma percentagem de respostas corretas superior a 90% em 16 das questões colocadas. Há, no entanto, temáticas com uso exagerado de métodos de rastreio, nomeadamente no que toca ao rastreio do cancro da próstata, da tiróide, da DPOC, de fatores de risco cardiovascular através de ECG e de diabetes/pré-diabetes em doentes com excesso de peso. Encontraram-se, também, resultados inferiores a 50% no que toca à realização dos rastreios de Clamídea e Gonorreia, Hepatite C e HIV. Determinou-se que as variáveis “Idade” e “Especialidade (MGF vs Outra)” influenciaram, de modo independente e estatisticamente significativo, em análise multivariada, a concordância do médico face às recomendações consideradas.Conclusões: Os médicos portugueses revelam uma concordância elevada com as recomendações consideradas para as atividades preventivas. Os profissionais mais velhos e de especialidades que não MGF apresentaram pontuações médias significativamente inferiores.

Introduction: Preventive Medicine encompasses the application of a series of medical procedures aimed at preventing the onset of disease and the associated morbidity/mortality, not only related to the expected natural course of the disease, but also from excessive diagnosis and treatment, covering various aspects of prevention from primary to quaternary. Its application involves the implementation of a series of measures and attitudes, with their use depending on the scientific knowledge and clinical experience of the professional, as well as the patient's expectations. Despite previous studies investigating the knowledge of general practitioners regarding the application of preventive measures, the application of these measures by physicians in other specialties remains poorly studied.Objectives: Determine the attitudes of healthcare professionals from various specialties towards an asymptomatic patient without risk factors, and to assess their accordance with current scientific evidence. Investigate whether demographic and professional factors, such as specialty, experience, and type of service in which they work, influence the obtained results.Methodology: This is a cross-sectional study. A questionnaire consisting of 27 dichotomous questions and 6 short-answer questions was administered, focusing on the application and regularity of various preventive measures for an asymptomatic patient. A score was assigned based on the responses to this questionnaire and agreement with the recommendations of the USPSTF and ADA, with an achievable maximum score of 31 points. Bivariate and multivariate statistical analysis was used to determine the influence of demographic and professional variables on this score.Results: A total of 294 Portuguese physicians were surveyed, with a mean age of 43,14 ± 13,75 years. Of these, 136 were General Practitioners. The questionnaire showed an average performance of 23,43 ± 3,35 points, indicating an average agreement of 75,58% among the surveyed professionals regarding the considered recommendations. General Practitioners scored an average 3,87 points higher than other professionals (p<0.001). Correct response rates above 90% were found for 16 of the questions. However, there were areas with excessive use of screening methods, particularly regarding screening for prostate cancer, thyroid disease, COPD, cardiovascular risk factors using ECG, and diabetes/pre-diabetes in overweight patients. Results below 50% were also found for screenings of Chlamydia and Gonorrhea, Hepatitis C, and HIV. The variables "Age" and "Specialty (General Practice vs. Other)" were determined to independently and statistically significantly influence the physicians' accordance with the considered recommendations in multivariate analysis.Conclusions: Portuguese physicians demonstrate a high level of accordance with the considered recommendations for preventive activities. Older professionals and those from non-General Practice specialties had significantly lower average scores.